Nossa Grande Florianópolis não é mais aquele lugar pacato com seus vilarejos onde o vizinho mal falado era aquele que roubava galinhas no quintal do outro. Infelizmente o crescimento demasiado, que às vezes também é chamado de evolução, trouxe a tona as necessidades e com elas as atrocidades. Minha foto, por exemplo, foi registrada na comunidade mais empobrecida do Estado, a Frei Damião.

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Desde que foi criada em 1980, aquele lugar que tem como característica principal a imigração, não pertencia a São José, e muito a Palhoça. Isso fez com que a miséria fosse o carro chefe do lugar. A falta de assistências básicas, como luz e água, foi fazendo com que evidentemente a Frei ficasse aquém de um lugar gerador de oportunidades. É claro que não estou generalizando e dizendo que não existem bons líderes, ou pessoas que evoluíram, estudaram, e cresceram. Mas o descaso principalmente do poder público propiciou o crescimento da violência no lugar.

Ociosidade juvenil

É bem sabido por nós desde os primórdios que cabeças vazias são oficinas do demônio, como diz o ditado antigo. Hoje em dia então, os jovens que estão nas comunidades têm poucos projetos que ocupem seu tempo ocioso e que os preparem para o mercado de trabalho e vida adulta. Na Chico Mendes, por exemplo, tem duas creches atendendo metade das crianças que necessitam do uso dos serviços.

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O que isso significa? Que as mães estão desempregadas sem terem onde deixar seus filhos e que eles estão crescendo sem dar os primeiros passos na educação. Essa falta de incentivo dentro das nossas quebradas resultam nos tristes episódios que temos acompanhado diariamente nos noticiários de televisão, jornais, sites e por aí vai: trocas de tiros entre jovens que poderiam ser irmãos.

Na boa, não precisa ser nenhum expert em segurança, líder comunitário ou educador social pra saber que o que falta dentro desses lugares é uma boa sacudida cultural.

União em prol dos nossos

Há quem diga que a solução é partir para um confronto armado contra o crime organizado. Ou seja, isso seria uma questão de segurança, certo? Com a vivência que tenho dentro das nossas favelas, guetos, vielas, vilas e morros, acredito que o que deveria rolar era uma união entre diversas pastas. Imaginem o belo programa que pode ser feito se segurança, assistência social, educação e cultura se unirem em prol das evoluções dos jovens periféricos. Ao contrário disso, continuamos acompanhando promessas de que mais respostas hostis serão dadas contra os grupos armados que lideram o tráfico na Grande Florianópolis.

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Acredito que o combate contra os que já estão inseridos nesta estrutura de crime organizado lamentavelmente seria a resposta mais rápida, mas minha luta e minha provocação são para que salvemos nossas crianças. É necessário implantar a esperança nas cabecinhas dos que tem 11 ou 12 anos. É preciso entrar nas favelas com esperança e com o compromisso de torna-las dignas e fazer com que nós, moradores destes lugares, tenhamos a certeza de que fazemos parte de uma sociedade igualitária.

Sonhos e pesadelos

Não consigo enumerar os garotos que conheci nas comunidades que guardavam pra si o sonho de ser jogador de futebol, médico, engenheiro,policial, cantor, etc. Sonhos esses que foram interrompidos pelo deflagrar de um projétil de grosso calibre. É fato, meus queridos, que me sinto impotente diante de tanta violência que enfrentamos. E se eu pudesse realizar o meu sonho,a paz estaria imperando dentro dos nossos guetos e jamais teríamos seres humanos em desenvolvimento destruindo corações de mães, fazendo sofrer aqueles que um dia quiseram apenas crescer e evoluir com dignidade.

Estou cansado deperder os meus, estes meus que deveriam ser nossos, de toda uma sociedade, masque só são notados quando chegam no asfalto. Vamos substituir o medo dos dias atuais por confiança num futuro promissor? E aí, Senhor governador, que tal?

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