É no compasso ritmado de sua música que todo o bloco se mexe. As baterias de Carnaval, mais que um grupo musical qualquer, ditam a batida dos movimentos de todos os integrantes dos desfiles, inspirando e energizando os carnavalescos que passam, em Jaraguá do Sul, 45 minutos na avenida. Surdos, caixas, chocalhos, tamborim e repique formam, em conjunto, a sonoridade que marca a folia, no tradicional batuque do Carnaval. Indicada como o coração dos blocos, é ela, a bateria, que faz pulsar toda uma escola de samba.
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O mestre de bateria da Em Cima da Hora, Jean Boca, explica que na festa jaraguaense as baterias são recentes. É isso o que faz com que, a cada ano, os condutores dessa ala precisem não apenas ensaiar o samba enredo, mas também ensinar aos integrantes sobre os fundamentos da teoria musical e sobre cada instrumento, já que grande parte dos membros da bateria são apresentados aos surdos, caixas e chocalhos apenas na época da festa. Na escola são 30 membros, boa parte deles sem conhecimentos musicais prévios.
– O desafio é deixá-los musicais, e não apenas ritmistas – define o diretor de bateria da mesma escola, Sidnei Luiz da Cruz Júnior.
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Jorge é mestre de bateria da Despertar do Amanhã
Para eles, o tempo de ensaios é um gargalo constante. O mestre de bateria da Despertar do Amanhã, Jorge Murilo Rosa, concorda e acrescenta: com as poucas semanas de treino, as baterias fazem mágica para chegar à avenida com o resultado que apresentam. Dos 40 componentes da ala deste bloco, 90% deles foram introduzidos à música apenas no primeiro ensaio, em janeiro. Ritmo, afinação, tempo e compasso são parte dos aprendizados repassados ao grupo, que tem integrantes dos 14 aos 60 anos.
Porém, não é só de teoria que se faz um Carnaval. Jean Boca acrescenta que é necessária concentração. Na avenida, o desafio é manter o foco no ritmo e acompanhar sem erros os cantores e músicos que fazem a harmonia, com violão e cavaco. Resistência é outro dos atributos necessários, já que caminhar e batucar por 45 minutos exige energia extra. Mas Jean Boca garante:
– Cansa por toda a energia do desfile, mas a gente só sente depois.

Sidnei trabalha com a Verde Rosa
Evolução profissional
– Só se entende o Carnaval estando no meio dele – resume Jean Boca.
Para aqueles que acompanham de perto cada etapa do preparo dos desfiles, valorizar o intenso trabalho dos membros de cada setor é fundamental. Mais que isso, profissionalizar cada vez mais as tarefas é uma forma de elevar o Carnaval a uma festa respeitada, não apenas pela folia em si, mas pelo trabalho desenvolvido. Os ensinamentos passados aos membros da bateria são mais uma parte dessa tarefa.
Para Jean Boca, porém, a competitividade acirrada entre as escolas é prejudicial ao desenvolvimento do Carnaval como um todo. Sem parcerias e trocas de experiências, cada bloco sai perdendo. Alguns integrantes, entretanto, já tentam romper essa dificuldade.
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O diretor de bateria da Em Cima da Hora, Sidnei Luiz da Cruz Júnior, é filho do mestre de bateria da Verde Rosa, Sidnei Luiz da Cruz – cujo grupo conta neste ano com 21 integrantes, a maioria também estreando no mundo musical. Entre os dois há troca de ajudas e pequenos favores, como afinação de instrumentos.
– Nessa hora temos que nos ajudar, pois é pelo amor ao Carnaval – resume Júnior.