A terceira operação deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em prefeituras da região no último ano veio à tona na segunda-feira dando uma demonstração do tamanho do grupo e de como funciona uma investigação contra supostos esquemas de corrupção.

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Na ação batizada de Dupla Face, 60 agentes de todo o Estado vieram a Itajaí para cumprir 26 mandados e fazer a prisão temporária e preventiva de oito pessoas – cinco continuam presas. O que chamou a atenção, neste caso, é a amplitude da investigação e a rapidez com que ela aconteceu em relação à ultima – há 40 dias, o Gaeco coordenou a Operação Parada Obrigatória 1 e 2, sobre supostas práticas de corrupção na Codetran. Apesar do pouco tempo, a sequência de ações não foi planejada.

Nova operação do Gaeco tem oito presos em Itajaí

Prefeitura exonera comissionados envolvidos na Operação Dupla Face

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Membros do primeiro escalão de Itajaí são presos em operação do Gaeco

‘Jamais imaginei que isso pudesse acontecer no meu governo’, diz prefeito

– O Gaeco dá apoio às promotorias, coincidiu ter tido duas operações em Itajaí nesse período. O tempo de uma investigação depende da evolução de cada caso – explica o coordenador geral dos Gaecos em SC, promotor Alexandre Reynaldo de Oliveira Graziotin.

As promotorias de Justiça são, inclusive, a origem da maioria dos casos investigados pelo Gaeco. É lá que as denúncias chegam primeiro, para depois serem avaliadas pelos agentes de cada sede: Itajaí, Joinville, Florianópolis, Criciúma, Chapecó e Lages. De acordo com Graziotin, geralmente 12 pessoas atuam em cada unidade, policiais militares e civis, um delegado e um oficial de Justiça.

– O Gaeco é uma força-tarefa composta pelo Ministério Público, Polícia Civil, Militar, Polícia Rodoviária Federal e Secretaria Estadual da Fazenda. Nas bases ficam as equipes de investigação para o combate ao crime organizado, com ênfase na corrupção – comenta o coordenador.

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A atuação é integrada entre os Gaecos e caminha em conjunto com a promotoria responsável. Assim, o processo se torna mais eficiente, já que os promotores ficam a par do resultado das investigações, podendo dar um encaminhamento mais rápido, segundo Graziotin.

O contingente que é mobilizado para cada operação também depende do caso. Apesar dos órgãos públicos não serem o único foco do Gaeco, as três operações deflagradas na região estão vinculadas às administrações municipais.

– Temos um processo constante de reavaliação das ações, mas consideramos, de um modo geral, as operações positivas, porque conseguiram estancar algumas ações ilícitas que eram praticadas – avalia o promotor.

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Ações miram no poder público

A primeira operação deflagrada no último ano pelo Gaeco no litoral foi a Trato Feito, em Balneário Camboriú. Em 15 de setembro, foram presas 14 pessoas – entre elas membros do primeiro escalão da prefeitura – e cumpridos 20 mandados de busca e apreensão. Quase um ano depois, o Ministério Público indiciou 46 pessoas por envolvimento nos crimes investigados: uso indevido de bens públicos, superfaturamento de serviços, direcionamento de licitações e cobrança de propina.

A Operação Parada Obrigatória ocorreu no dia 14 de julho e levou quatro pessoas à prisão – inclusive o vereador José Alvercino Ferreira (PP), que continua detido em cela especial no Complexo da Canhanduba. O foco da investigação são crimes relacionados ao órgão de trânsito de Itajaí, a Codetran, e incluem corrupção passiva, peculato, concussão, advocacia administrativa e receptação qualificada. As investigações trouxeram à tona desde o furto de mais de 700 motocicletas no pátio da prefeitura para venda ilegal até o uso de radar para cumprimento de meta de apreensão de veículos, com o objetivo de gerar propinas.

Quarenta dias depois, a prefeitura de Itajaí é alvo de outra operação do Gaeco, a Dupla Face. Deflagrada na segunda-feira após sete meses de investigação, a ação revelou um suposto esquema de “criação de dificuldades para venda de facilidades”, que atingiria diferentes órgãos do Executivo. Cinco membros do primeiro escalão foram presos. Um advogado e dois empresários também foram detidos, porém foram liberados por colaborar com a investigação. A prefeitura também exonerou servidores comissionados envolvidos na operação – dois secretários, que possuem cargo efetivo, foram afastados.

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SAIBA MAIS:

Prisão preventiva – válida por tempo indeterminado, ocorre quando há indícios que liguem o suspeito ao delito. É pedida para proteger o inquérito ou o processo, a ordem pública ou econômica ou a aplicação da lei.

Prisão temporária – tem prazo de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco, e é usada para que a polícia ou o Ministério Público coletem provas durante a fase de investigação do inquérito.

CONTRAPONTOS

Douglas Cristino

O advogado Fernando Fernandez informou que ainda não teve acesso ao processo, somente à decisão da Justiça. Segundo ele, os documentos apresentados dizem que Douglas é suspeito de praticar advocacia administrativa e formação de quadrilha. Porém, vai aguardar ter acesso ao restante das informações para se manifestar.

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Sadi Pires

O advogado Elisandro de Araújo Pereira disse que vai analisar os documentos apresentados, para depois se manifestar sobre o caso.

Sérgio Ardigó

O advogado Claudinei Fernandes não foi localizado pela reportagem por telefone e por e-mail para comentar o caso.

Os nomes dos advogados de Rogério Ribas e Paulo Braun ainda não foram divulgados.