Casas em estilo enxaimel, danças folclóricas e clubes de caça e tiro são faces conhecidas das regiões colonizadas pelos alemães. A cultura de origem germânica colocou o Vale do Itajaí em um patamar reconhecido internacionalmente. O desafio é fazer com que cada vez mais as novas gerações tenham interesse em aprender o idioma e conhecer o universo de possibilidades que ele pode oferecer.
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Em Blumenau, todas as semanas, ao menos 6,2 mil crianças se sentam nos bancos escolares da rede pública municipal para aprender a língua alemã. As palavras rot, grün, blau, gelb podem ser desconhecidas para muitos, mas fazem parte da rotina de uma turma de alunos do período pré-escolar da Escola Municipal Erich Klabunde, no Distrito da Vila Itoupava. Eles têm duas aulas por semana destinadas ao idioma que muitos de seus pais e avós falam, e que ainda é um universo a ser desbravado para os pequenos.
A diretora Adriane Sasse Eichstadt conta que uma parcela dos estudantes até compreende pela vivência que têm casa, mas não têm domínio, por isso a importância de fortalecer o ensino do alemão. O trabalho da unidade é tão forte que muitas famílias buscam o colégio para possibilitar a inserção da criança nessa temática, onde uma simples brincadeira de ludo ensina o idioma materno mais falado na União Europeia, um dos principais blocos econômicos do mundo.
Fortalecer a oralidade e a escrita é uma preocupação das embaixadas da Alemanha, Áustria, Bélgica, Luxemburgo e Suíça (países que têm o alemão como língua oficial) por aqui. Dessa necessidade de fomento surgiu a Semana da Língua Alemã. O evento chega à terceira edição no Brasil e somente em Blumenau conta com 50 ações. Algumas delas iniciaram na sexta-feira e diversas seguem até o próximo domingo (veja detalhes na tabela), fruto do empenho coletivo de diversas instituições públicas e privadas.
– A iniciativa vai ao encontro do trabalho desenvolvido pela prefeitura, com o acervo em alemão, contações de histórias bilíngues e o próprio Centro Cultural da Vila Itoupava, onde o idioma é muito presente – afirma o presidente da Fundação Cultural de Blumenau, Rodrigo Ramos.
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O cônsul honorário da Alemanha na cidade, Hans Dieter Didjurgeit, defende que esta é uma oportunidade para conhecer melhor a importância da língua alemã, principalmente nos aspectos de estudar na Alemanha e buscar boas oportunidades no mercado de trabalho, tanto na Europa quanto por aqui. O cônsul honorário da Áustria no município, Mauro Kirsten, aponta, por exemplo, as inúmeras empresas de origem germânica e austríaca presentes na região, que demandam profissionais que dominam o idioma, bem como os caminhos para acessar escolas e universidades dos referidos países.
PROGRAMAÇÃO
Confira abaixo algumas das atrações da Semana de Língua Alemã. Todas as atividades previstas estão disponíveis no site do evento, basta selecionar a cidade de Blumenau para conferir as ações que acontecerão na cidade:
Hoje
18h30min: Palestra Goethe: O poeta e sua época. Palestrante: Dimas da Cruz Oliveira
Local: Bloco T – Campus 1 da Furb
19h: CineArte Especial – Festival de Cinema Austríaco. Filme: Egon Schiele – Tod und Mädchen.
Local: Fundação Cultural de Blumenau
19h – Der österreichische Abend (Noite Austríaca). Conheça Viena e seus encantos!
Local: Instituto Cultural Brasil Alemanha
Amanhã
19h: Roda de conversa em alemão. Contos e Encontros, einem Kaffe mit Freuden
Local: Biblioteca Municipal Dr. Fritz Müller
19h – Deutscher Filmabend: Comédia alemã para a comunidade. Wer früher stirbt ist länger tot
Local: Centro Cultural 25 de Julho
Quinta-feira
19h: Mini Deutschstunde: Aula demonstrativa em alemão
Local: Centro Cultural 25 de Julho
19h: Mostra de Cinema Alemão: Havana – Die neue Kunst Ruinen zu bauen – Documentário
Local: Furb
Sexta-feira
19h: Mostra de Cinema Alemão: Cerveja Falada – Documentário e Sem palavras – Documentário
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Local: Furb
Domingo
16h: Cerimônia de encerramento da Semana da Língua Alemã
Local: Museu dos Clubes de Caça e Tiro, na Itoupava Central
Idioma é chave para novos desafios no Brasil e no exterior
Bruno Krueger Franco, 32 anos, vive em Wolfsburg há oito meses. O processo para chegar onde está atualmente e que sempre foi um sonho começou cedo. Aos 16 anos, o blumenauense iniciou os estudos do alemão e concluiu que trabalhar em uma empresa da Alemanha era o caminho para conhecer e morar no país tão admirado desde a infância. Em 2014 ele conseguiu. Entrou para uma empresa de tecnologia da informação que tem 600 funcionários somente em Blumenau, dos quais 400 falam o idioma.
