Quando a Sociedade Lírica nasceu, em junho de 1922, Joinville ainda tinha uma população que mantinha suas conversas e produzia arte predominantemente em alemão. Na sociedade, fundada por 16 pessoas cujas nacionalidades ou descendências eram da Alemanha, as programações respeitavam integralmente o dialeto e cumpriam o objetivo de cultivar a arte de cantar em grupos — tanto que seu nome original era Gesangverein Liederkranz, que significa sociedade de cantores.

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Ainda hoje, as músicas cantadas no coral são, em sua maioria, do folclore alemão — ainda que, atualmente, o repertório também esteja recebendo músicas mais modernas tocadas no país europeu. É uma forma de seus integrantes mais antigos manterem o contato com as tradições e de garantir a continuidade do grupo com o ingresso de coristas mais jovens.

Helmuth Arntz

Helmuth Arntz, 71 anos, tinha seis anos quando entrou no coral da Lírica. Apesar de ter pausado a participação para dar atenção aos estudos e à carreira na juventude, ele retornou na década de 1970 e permanece até hoje. Para ele, que acompanhou boa parte da história da Sociedade, a música ajudou muitas pessoas a desenvolverem o dialeto.

— A nossa participação é pelo idioma e também pela cultura, porque a cultura germânica é muito rica em valores. Amizade, harmonia, disciplina, honestidade e correção. Já estávamos familiarizados a esses valores em casa. Aqui na Lírica só fomos seguindo o mesmo caminho e estamos aqui para preservar isso – enfatiza.

Ernst Adolf Mohr

O alemão Ernst Adolf Mohr, 78 anos, deixou a Alemanha aos 11 anos para viver no Brasil. Apesar das recordações tristes da infância, ele não quis perder os laços com a língua materna e, por isso, passou a integrar o coral. Assim, relembra o idioma falado na infância a partir das canções.

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— Eu nasci na década da 2ª Guerra Mundial. Nós tínhamos de enfrentar filas às 2 horas da manhã para pegar alguns quilos de comida – recorda ele, que ainda mantém contato com parentes e conhecidos da Alemanha e passa a maior parte do tempo consumindo conteúdo em alemão. Ernst defende a conservação da tradição.

— Eu gostaria que tivesse ainda mais incentivo – diz.

Osvaldo Hinsching

O presidente da Sociedade Lírica Osvaldo Hinsching, falava alemão até a adolescência, mas perdeu o convívio com o tempo. Quando passou a compor os grupos folclóricos da Lírica, em 1989, Osvaldo naturalmente reaprendeu o idioma.

— Na partitura. você vê escrito, mas você tem que saber o que é. Quando vamos cantar, eu não sei fazer diferente a não ser expressar o que estou cantando. Eu gosto de mostrar ao público o que eu sinto – descreve.

Marli Hermann

Marli Hermann de 70 anos é uma das integrantes que atua há mais tempo no coral. Ela participou do coro infantil e saiu aos 20 anos, período em que casou e constituiu família. Depois disso, na década de 1990, dona Marli retornou às atividades musicais no idioma.

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— Eu era menina, estava na quarta série do primário quando comecei. O local nem era aqui ainda, porque não tínhamos uma sede. À época, uma senhora dava aulas de alemão, dança e teatro – detalha.

O gosto pela cultura e pelo idioma perdurou durante toda a vida, e a fluência a ajudou a se comunicar em outros lugares do mundo.

— Eu fui à Paris e precisava de auxílio para me localizar. Olhei para uma mulher próxima de mim e pensei “aquela ali tem cara de quem fala alemão”. E realmente falava. Ou seja, lá longe, eu consegui me comunicar utilizando o idioma que eu aprendi de pequena. Se eu falasse somente o português, eu não teria conseguido – relembra.

Amábile Priscila Voss

Além de adultos, a Sociedade também recebe crianças em suas atividades. Algumas delas, como é o caso da Amábile Priscila Voss, de nove anos, passaram a se interessar mais em aprofundar os conhecimentos da expressão a partir das letras das canções.

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— Desde os três anos eu acompanhava meus pais no coral que eles cantam. Agora, além de cantar com eles, estou aqui na Lírica há um ano – fala.

A origem alemã da família já era um indício de que Amábile poderia se interessar pela cultura.

— Minha oma é alemã, por isso me interessei. Quando eu crescer, quero ser cantora, e quero cantar em alemão aqui no Brasil e fora – propõe a menina.

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