A COP26 chega ao fim com a aprovação de um texto para acelerar a luta contra a mudança climática e esboçar as bases de um futuro financiamento do plano. Os quase 200 países presentes na conferência realizada em Glasgow, na Escócia, aprovaram o projeto neste sábado (13), que ainda segue sem garantir o objetivo de limitar o aumento da temperatura mundial em +1.5ºC.

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O “Pacto de Glasgow pelo clima” propõe que os Estados membros apresentem em final de 2022 novos compromissos nacionais de corte nas emissões de gases de efeito estufa, três anos antes do previsto, embora “levando em consideração as diferentes circunstâncias nacionais”. A aprovação do acordo correu risco devido à oposição no último minuto de Índia e China, contrárias ao parágrafo sobre a necessidade de eliminar a dependência do carvão e ao fim dos subsídios aos combustíveis fósseis.

Com 24 horas de atraso em relação à agenda oficial, o texto aprovado na COP26 possibilita consultas formais para criar fundos estáveis para a mitigação e a adaptação e para estudar os pedidos de indenizações por danos e perdas dos países mais vulneráveis a médio prazo.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, disse neste domingo (14) que o resultado final da COP26 foi “muito bom” e que reforçou a posição de liderança do Brasil na área ambiental.

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— O Brasil tem liderança desde 1992 [data da conferência no Rio de Janeiro] neste tema. Nós não estamos tímidos. Essa COP mostrou esse resultado — declarou o ministro em Dubai, onde acompanha o presidente Jair Bolsonaro em visita oficial.

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— Achei altamente positiva a participação do Brasil. Mas para mim não foi uma surpresa, nós estávamos trabalhando. Trabalhando depois você vê o resultado — declarou. Segundo França, a partir da próxima semana ele e os colegas Joaquim Leite (Meio Ambiente) e Tereza Cristina (Agricultura) farão uma avaliação do resultado da COP e das obrigações do Brasil para cumprir seus compromissos.

O ministro disse que viu com naturalidade a reclamação feita por algumas ONGs de que o resultado da conferência foi tímido.

Para outras lideranças, avanço não é suficiente

— O acordo de hoje é um grande passo adiante — destacou, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anfitrião do encontro. Ainda assim, mencionou que restam “coisas a fazer nos próximos anos”.

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Neste domingo (14), Jonhson voltou a destacar a aprovação do texto, mas admitiu que a alegria está “tingida de decepção”. — Exigiam para esta reunião de cúpula um alto nível de ambição. E embora muitos estivessem dispostos a fazê-lo, não era o caso de todos — afirmou.

Boris Johnson aparece sorrindo para a câmera, de terno e gravata, com uma flor no bolso do paletó, ele faz sinal de positivo com o polegar com a mão direita, e acena com a mão esquerda aberta
Sobre os resultados da COP26, Johnson admitiu que a alegria está “tingida de decepção” (Foto: Boris Johnson/Twitter/Reprodução)

— Sempre soubemos que Glasgow não seria a linha de chegada — disse no mesmo tom o enviado especial dos Estados Unidos, John Kerry. Análise compartilhada pelo presidente da Colômbia, Iván Duque. — [O pacto] é um avanço significativo na luta contra a crise climática, mas não é suficiente para alcançar os objetivos globais — escreveu em seu perfil do Twitter.

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— O que este texto está tentando fazer é tapar buracos e iniciar um processo — explicou Helen Mountford, do World Resources Institute, que destaca especialmente o que diz respeito às finanças para adaptação, ou seja, para se precaver diante do que pode acontecer no futuro.

O documento aprovado na COP26 não define uma data exata, nem valores.

— [O texto] é tímido, é fraco e a meta de 1,5ºC mal está viva, mas dá um sinal de que a era do carvão está acabando. E isso é importante — reagiu Jennifer Morgan, diretora executiva do Greenpeace.

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Os países em desenvolvimento, os mais afetados pelo aquecimento global, brigaram até o fim com unhas e dentes para garantir avanços financeiros, com um resultado discreto. As decisões da COP exigem consenso, e Glasgow não foi exceção, com negociações exaustivas até o último minuto na mesma sala onde ocorreu a assembleia geral, com os delegados em pé, documento em mãos.

John Kerry, o enviado chinês Xie Zhenhua, o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, iam e vinham, pulavam de um grupo a outro, discutindo um esboço de texto que, após os discursos, foi aceito praticamente por unanimidade, embora com duras críticas da Índia.

Logo após o anúncio do acordo, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, alertou que o mundo segue às portas de uma “catástrofe climática”. Já para a jovem ativista Greta Thunberg, a conferência sobre o clima foi puro “blá-blá-blá”.

— O verdadeiro trabalho continua fora dessas salas. E nunca, nunca nos renderemos — afirmou no Twitter.

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Greta aparece batendo palmas com outros manifestantes; Imagem possui desfoque artítico, com o canto da tela em tons esverdeados
Ativista sueca Greta Thunberg participa de protesto em Glasgow, onde ocorre a COP26 (Foto: Adrian Dennis/AFP)

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O que foi definido?

O pacto assinado no sábado “urge os países desenvolvidos a no mínimo duplicar suas contribuições coletivas para a adaptação dos países em desenvolvimento, com base os níveis de 2019, até 2025”.

Os bancos multilaterais deverão colaborar com a missão, e o texto também pede “políticas inovadoras” para atrair capital privado. Mas os países ricos não conseguiram regularizar os US$ 100 bilhões anuais que os países vulneráveis supostamente tinham que receber desde 2020. E esse número era apenas uma base. O texto reconhece e “lamenta profundamente” esta situação, que necessita urgentemente ser corrigida até 2025.

Os países em desenvolvimento querem que o dinheiro a receber a partir de agora seja, de um modo geral, compartilhado igualmente na mitigação das mudanças climáticas (redução das emissões de gases de efeito estufa) e na adaptação ao que está por vir (por exemplo, por meio de represas, diques nas costas, etc.).

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— Pela primeira vez, uma meta de financiamento para a adaptação foi acordada — comemorou Gabriela Bucher, da Oxfam.

As indenizações por perdas e danos são um capítulo especialmente polêmico porque envolvem Estados, grandes multinacionais (como as petroleiras) e seguradoras. O pacto “decide estabelecer o Diálogo de Glasgow (…) para discutir os preparativos para financiar atividades a fim de evitar, minimizar e reparar danos e perdas”. Esse diálogo deve culminar em 2024.

Por fim, nos debates sobre os combustíveis fósseis, que nunca foram denunciados explicitamente nos documentos oficiais dessas conferências, o fim foi polêmico.

O ministro indiano do Meio Ambiente, Bhupender Yadav, argumentou que as nações menos industrializadas, com pouca responsabilidade histórica pelo aquecimento global, têm “direito a sua parte justa do orçamento global de carbono e têm direito ao uso responsável de combustíveis fósseis”.

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— Como os países em desenvolvimento podem fazer promessas para eliminar os subsídios ao carvão e aos combustíveis fósseis? — questionou.

Como proposto pela Índia, o texto finalmente menciona a necessidade de acabar com os “subsídios ineficientes para os combustíveis fósseis”, mas, novamente, com atenção às “circunstâncias nacionais particulares”.

Desde o Acordo de Paris de 2015, a preocupação cresceu e o mundo segue rumo a uma situação “catastrófica” caso não sejam adotadas medidas drásticas, insistem os cientistas. O objetivo fixado em Paris há seis anos era que o aumento da temperatura média global não superasse +2 ºC, e de maneira ideal 1,5 ºC.

*Com informações de AFP e Folhapress

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