– Cada aula era um desafio. Não é um idioma fácil. Como minha mãe fala alemão, sempre pedia umas dicas para ela. No trabalho também tirava dúvidas com os colegas. Como na época nosso cliente era alemão e toda a comunicação era em alemão, tive que me dedicar bastante – conta Franco.
Tanto esforço lhe rendeu a desejada ida à Alemanha. Primeiro por meio de uma bolsa de estudos de um mês e depois para trabalhar na empresa com que mantinha relação durante a atuação no Brasil, onde juntas atendiam o mesmo cliente. O engenheiro de telecomunicações avalia que não viveria onde está hoje sem os conhecimentos de alemão que adquiriu.
Ele se enquadra em um perfil traçado pela diretora do Instituto Cultural Brasil Alemanha, Eva Ruth Maier. Para ela, cada vez mais a busca pelo idioma está ligada a questões profissionais. Franco inclusive estudou na instituição e foi nela que conquistou a bolsa de estudos no Instituto Goethe, responsável por difundir a língua alemã e promover a cooperação cultural entre diferentes países.
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– Aprender o alemão é o diferencial. Quem quer ir além sabe dessa necessidade, pois é uma língua muito forte na União Europeia – afirma Eva.
Marcelo Odebrecht, 40 anos, compreende o apontamento feito por Eva. Ele entrou há seis anos e meio em uma multinacional da área de TI. Chegou para um projeto que atendia um cliente alemão, mas o idioma exigido era o inglês. Mais tarde o projeto teve mudanças e o analista de desenvolvimento passou a atender um novo cliente e então surgiu a necessidade de falar outra língua. Foi aí que a língua alemã entrou na vida dele.
– Nesse momento percebi que para eu conseguir algumas oportunidades mais interessantes em relação a projetos teria que buscar esse conhecimento – conta ele, que um ano e meio depois de iniciar o curso conseguiu uma nova oportunidade dentro da empresa.
O diretor da empresa onde Odebrecht trabalha, Markus Blumenschein, conta que dominar o idioma é um fator avaliado no processo de seleção e foi inclusive um dos aspectos observados quando decidiram por Blumenau para a instalação de um Centro de Entrega de Serviços. Atualmente, não há vagas abertas por falta de profissionais que falem alemão. O diretor destaca que se houvessem mais especialistas disponíveis com idioma estrangeiro, seria possível gerar ainda mais serviços.
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Blumenschein vê na Semana de Língua Alemã um momento primordial para lembrar a importância do idioma na geração de negócios e empregos em uma região que foi colonizada por alemães.
– Queremos estimular que as pessoas aprendam o idioma e que os governos o valorizem e assim o considerem em programas de treinamento e grade curricular escolar – reforça diretor.
Intercâmbio é a saída para aperfeiçoamento da carreira profissional
Aos 23 anos, Maria Eduarda Staloch teve uma experiência diferente e tão enriquecedora quanto as de Marcelo Odebrecht e Bruno Krueger Franco, mas que poucos conhecem. Aluna do curso de Direito da Furb, a jovem encontrou nos convênios firmados pela universidade com países europeus a chance de cursar algumas disciplinas da graduação em Berlim.
– Foi uma das melhores escolhas que fiz. As pessoas precisam saber que têm formas de buscar esses intercâmbios – conta a futura advogada.
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Maria se refere principalmente ao formato do convênio que lhe possibilitou a viagem. Conforme explica Candice Nardelli Reif, da coordenadoria de relações internacionais da Furb, os acadêmicos podem ficar entre seis meses e um ano no país de destino sem custo com mensalidade. A expectativa da estudante agora é concluir a faculdade este ano e retornar a Berlim. Desta vez em busca de trabalho.
Ainda mais jovem, a adolescente Camila Vitória Ineichen, 16 anos, alcançou cedo a chance de ir para a Alemanha. Foi através de uma parceria entre a escola que frequenta, Barão do Rio Branco, e o Ministério de Relações Internacionais alemão.
– Novas línguas ampliam muito as chances no mercado de trabalho – pondera a jovem.
Para a professora de Camila, Iracema Bauer Krueger, a nova geração está buscando resgatar o idioma:
– Os jovens aproveitam a chance para estudar nas melhores instituições alemãs e até atuar em empresas renomadas – afirma a lehrer (professora em alemão).