O eleitor fica sem saber quem verdadeiramente está disputando o poder. O governo comprometido com programas sociais e tolerante com os questionamentos ou os radicais que querem censurar a imprensa crítica?

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Em convenção realizada no último sábado, o Partido dos Trabalhadores oficializou a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, com uma proposta de “mais mudanças” e um discurso preocupantemente desagregador. A própria candidata preocupou-se em fazer um pronunciamento sensato, procurando se ater mais a compromissos programáticos. Ainda assim, lideranças como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da sigla, Rui Falcão, acabaram centrando suas falas no anacronismo do “nós contra eles”, “pobre contra rico” e “esquerda contra direita”. Mesmo as mudanças propostas pela presidente, porém, têm sido recebidas com desconfiança, por parecerem antigas ou recicladas. Além disso, nem um nem outro atendem os clamores de quem saiu às ruas para cobrar transformações na política e na gestão pública.

Nada menos de 74% dos brasileiros ouvidos pela última pesquisa Datafolha, realizada entre os dias 2 e 5 de junho, manifestaram o desejo de mudança no próximo governo. Ainda assim, o denominado Plano de Transformação Nacional, lançado para embasar a candidatura à reeleição, engloba iniciativas constantes da campanha anterior ou ainda em andamento. A própria candidata à reeleição voltou também a se comprometer com uma reforma política, que buscou emplacar depois das mobilizações deflagradas a partir de junho do ano passado. A exemplo dos antecessores, não conseguiu levá-la adiante.

O que mais chama a atenção nos planos para um novo mandato, porém, é a confusão criada na cabeça do eleitor diante de intenções desencontradas como as expostas pela candidata e as expressas por líderes do partido em nome do qual pretende pedir votos. O eleitor fica sem saber quem verdadeiramente está disputando o poder. Seria o governo comprometido com programas sociais e tolerante com os questionamentos, como tem sido o da presidente Dilma? Ou seriam os radicais que querem censurar a imprensa crítica e se consideram tutores do povo brasileiro?

De um governo com popularidade em baixa e às voltas com pessimismo na área econômica, era de se esperar que a preocupação fosse a de reverter essas expectativas. Infelizmente, o que se constata é a insistência em práticas ultrapassadas, como a de marcar como ruim tudo o que destoe das ideias defendidas pelo PT e a de investir contra quem pensa diferente e contra quem, como a imprensa, tem o dever de agir com isenção.

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