Ao meio-dia desta segunda-feira (14) o Brasil vai parar. O técnico Tite anunciará a lista de 23 jogadores para a Copa da Rússia. A convocação gera ansiedade. Abre espaço para apostas entre amigos e divertidas conversas de botequim. Dia de convocação para a Copa sempre foi animado. Foi, pois fique bem claro. Porque, desta vez, os brasileiros parecem muito distante do mundo do futebol, por motivos óbvios. Pelo menos eu estou inquieto. Não que meu Botafogo mereça ter algum jogador na seleção brasileira. Mas porque amo futebol e amo Copa do Mundo. E que tudo isso me traz tantas lembranças.

Continua depois da publicidade

A primeira Copa ferve na memória. A minha foi a de 1970, aquele timaço derrubando os adversários, meu pai festejando cada golaço… Nem imaginava que o país vivia uma tremenda ditadura e que o Dadá Maravilha teria sido convocado pelo presidente militar. A inocência não se envergonha de nada, escreveu o filósofo suíço Rousseau. Depois, em 1982, foi a vez daquele baita time ser eliminado pelos italianos. Estava perdidamente apaixonado por uma menina que não me dava a menor bola. Devo confessar: Lívia me fez sofrer e chorar muito mais do que os gols de Paolo Rossi. Em 1994, chefiava uma brilhante equipe de jornalismo esportivo. Eu cá no Brasil, eles lá nos Estados Unidos. Ano de alegrias plenas e tristezas profundas. Impossível esquecer.

Em maio, perdemos Ayrton Senna em Ímola, na Itália. Em julho, ganhamos o tetra, nos pênaltis, da Itália. Obrigado, Baggio. A minha primeira Copa, de corpo presente, foi a de 98, na França. Muita gente dizia: “Ah, que legal, vai se divertir e beber vinho…” Sejamos honestos, um bom gole de Bordeaux não estraga o trabalho de ninguém. Mas ralamos que nem loucos, 50 dias sem parar. E foi emocionante ver a final no estádio perto de Paris, mesmo com o apagão do Ronaldo Fenômeno e o atropelamento francês.

Depois veio 2006. E lá fui para a Alemanha. Muita gente dizia: “Ah, que legal, vai se divertir e enfiar o pé na cerveja…” Mais uns 50 dias de trabalho muito duro, mais uma derrota para o time de Zinedine Zidane. E, para piorar, vi o amigo Bussunda partir, depois de uma pelada de futebol em Munique. Chegou 2014, mais uma Copa no Brasil.

O país andava muito conturbado, muita gente desconfiada: vamos fazer um baita vexame, seremos motivo de piada mundial. Viramos mesmo, mas por outro motivo: fomos espancados por impiedosos alemães em Belo Horizonte. Agora estamos a pouco mais de 30 dias da Copa da Rússia. O Brasil, a poucos meses da eleição presidencial, continua afundado em denúncias de corrupção. Neymar, Gabriel Jesus & Cia. podem trazer um pouco de ânimo e sonho a corações sofridos e de saco cheio de tanta falta de caráter, de tanto ódio, de tanta falência moral. Boa sorte, seleção.

Continua depois da publicidade

°°°

Obrigado, Dona Leila, por me dar à luz e me ensinar a estranhar a vida.

°°°

Querem ler um livro bacana? “O sol na cabeça”, de Geovani Martins (Companhia das Letras). Talento, sensibilidade e, sim, extrema simplicidade na coletânea de contos desse jovem carioca. Vale muito a pena.

°°°

– A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira – do escritor russo Leon Tolstói. Sem mais delongas.

 

Leia também:

Fingir que nada acontece 

Frankenstein na chapa