Recebidas em aeroportos lotados de torcedores, as novas contratações do futebol turco explicitam a paixão do povo do país pelo esporte, apesar dos jogadores normalmente escolherem a Turquia como local de trabalho por conta dos grandes salários.

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A “Super Lig”, e mais concretamente seus três principais times – Fenerbahçe, Galatasaray e Besiktas – apostaram alto para trazer jogadores consagrados para o elenco: Mathieu Valbuena, Befétimbi Gomis e Pepe foram alguns dos nomes que, a partir de agora, jogarão no ponto de encontro entre Europa e Ásia.

Mas não foram só os grandes times que investiram no talento estrangeiro. Os mais modestos Antalyaspor e Basaksehir, revelação da última temporada terminando o torneio como vice-campeão, também foram buscar jogadores em outros países. O primeiro fechou com o francês Jeremy Ménez, enquanto o segundo tirou Gaël Clichy do Manchester City.

Se os jogadores fazem questão de expressar que o amor dos torcedores pelo futebol foi um dos principais motivos para aceitar a missão no país otomano, os grandes salários foram tão atrativos quanto.

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Os dirigentes chegam a pagar valores acima das receitas totais do clube, um modo de operar pouco recomendável. A Turquia possui algumas das maiores rivalidades locais entre clubes, além de um nacionalismo exacerbado, e quer investir no ‘show bis’.

– Clubes endividados –

Desta forma, o brasileiro naturalizado português Pepe vai receber 9,5 milhões de euros por temporada, por dois anos de contrato com o Besiktas. Já o francês Gomis vai receber do Galatasaray 3,35 milhões de euros por ano.

“Atualmente, as receitas geradas por todos os times turcos chega a 1 bilhão de euros, o que seriam 4 bilhões de liras turcas. No entanto, os gastos oscilam entre 5,5 e 6 bilhões de liras, o que é uma diferença de quase 50% no que entra e sai”, explicou à AFP Tugrul Aksar, especialista em economia do futebol.

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“Fato é que os clubes turcos gastam atualmente um dinheiro que ainda não têm, tirando de parte das receitas futuras. É por isso que são clubes endividados”, sustentou Aksar.

Segundo o economista, a Super Lig ocupa a sexta posição na lista de campeonatos europeus de maior receita. Ainda assim, “é um campeonato que gasta muito mais do que ganha”.

A partir da próxima temporada, os times turcos vão receber, no total, mais de 500 milhões de dólares em direitos de televisão, propriedade do grupo Digiturk, integrante da cadeia BeIn.

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Para Aksar, esse dinheiro não será suficiente para quitar as dívidas.

– ‘Ajudas do governo’ –

Algumas destas equipes, no entanto, podem se beneficiar de ajuda governamental, indicou o economista. “Às vezes as dívidas fiscais de alguns clubes são suprimidas. Mas é quando existe interesse político por trás”, indicou.

O investimento em grandes jogadores também se explica pela necessidade de melhorar a imagem do torneio, que em 2011 foi sacudida por escândalos de manipulação de resultados.

Após a crise, diminuiu o número de torcedores nos estádios, que chegou a ter a baixa média de 10.000 espectadores por jogo na última temporada.

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“Para fazer com que as pessoas compareçam ao estádio, é preciso trazer jogadores conhecidos no estrangeiro. É uma questão de reputação e show bis”, indicou Aksar.

Por outro lado, o sociólogo Daghan Irak, professor da Universidade de Estrasburgo (França), destacou a importante influência do movimento nacionalista sobre as negociações multimilionárias do futebol turco.

“O Estado sempre vai estar aí para ajudar os clubes, seja com exonerações ou anistias fiscais”, explicou Irak à AFP.

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“Na Turquia, os clubes precisam sobreviver a qualquer preço, porque estão aí para representar o país na Europa”, afirmou.

Além dos grandes montantes de dinheiro, a decisão dos jogadores estrangeiros interfere na visibilidade do Campeonato Turco no continente. Não é em vão que a Turquia participa de todas as Liga dos Campeões com pelo menos um time.

“Eles vêm aqui pelo dinheiro, mas não chegam a desaparecer dos radares de seus respectivos países. Aqui, mantêm um bom nível”, resumiu Serdar Dinçbayli, jornalista do Fanatik, diário esportivo mais importante do país.

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* AFP