Os cinemas estão exibindo em Santa Catarina o filme João e Maria: Caçadores de Bruxas. O filme propõe uma continuação do conto de fadas dos irmãos que derrotaram a bruxa que queria devorá-los. Eles crescem para se tornar especialistas em derrotar seres malvados, guerreiros poderosos. Já o livro O Manual da Bruxa para Cozinhar Crianças propõe, como continuação do conto de fadas, a história dos irmãos Sol e Connie, descendentes de João e Maria. Ao mudar de casa eles se tornam vizinhos da bruxa má, que há muitos séculos tem o hobby de comer criancinhas.

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É cruel, com certeza, mas todos os contos de fada são cruéis. Nas histórias de fada, a bela princesa pica o dedo na agulha e dorme por décadas, a vovozinha e sua neta são devoradas por um lobo mau, a madrasta má quer ver a enteada comer uma maçã envenenada e a bruxa da casa feita de doces come criancinhas. Mas essa crueldade não precisa ser apenas maldade. Ela pode também ser engraçada.

Esse é o tom do livro do australiano Keith McGowan. Ao dar voz para a bruxa Fay Holaderry logo no começo do livro, ele nos dá a oportunidade de ver o mundo do ponto de vista do vilão, algo pouco explorado nas histórias infanto-juvenis, e no caso do Manual da Bruxa, muito engraçado. Holaderry conta em seu diário as suas maneiras preferidas de preparar crianças: com batatas assadas, torta de limões verdes ou com pimenta e hidromel. Mas ela também conta como as crianças são levadas até ela: por seus pais. E aí nos damos conta de que a crueldade está realmente por toda parte. O amor entre irmãos é a única salvação no livro.

A história dos irmãos Sol e Connie lembra Harry Potter, mas Sol é muito mais parecido com Hermione do que com o bruxinho órfão protagonista do livro. Ele é um menino inteligente e estudioso, do tipo que sonha em ganhar a feira de ciências na escola e usa a lógica para resolver seus problemas. Já Connie é moleca. Espontânea e inconsequente, ela quer mais é se divertir.

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Juntos, eles formam uma dupla que desafia a sagacidade e as armadilhas de Holaderry, que não tem mais uma casa feita de doces. Ela se modernizou junto com a vizinhança e procurou outros atrativos para crianças, como um óculos mágico que permite ver outro mundo ou plantas misteriosas que fazem rir.

McGowan não cria mistérios tão cativantes quanto J. K. Rowling, sua história tem foco num público mais jovem, mesmo assim, é entretenimento garantido.

Confira dois trechos do livro:

“Um dia você tocará para a realeza de todo o mundo”, eles lhe disseram “Não será maravilhoso?”

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Os pais de Jeffrey pensavam que sim. Mas então, certa tarde, ele caiu enquanto subia numa árvore à procura de uma pera madura, e quebrou o pulso. Em um segundo, a carreira musical de Jeffrey se encerrou, e os grandes sonhos dos Dachs foram frustrados.

Eu, no entanto, ainda enxergava em Jeffrey um grande potencial: o gosto que ele teria, preparado com pimenta e acompanhado de um bom hidromel, por exemplo.

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E houve recentemente o caso do opulento Grant Feltwright, que se achava melhor do que todos os demais por causa da riqueza de sua família. (…)

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Seu pai lhe disse: “Não é assim que se faz jus à honra do sobrenome Feltwright”.

Mas Grant não dava ouvidos. E assim o sr. Fetlwright fez o que precisava ser feito para conservar o nome da família.

E eu conservei Grant numa mistura de vinagre, sal e pirossulfito de sódio.

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O Manual da Bruxa para Cozinhar Crianças

Autor Keith McGowan

Ilustrações de Yoko Tanaka

Editora Companhia das Letras

Preço médio: R$ 31,50