A Escola do Teatro Bolshoi no Brasil engatinhava quando Bruna Gaglianone, 27 anos, foi convidada a ser uma das candidatas da seletiva que passava pela primeira vez por São Luís, no Maranhão. Quem vê a bailarina como uma das poucas brasileiras contratadas pelo Bolshoi de Moscou jamais imaginaria que, mesmo com qualidade atestada pela meca russa do balé, a filial de Joinville não era um destino ambicionado pela jovem.

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A dança, por si só, poderia ter sido facilmente substituída pela prática de um esporte, não fosse a insistência de uma professora que enxergava o potencial da maranhense e a incentivou a participar da seletiva da escola. De família de esportistas, Bruna praticava ginástica olímpica, e a dança era só mais uma atividade que cumpria pela vontade da mãe.

O corpo de Bruna, pelo contrário, respondia positivamente ao que o Bolshoi do Brasil precisava para cumprir a sua função de formadora de talentos. Tanto que seu nome figurou no primeiro lugar entre os colocados. A mudança para Joinville seguiu o protocolo de muitos alunos ainda nos dias de hoje. Uma parte da família continuou em São Luís e apenas a mãe conseguiu uma licença para acompanhá-la por um tempo à missão que duraria oito anos.

No primeiro ano, a surpresa: aos 13 anos, Bruna foi um dos cinco jovens promissores selecionados no mundo todo para receber o prêmio da Fundação Galina Ulánova. O reconhecimento recebido em Joinville garantia o pagamento dos estudos na instituição – na época, ainda não eram oferecias bolsas de 100% para todos. De certa forma, um susto que fez com que Bruna percebesse e passasse a valorizar seu próprio potencial.

– Eu vim para Joinville sem saber quase nada de balé, nem tinha pretensão de ser bailarina. Acho que por isso, sem o incentivo que recebi aqui no início, acho que não sei se teria continuado.

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No intervalo de um ano, a maranhense tinha saído de casa e já de cara embarcava sozinha a Moscou para conhecer o solo russo, viagem também concedida pelo prêmio. Este foi o primeiro contato com o palco referência mundial e sonho de conquista de qualquer bailarina.

– Era um incentivo oferecido pela fundação, mas não uma garantia de um dia ser contratada.

As surpresas do destino foram levando Bruna a querer se tornar uma grande bailarina. E, embora tivesse tido tantos empurrões, não foi fácil conquistar o feito que a coloca em posição profissional privilegiada. A custo de muita transpiração, e um pouco de sorte, Bruna garantiu com o namorado, o também bailarino Erick Swolkin, o contrato de 20 anos com o Bolshoi de Moscou, dos quais já cumpriu seis. Hoje, Bruna é do corpo de baile e um dos quatro brasileiros que dançam em pé de igualdade com os russos.

* Texto: Rafaela Mazzaro, especial