O Carnaval em Santa Catarina marcou um novo número de motoristas embriagados nas estradas catarinenses. Mais de mil motoristas bêbados foram flagrados em rodovias estaduais e federais em operações de fiscalização. Números que chocam e que têm sido comuns no Estado, que detém desde o ano passado o status de líder nas multas por embriaguez ao volante em todo o Brasil.
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Quando vê operações com dezenas e até centenas de condutores flagrados, a jornalista e empresária Karin Verzbickas lembra do dia 27 de dezembro de 2015. Data marcada pela morte do marido, Róger Bittencourt, atropelado na SC-401, em Florianópolis, por um motorista com sinais de embriaguez.
– Vejo essas operações e penso nas famílias. Cada motorista bêbado é um risco iminente de morte. É uma tragédia que ele causa para os outros e para si. Alguém que faz isso não consegue dormir tranquilo. Mas essas pessoas que matam no trânsito não são assassinos, mau caráter. São pessoas como nós e que em algum momento cometem aquele desvio, se transformam em assassinos, o que é muito pior, porque depois passa o efeito da bebida e a consciência vem forte – comenta a moradora de Florianópolis.
Morto aos 49 anos, Róger foi uma das tantas vítimas da combinação imprudente de álcool e direção nas rodovias de Santa Catarina. O motorista do carro que atropelou o ciclista foi preso e chegou a ser condenado por homicídio três anos depois, em fevereiro do ano passado. Ele recebeu pena de sete anos de prisão em regime semiaberto, quase o máximo que era possível pelo crime, em um caso de desfecho ainda incomum para os acidentes de trânsito, que nem sempre chegam a um julgamento.
– Nós fomos privilegiados em ter conseguido levar o caso a júri popular. Quantas famílias perdem maridos, filhos, e o caso não sai do inquérito policial? Ele pegou quase que a condenação máxima, era para estarmos comemorando, mas agora ele já está pulando Carnaval. O Róger não vai ter essa chance. A raiva é muito grande, mas acho que a gente tem que buscar justiça, não vingança – pondera Karin.
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Morando ainda em Jurerê, ao lado da rodovia onde Róger foi atropelado, Karin diz que o caso de 2015 mudou a maneira de viver dos familiares e amigos ao redor. Se antes alguém se arriscava a beber e dirigir, uma tragédia tão próxima mudou hábitos. Por isso, a viúva diz que sente esperança ao ver a fiscalização crescer e fechar o cerco contra os motoristas:
– Se for olhar historicamente, Santa Catarina e Florianópolis eram terra de ninguém, não tinha fiscalização nenhuma. Ainda tenho esperança que a gente vai ganhar essa guerra. Vejo a mudança de comportamento dos nossos familiares e amigos, a gente sentiu o baque tão perto, aquele sentimento de finitude, que tudo pode acabar por uma bobagem. Quem antes se arriscava hoje não faz mais, porque tem muito presente o buraco que deixou na nossa vida. As pessoas só aprendem dessas duas formas: enquanto aprender pela multa, pelo carro apreendido, ótimo. O duro é quando você perde ou mata alguém, aí aprende da pior forma.
"O prejuízo foi todo meu"
João* tinha 22 anos quando ficou perto da morte. Depois de passar o dia inteiro bebendo, foi a uma festa com amigos à noite. Em certo momento saiu para comprar cigarros em um posto de gasolina e buscar uma amiga. Saiu de carro, bêbado e em alta velocidade. Viu uma blitz da polícia e resolveu desviar. Logo depois bateu o carro em uma ponte, e ficou gravemente ferido.
O acidente foi perto do Terminal do Aterro, em Blumenau, onde o rapaz mora até hoje. O acidente já completou dois anos e mudou a maneira com que o jovem encara a bebida. Antes do acidente de carro, tinha o hábito de beber e dirigir e já havia se machucado outras vezes, em batidas de moto.
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– Eu bebia muito, hoje tenho mais moderação. Não vou negar que ainda bebo, mas tenho muito mais moderação – diz.
Por sorte, João diz que no acidente “ele foi o único lesado” com as perdas materiais e os danos físicos. Estava sozinho, não atingiu outro carro ou atropelou algum pedestre.
– O prejuízo foi todo meu, agora estou aqui sobrevivendo.
*Nome fictício. O motorista aceitou conceder entrevista à reportagem, mas pediu para não ser identificado.