Entre as paredes da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville, no Norte do Estado, as mesmas músicas de Tchaikovski e Minkus tocam repetidamente todas as noites. Lá dentro, crianças, adolescentes, jovens e adultos dedicam-se aos ensaios dos balés “O Quebra-nozes” e “Don Quixote”, que serão apresentados em 14 e 15 de março para celebrar os 20 anos da inauguração da única instituição que leva o nome e mantém a tradição do Balé do Teatro de Moscou fora da Rússia. É uma rotina persistente que começou há pouco mais de 15 dias e que tem como missão levar a perfeição ao palco em um mês.

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Enquanto os bailarinos se preparam, intercalando os ensaios de cada clássico em um dia da semana após as aulas, os outros profissionais da instituição alternam as funções na escola com atividades típicas de departamentos artísticos de grandes companhias. Ainda que os espetáculos já tenham sido montados anteriormente – a “Grande Suíte do Ballet Don Quixote” estreou em 2007 e “O Quebra-nozes” em 2014 –, a equipe de produção apara as arestas ao mesmo tempo em que busca uma renovação dos espetáculos.

– Justamente por já terem sido apresentados, nossa responsabilidade é maior ainda. Precisamos atualizar tudo para que mesmo as pessoas que já os assistiram possam olhar e dizer “nossa, tem alguma coisa diferente” – explica a produtora executiva Sylvana Albuquerque.

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Produtora executiva Sylvana Albuquerque cuida de todos os detalhes do espetáculo (Foto: Carlos Junior, Especial)

Ela foi a responsável pela produção dos espetáculos em Joinville, mas o fez tendo um mentor especial. O ex-diretor artístico do Balé Bolshoi de Moscou, Vladimir Vasiliev – que carrega o título de “Deus do Balé do século 20” dado a ele pela Unesco – remontou os dois clássicos especialmente para a escola brasileira. Sylvana também foi à Rússia para acompanhar as produções dos balés no Teatro Bolshoi e trazer o conhecimento para o Brasil.

– Tive a oportunidade de ficar perto dos técnicos do Bolshoi e tirar dúvidas e, a partir disso, desenvolver os nossos espetáculos – analisa ela.

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Jovens brasileiros e estrelas russas no palco

Na última semana de fevereiro, os alunos também tiveram um momento mais comum nas companhias profissionais: a divulgação da lista de elencos dos espetáculos, pregada nos murais da escola. Quase todos os 250 alunos da instituição, além dos 17 bailarinos da Cia Jovem Bolshoi Brasil recém-formados – que integram uma companhia mantida pela escola.

Os jovens bailarinos assumem alguns dos papéis principais e mais complexos, enquanto os outros são distribuídos aos recém-formados de acordo com a faixa etária, o conhecimento e o perfil, partindo da oitava série do curso de formação até chegar nos estudantes da segunda série do curso básico. São crianças que não tem mais do que 12 anos e, em muitos casos, apenas um ano de aulas de dança, mas têm destaque no primeiro ato de “O Quebra-nozes”, quando a protagonista, Marie, é um menininha.

– No ano passado, já começamos a preparar as crianças pequenas para que tivessem experiência de palco para o aniversário de 20 anos. Por isso, eles já se apresentaram no Teatro Guaíra no fim de 2019 – explica o professor e assessor artístico Maikon Golini.

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Professor e assessor artístico Maikon Golini (C) em ação nos ensaios (Foto: Carlos Junior, especial)

Professores da Escola Bolshoi, entre formados pela instituição brasileira, pela Escola Coreográfica de Moscou e por outras instituições europeias também estarão no palco.

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O ucraniano Denis Nevidomyy, que atuou no Teatro Nacional da Ópera de Kiev na juventude será o “Don Quixote” da peça de mesmo nome, enquanto Dmitry Afanasiev, que foi bailarino do Teatro Bolshoi de Moscou por 20 anos, assume o papel de Sancho Panza. O próprio Maikon, fruto da primeira turma da Escola Bolshoi Brasil, também está em cena nos dois espetáculos. Para viver Marie e o Príncipe, protagonistas de “O Quebra-nozes”, e Kitri e Basílio, de “Don Quixote”, bailarinos do Balé do Teatro Bolshoi de Moscou viajarão para Joinville especialmente para as apresentações.