O modelo de negócio no passado já uniu pequenos agricultores, hoje atrai também jovens que querem financiar um carro, donas de casa que busca preços baixos nas compras do mês, pessoas interessadas em cuidar da saúde. Vantagens como poder participar das decisões da instituição em assembleias, resolver problemas de forma conjunta e, em alguns casos, ao final de cada ano receber retorno do lucro fazem muitas pessoas aderirem ao cooperativismo, celebrado no sábado, dia 7, com o Dia Internacional do Cooperativismo.

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Não é de hoje que o Vale do Itajaí se apresenta como terra fértil para cooperar. O modelo de negócio teve origem na Europa, em 1846 e, por ser conhecido de imigrantes europeus que colonizaram a região, encontrou guarida por aqui – e também no Sul do país, onde as cooperativas em geral também contam com alta adesão. Essa herança cultural, aliada às vantagens financeiras que as instituições costumam proporcionar, cria um ambiente favorável para o crescimento em Santa Catarina.

O Estado tem a maior taxa de adesão a cooperativas no país. São 2,2 milhões de cooperados em uma população de aproximadamente 7 milhões. Dados da Organização das Cooperativas de SC (Ocesc) apontam que, considerando as famílias, o número de cooperados envolveria 4,5 milhões de pessoas, mais da metade do número de habitantes. Em 2017, as 263 cooperativas catarinenses cresceram em média 2,67% e faturaram R$ 32,6 bilhões. Nos últimos quatro anos, mesmo em meio a um período de crise, o crescimento médio foi de 9% ao ano. Em faturamento, as cooperativas agrícolas ainda lideram, com R$ 20 bilhões faturados em 2017, mas em número de cooperados o destaque é para as instituições de crédito, com 1,5 milhão.

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O presidente da Ocesc, Luiz Vicente Suzin, acrescenta que foi registrado aumento significativo de mulheres e jovens entre os cooperados. Ele credita o resultado aos cursos e ações desenvolvidas junto a esses públicos pelos serviços de aprendizagem das cooperativas.

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– Você é dono da cooperativa, participa das decisões, do retorno do capital que vai se formando, além de vantagens como juros baixos, no caso das financeiras. Tudo isso vai cativando. Isso é importante porque onde tem cooperativa forte, bem estruturada, o desenvolvimento do município é melhor, se torna mais forte nessas áreas – avalia o presidente.

Vocação histórica para as cooperativas

A diretora de Patrimônio Histórico e Museológico da Fundação Cultural da cidade, Sueli Petry, confirma que esse sentimento de se reunir para resolver problemas comuns vem desde a colonização do município. O primeiro exemplo ocorre logo em 1859, nove anos após a fundação da cidade, quando foi criada a Sociedade de Atiradores de Blumenau.

– Era de lazer e entretenimento, mas na realidade também era a sala de visita da colônia. Espaço onde pessoas se juntavam para discutir problemas comuns. Prova disso é que lá nasceu o Kulturverein, uma sociedade de auxílio aos colonos para resolver problemas da agricultura, trazer sementes boas e importar bois de raça. Ali também se formou a Sociedade de Proteção e Auxílio aos Enfermos para tratar as questões de saúde. É dentro desse espírito de cooperar uns com os outros que o cooperativismo também nasce – explica a especialista.

A primeira instituição com formato exato de cooperativa surge em Blumenau no ano de 1907: um banco agrícola criado com a intenção de ajudar os colonos. Segundo ela, à medida que a cidade cresce, outras necessidades surgem e a população se manteve ligada à essência do associativismo.

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Estímulo à organização financeira e agricultura familiar

No Vale do Itajaí, não faltam exemplos de cooperativas que plantam e colhem bons resultados. Duas delas foram criadas para beneficiar funcionários da empresa Hering entre as décadas de 1940 e 1950, com base nos princípios do cooperativismo trazidos pela companhia da Europa. No entanto, ao longo dos anos acabaram encontrando seu caminho e, até mesmo por demanda de interessados, abrindo espaço para a participação de toda a população da região. São os casos da Viacredi, fundada em 1951, e da Cooper, criada em 1944.

Foi o interesse em participar de uma palestra de movimentação financeira que fez com que Sílvia Letícia Pelin se juntasse à cooperativa de crédito. Ela não só passou a conhecer mais de perto as vantagens como compreendeu que precisava mudar os hábitos financeiros, controlar os cheques e empréstimos que fazia. Depois de palestras e cursos oferecidos pelo sistema social da cooperativa, fez uma consultoria e hoje desfruta de uma vida financeira estável. A última conquista foi adquirir, junto com uma familiar, uma casa de sucos e lanches em Timbó.

– Uma das coisas que mais acho interessantes é a disponibilidade de ajudar o cooperado a evoluir. Sempre tem um curso ou palestra interessante, perguntam o que os cooperados têm interesse, isso ajuda bastante – pontua.

O presidente da Viacredi (com 450 mil cooperados e base no Vale do Itajaí) e do Sistema Ailos, Moacir Krambeck, afirma que o cooperativismo, às vezes, começa atraindo o cooperado como se ele fosse um cliente de uma instituição comum, com foco em taxas menores e bom atendimento. Aos poucos, os cursos e ações permitem a mudança de mentalidade, com pensamento que foque mais no coletivo do que no individual. O limite desse tipo de negócio? Para o executivo, antes de pensar em expansão a meta é atender toda a população – 1,2 milhão de pessoas, na área de ação atual da cooperativa.

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– O cooperado não pensa no outro empresário como um concorrente, pensa como um criador de riqueza para a sociedade. Para a economia, é importante porque você desconcentra a renda e, quando se faz isso, você a faz a sociedade participar da riqueza que está produzindo. É um processo lento, mas progressivo – frisa Krambeck.

Valores melhores a produtores rurais

O cooperativismo em Santa Catarina está presente em 12 setores da economia e consegue chegar até mesmo a áreas específicas como a alimentação, caso da Cooper. O presidente do Conselho de Administração da Cooper, Hercílio Schmitt, destaca virtudes como a boa gestão e o viés social das cooperativas e diz que o senso de pertencimento, as palestras e cursos oferecidos e o espírito dos moradores do Vale, que já precisaram demonstrar união para superar dificuldades como enchentes, favorece o cooperativismo na região.

– É um modelo de negócio diferente que tem prosperado aqui pela consciência e pelo elo cada vez mais forte com a comunidade. Em um supermercado há apenas a relação comercial, na cooperativa você é dono e usuário, cabe a você acompanhar e gerir, participar de assembleias que tomam decisões, ser participativo – define, garantindo que a adesão de moradores do Vale vai além das vantagens mais imediatas como o retorno de sobras ao fim do ano.

As cooperativas favorecem pessoas como o casal de produtores rurais Werner e Vânia da Silva Krieck, de Indaial. Ele também é associado à Cooper, mas a principal vantagem está por trás do trabalho na propriedade dele, onde cultiva brócolis. Há 18 anos, a Cooper mantém uma parceria que permite a ele e mais 21 famílias agricultoras venderem seus produtos nas gôndolas da cooperativa. Até o funcionamento do grupo de agricultores ganhou uma rotina de assembleias e atas, como uma cooperativa informal.

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– O cooperativismo é o modelo mais correto e promissor porque teu voto vale igual ao do que tem mais dinheiro. Se não fosse essa parceria, iríamos depender de vender a atravessadores ou então para ao Ceasa. Assim conseguimos preços melhores – defende Krieck.