O clima de terra arrasada na Esplanada dos Ministérios é o retrato de um governo que derrete. Michel Temer errou ao chamar as Forças Armadas e foi covarde ao inicialmente jogar a responsabilidade nas costas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por uma decisão tomada no terceiro andar do Palácio do Planalto. O pior é que Temer foi desmentido pelo próprio Maia, que alegou ter pedido somente a Força Nacional.
Continua depois da publicidade
Uma nota divulgada à noite pelo Planalto corrigiu o equívoco. É bem verdade que vândalos se aproveitaram de um protesto que começou pacífico para depredarem prédios públicos e, literalmente, colocar fogo nos ministérios. Como se isso fosse resolver os rumos do Brasil.Violência que culminou no desembarque de militares, autorizados a permanecerem por uma semana nas ruas do Distrito Federal para garantir a segurança.
Para um país que ainda vive o fantasma dos tempos sombrios da ditadura militar, não é nada tranquilo observar homens do Exército tomando conta da entrada do Planalto e dos principais pontos da Capital Federal, ainda mais no auge da crise.
Ao contrário do que possa parecer, significa que o governo está acuado e cada vez mais fragilizado. O radicalismo burro de quem depreda prédio público poderia até servir para fortalecer Temer, levando à população o terror da baderna. Mas não é o que acontece, porque Temer não é mais a alternativa viável.
Já há uma articulação no Congresso para encontrar um nome para substituí-lo via eleição indireta. Quem conversa com parlamentares, sabe que o presidente não tem mais apoio sólido na Câmara e no Senado. O PSDB, por exemplo, só está dando um tempo até fechar um nome de consenso para a indireta. No final da noite de ontem, Temer estava encastelado no Palácio do Planalto, os homens das Forças Armadas de prontidão e os coronéis do PMDB batiam boca no Senado. Há quem aposte que o empurrão final ficará por conta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Continua depois da publicidade
E A JUSTIÇA?
Chamou a atenção a ausência do ministro da Justiça, Osmar Serraglio, durante o anúncio do uso das Forças Armadas para assegurar a segurança no Distrito Federal. O pronunciamento ficou por conta do ministro Raul Jungmann (Defesa), acompanhado pelo ministro do GSI, Sérgio Etchegoyen. Em outros tempos, o titular da Justiça seria até mesmo o porta-voz.