A adoção de uma política nacional de acompanhamento das manifestações é mais do que urgente, pois algumas situações já estão fugindo do controle.
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O recrudescimento das manifestações de rua no país levou o governo federal a firmar um protocolo de intenções com as polícias militares estaduais para evitar a repressão violenta e o uso de armas letais contra manifestantes. Esta providência oportuna, somada ao espancamento por populares de um suposto integrante do movimento Black Bloc em São Paulo, dimensiona o grau de preocupação das autoridades e da sociedade em relação ao momento vivido pelo país.
Na antevéspera da Copa e das eleições presidenciais, o Brasil caminha numa verdadeira corda bamba entre uma conquista democrática valiosa, que é a liberdade de manifestação, e a necessidade de manutenção da ordem pública, que também é um pressuposto da democracia. Depois que a PM paulista baleou um jovem que participava de protesto contra a Copa, num episódio que ainda está sendo investigado, o governo federal decidiu assumir o protagonismo da negociação. Até então, o Planalto mantinha-se praticamente omisso, temendo prejuízos políticos no ano eleitoral.
A adoção de uma política nacional de acompanhamento das manifestações é mais do que urgente, pois algumas situações já estão fugindo do controle. Foi o que aconteceu, por exemplo, num evento realizado no último sábado, também em São Paulo, quando o público de um show musical ao ar livre identificou um integrante do movimento Black Bloc e o expulsou a pancadas. O jovem só não foi linchado por interferência de agentes de segurança do espetáculo.
Será um desastre para a imagem do país e para a segurança interna se os protestos se transformarem em brigas entre seus protagonistas e aqueles que discordam das manifestações. Como disse há poucos dias o ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, o Estado tem que fazer respeitar a ordem pública. Mas não tem o direito de utilizar a representação (e as armas) que os cidadãos lhe concederam para agredir manifestantes – a não ser em casos muito específicos, como a legítima defesa e a proteção da vida de terceiros. As manifestações provocam sentimentos difusos entre os brasileiros.
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Muitas pessoas aplaudiram o espancamento do black bloc, divulgado em vídeo na tevê e na internet. Também não são poucos os que consideram legítimo o uso de arma de fogo por policiais na repressão ao vandalismo. Mas uma grande parcela da população também se sente representada nos protestos contra maus serviços públicos, contra a corrupção e contra gastos excessivos nas obras da Copa. Pois é esta multiplicidade de visões que precisa ser bem administrada pelos governantes, pelas lideranças políticas e pelas autoridades policiais, para que o país consiga atravessar este delicado momento sem retrocessos democráticos.