Quando paisano, João Simões Lopes Neto (1865 – 1916) trouxe pelos beiços a cultura gaúcha. Interpretou o universo dos guascas e empeçou uma obra que hoje se mantém como um dos principais chasques dos temas campeiros.

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Seu principal personagem é o chalrador Blau Nunes, que, boquejando a vida campeira, é o narrador de uma obra fundamental da literatura brasileira que completa cem anos.

Em 2012, celebra-se o centenário de Contos Gauchescos (1912), que, juntamente com Lendas do Sul (1913), eternizou Simões Lopes Neto como um dos pioneiros do regionalismo gaúcho. Em comemoração à data, acaba de chegar uma nova edição reunindo as duas obras máximas do autor pelotense.

O grande trunfo de Contos Gauchescos e Lendas do Sul (L&PM, 327 páginas, R$ 45) é a tentativa de aproximar do leitor de hoje a linguagem e o universo histórico-cultural de textos escritos há cem anos. A tarefa coube a Luís Augusto Fischer, organizador da nova edição. O professor de literatura da UFRGS e colunista de ZH apresenta textos introdutórios, comentários e análises do autor e de sua obra. Mas o destaque fica para as notas de rodapé que comentam dados e expressões de época – como as que constam na abertura deste texto. Fischer listou 1.160 notas para os Contos Gauchescos e 513 para as Lendas do Sul:

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– Como leitor e pelos alunos, sentia falta de uma edição que conversasse com o leitor urbano de hoje. A necessidade de aproximação foi pensada pela linguagem e pelas referências históricas e culturais que o Simões Lopes Neto mobiliza. Ele escreveu cem anos atrás.

Além de “traduzir” expressões de época e do campo, Fischer também se empenhou em dar conta da oralidade do texto de Simões Lopes Neto:

– Blau Nunes é um sujeito do campo que fala com o jargão de um mundo que já não existe mais. A distância é muito grande, tanto de tempo como de registro cultural.

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O professor também se dedica a pelo menos duas revisões. Uma delas dá conta da universalidade de Simões Lopes Neto. E a outra, da imagem do gaúcho construída por ele:

– Ele é um grande escritor e tem que ser lido não somente como regionalista, mas ao lado de Joseph Conrad, Guimarães Rosa… Além disso, Simões tem uma perspectiva que, em relação ao gaúcho do tradicionalismo, está a léguas de distância. Ele coloca em cena como protagonista (Blau Nunes) um homem simples, que não é um proprietário de terras.