O contrato que será assinado hoje entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy marca, na avaliação de especialistas, a principal parceria militar brasileira desde o governo de Getúlio Vargas, quando o país apoiou os Aliados na II Guerra Mundial. Pelo acordo, o Brasil pagará em torno de R$ 24 bilhões à França para a aquisição de submarinos e helicópteros. A maior parte do dinheiro será financiada por bancos estrangeiros.

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A segunda visita do presidente da França, Nicolas Sarkozy, ao Brasil em menos de um ano reforça, neste 7 de Setembro, uma parceria estratégica que vai muito além do acordo de compra de submarinos e de helicópteros franceses, no valor de R$ 24 bilhões. Nessa aliança, o Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva vê a França como o amigo rico e preferido do Norte.

A França virou aliada preferencial no mundo desenvolvido no momento em que o Brasil ambiciona colocar em prática uma política industrial de defesa, além de alavancar sua presença em organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Sarkozy, por sua vez, explora as oportunidades de negócios no país que ambiciona tornar-se hegemônico na América Latina.

O presidente francês, que desembarcou em Brasília ontem à noite, será o convidado de honra do desfile militar do Dia da Independência, hoje, na Esplanada dos Ministérios. Escoltado por seis ministros e, desta vez, sem a companhia da primeira-dama, Carla Bruni, Sarkozy terá grandes chances de ouvir de Lula, mesmo que informalmente, o resultado favorável à francesa Dassault no processo de licitação para a compra de 36 caças pela Força Aérea Brasileira (FAB) (leia mais sobre o tema na página ao lado).

O diferencial na relação Brasil-França, comparando com as demais parcerias estratégicas firmadas pelo governo brasileiro nos últimos anos, está inegavelmente na área militar, segundo a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, diretora do Departamento de Europa do Itamaraty. Para a diplomata, trata-se de um caso feliz de exploração de um momento favorável a tais iniciativas.

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França apoia pretensões brasileiras

Para Marcos Azambuja, ex-embaixador do Brasil em Paris, esse diferencial alcança também as posições convergentes dos países nos debates relevantes da agenda internacional, azeitadas por uma afinidade cultural e de mútua curiosidade.

– Não existe afinidade do Brasil com Angela Merkel ou com o Gordon Brown – disse o ex-embaixador, ao referir-se à chanceler da Alemanha e ao primeiro-ministro da Grã-Bretanha.

E completou:

– Mas há muita afinidade com Sarkozy. Sobretudo, com madame Sarkozy – completou ele, dono de inconfundível humor.

A França foi uma das pioneiras vozes do Primeiro Mundo a apoiar uma reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o que pode permitir o ingresso do Brasil entre seus membros permanentes – ambição cultivada especialmente pelo governo Lula. Nos últimos anos, passou a defender a ampliação do G-8, as sete economias mais industrializadas e a Rússia, para a formação de um G-14 que incluiria, além do Brasil, a África do Sul, a China, a Índia, o México e o Egito.

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Lula, em um gesto pouco usual, esperou ontem à noite o presidente francês na Base Aérea de Brasília. De lá, se dirigiram para o Palácio da Alvorada, onde foi organizado um jantar em sua homenagem.

Pela manhã de hoje, os dois líderes assistirão a um desfile cívico-militar em comemoração ao Dia da Independência e terão uma reunião de trabalho em seguida, na qual diferentes assuntos da agenda bilateral e internacional serão abordados. Depois, representantes dos dois governos assinarão uma série de acordos nas áreas de defesa, cooperação policial, imigração, transportes, agricultura, tecnologia, entre outras.

Interesses em jogo

Frota renovada para proteção das riquezas

A explicação para o acordo com a França é de que o Brasil precisa renovar a frota da Marinha para ter condições de proteger as megarreservas nacionais de petróleo. Até 2020, o Brasil pretende ter a maior e mais poderosa força naval da América Latina, com submarinos, fragatas, navios leves e corvetas, além de mísseis de longo alcance, torpedos, aviões e helicópteros de tecnologia avançada.

Negócios vão além da área militar

A França vê no Brasil um parceiro comercial que vai além dos negócios envolvendo a área militar. Para os franceses, o Brasil é visto como plataforma na qual suas empresas poderão produzir e vender para toda a América Latina. Entre os focos de interesse estão a venda de reatores para as quatro novas usinas nucleares planejadas pelo Ministério de Minas e Energia até 2030.

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Reforço para entrar no G-8

Dos países ricos, a França é o que mais respalda as ambições brasileiras. Ao destacar a importância econômica do Brasil, Sarkozy tem defendido que o G-8 (integrado pelos sete países mais ricos e a Rússia) aceite o ingresso de pelo menos outras cinco nações – estariam na lista Brasil, China e Índia.

– O mundo precisa que o Brasil ocupe o lugar que é seu – afirmou o presidente francês em um de seus encontros com Lula.

Apoio no Conselho de Segurança

Um dos principais projetos internacionais do governo Lula é garantir uma vaga permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Mais uma vez, Sarkozy entra como um dos aliados do Brasil.

– É inconcebível imaginar que se possa falar nas principais questões mundiais sem consultar um único país africano, um só país da América do Sul – afirmou anteriormente o francês.

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