Nem abri os olhos. Ainda em estado de semi-consciência ouvi o barulho do vento forte batendo na janela do meu quarto e escutei o som ameaçador dos trovões. Ah não, frio com vento e chuva, não! Que vontade de passar o dia na cama! Amo inverno, mas aqueles dias de frio com um solzinho agradável, quando se pode passear e aquecer o corpo e a alma. Mandei a preguiça embora e levantei, direto para o banho _ outro ato de coragem nos meses de frio para quem mora no Sul no Brasil. Um café quentinho e rua. A vida precisa seguir em frente, independente dos humores do clima.

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No primeiro semáforo, um adolescente se aproxima do meu carro, vestindo calções, uma sandália de dedos e uma camiseta sem mangas:

_ Tia, me dá um troquinho para tomar um café?

Chovia, ventava e fazia um frio danado.

Me virei ligeiro para o banco de trás do carro e peguei uma grande sacola de lona. Eram roupas que estava levando para depositar na caixa da campanha do agasalho do jornal. Tinha jaqueta, sapatos, manta, calça de moletom. Dei tudo ao garoto e disse:

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_ Só espero que você não troque por droga. Ele jurou que não.

Dois dias depois, continuava muito frio. Encontrei com ele no mesmo lugar. Desta vez, abaixo o vidro e uma felicidade muito grande me invade. Ele está vestido com as roupas que eu dei, da cabeça aos pés.

_ Tia, tá vendo? Agora eu só preciso de dois reais para o café da manhã.

Acenei e fui embora com o meu coração um pouco mais aquecido.