O principal campeonato de futebol amador da Grande Florianópolis não irá acontecer neste ano. Os clubes desistiram de participar da Copa Interligas em 2017 após as mudanças da CBF no Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol. Agora, jogadores do amador também deverão apresentar atestado médico para todas as competições federadas, assim como já era feito com os profissionais, o que vai aumentar consideravelmente as despesas dos times.

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Os dirigentes das ligas municipais acreditam que o gasto com os documentos ficarão em torno de R$ 200 reais por atleta, o que pode aumentar caso o médico exija novos exames, como eletrocardiograma ou ecografias. E no SUS, eles pode demorar meses.

Na noite de segunda-feira, representantes das ligas e dos times classificados para esta edição do torneio se reuniram na sede da liga de Florianópolis (Liff), no Saco dos Limões. Eram 12 times representando Capital, São José, Palhoça, Biguaçu e Santo Amaro da Imperatriz. Quem deveria organizar a competição, com chancela da Federação Catarinense de Futebol, era a liga de São José. O presidente da entidade, Orivaldo leal, no entanto, ficou indignado. Disse que é uma injustiça cobrar as mesmas exigências do profissional e do amador.

— A CBF não se importa com o futebol amador. Nós não cobramos ingressos, não vendemos jogadores e estamos sendo enquadrados igual profissional. É uma postura desigual. O profissional tem leis trabalhistas. O amador é apenas um futebol entre amigos organizado com documentação da CBF — protesta.

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Orivaldo Leal tem 26 anos de futebol amador e diz que nunca viu uma fatalidade dentro de campo em todo esse tempo, ao contrário do que já aconteceu no profissional. Para o dirigente, existe uma incoerência na cobrança de atestado médico, já que a exigência é só para novos cadastros ou transferências entre ligas. Ele acredita que a medida da CBF pretende apenas diminuir o número dessas transferências.

“É uma segurança para o próprio atleta”

Desde 1º de fevereiro, a CBF exige para todas as divisões e categorias “o atestado médico com autorização para a prática desportiva pelo atleta, devendo dele constar o número de inscrição do médico no Conselho Regional de Medicina (CRM) e CPF”. Em nota à redação, a entidade informou apenas que a norma existe para prevenir problemas que podem ser identificados no exame e para preservar da saúde do atleta. A reportagem do Hora de SC conversou com o doutor Jorge Pagura, presidente da Comissão de Médicos do Futebol da CBF. Ele argumentou que todos atletas que querem participar de algum esporte precisam ser examinados por um médico:

— Todos que forem registrados na CBF precisam de exame médico, se não não precisaria registrar. É uma segurança para o próprio atleta. Em primeiro lugar está o ser humano.

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Pagura afirma que com o documento, familiares dos jogadores poderão cobrar do médico responsável caso o atleta tenha um mau súbito dentro de campo, por exemplo. Que cabe ao examinador decidir se há necessidade de novos exames e que os clubes vão ter que se adaptar à nova exigência. Caso não haja receita, os exames devem ser feitos pelo SUS.

“A gente participaria”

Representariam Florianópolis na Interligas o Náutico, campeão do municipal de 2016, e o Grêmio Cachoeira, terceiro colocado e que ficou com a vaga após desistência do vice Atlético – justamente por falta de dinheiro. O diretor do Náutico, Fernando Lemos, o Burússia, afirma que mesmo com as dificuldades, o time jogaria nesta edição. Mas como apenas quatro clubes se interessaram, a copa se tornaria uma competição fraca.

_ A gente participaria. Não concordamos com essa burocracia toda da CBF, mas se tem que adaptar o time e não tem jeito, teríamos que buscar alternativas junto da Liga para tornar isso acessível, como algum convênio com alguma clínica. Eu acredito que, se a competição não acontecer esse ano, ela não vai voltar porque os clubes infelizmente não vão se adaptar — lamenta.

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Campeonatos piratas podem voltar

Conforme Orivaldo Leal, está sendo ventilada pelas ligas municipais a criação de federações estaduais de futebol amador no Brasil. Assim elas teriam suas próprias diretrizes e não estariam mais sob o guarda-chuva da CBF.

Essa seria uma saída para organizar campeonatos que não sejam pirata e, ao mesmo tempo, não tenham a interferência da CBF, já que uma competição fria perderia a segurança jurídica. Qualquer pessoa que se sentisse prejudicada com a competição poderia entrar na Justiça comum e paralisar o campeonato, por exemplo, e não existiriam tribunais desportivos teoricamente isentos.

— Ano que vem a Copa Interligas vai acontecer porque outros clubes vão ter que organizar. Mas o meu sentimento é que estão acabando com o futebol amador — lamenta Leal.

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