Depois de 20 meses e 20 dias, o juro básico volta ao patamar de dois dígitos a partir desta quinta-feira. A decisão de elevar de 9,5% para 10% a taxa Selic, tomada há pouco pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deixa para trás uma das principais ofensivas do governo Dilma Rousseff, o juro baixo.
Continua depois da publicidade
Desde maio, o Banco Central mantém o ritmo de aumento de 0,5 ponto percentual a cada reunião do comitê. Uma das análises dos economistas é a de que o governo quer evitar grandes elevações de juro no próximo ano, quando Dilma disputa a reeleição. Na média das previsões do mercado, a projeção para 2014 é de um aumento modesto do juro, para 10,5% até o final do ano.
Na justificativa apresentada em vários comunicados anteriores , o BC repetia que “essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”. Na que acompanhou a informação de alta, nesta quarta-feira, esse trecho não voltou a ser mencionado, o que era uma expectativa do mercado, porque apontaria para uma possível redução no ritmo de alta da taxa ao longo de 2014.
Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, a decisão do BC por um aumento do juro para dois dígitos é determinada pela manutenção das expectativas de inflação em patamar acima do centro da meta de 4,5% e pelo risco gerado pela desvalorização do câmbio. Sem a elevação do juro, avalia Rostagno, “o rompimento do teto da meta será apenas questão de tempo”. Professor de economia da Universidade Mackenzie, Pedro Raffy Vartania destaca que mudanças na política monetária dos EUA impactarão o mercado de câmbio e resultarão em volatilidade no cenário internacional, o que pode exigir maior elevação da taxa em 2014.
Em agosto de 2011, BC havia iniciado um processo de redução dos juros que surpreendeu o mercado, principalmente por conta da inflação, que estava alta e fechou o ano em 6,5%, limite máximo da meta perseguida pela instituição. A partir daí, o objetivo foi levar a taxa para o menor nível da história do Copom, o que ocorreu em outubro de 2012, quando a Selic chegou a 7,25% ao ano.
Continua depois da publicidade
Naquele ano, a presidente chegou a dizer que os juros haviam alcançado patamar “mais civilizado” e que, graças ao “compromisso com a solidez das contas públicas”, o governo havia criado “ambiente para que a taxa de juros caísse”. Também começou a pressão para que os bancos reduzissem as taxas cobradas de seus clientes, junto com a política de usar as instituições públicas para diminuir o custo do crédito.
Apesar do juro menor, o crescimento econômico continuou abaixo das previsões oficiais. Ao mesmo tempo, a inflação seguiu elevada e estourou o limite da meta no primeiro trimestre de 2013. Em março, o BC já sinalizava que voltaria a elevar o juro. Após a ação do BC, a inflação em 12 meses recuou, mas as previsões do mercado são de que voltará a subir em 2014.