A frase “era uma vez” pode significar uma porção de coisas. Para algumas pessoas, o início de uma história de amor. Para outras, uma lembrança que sobrevive ao passar do tempo. Há também quem encontre nestas três palavrinhas o refúgio necessário para escapar da realidade, nem que seja só por alguns minutos. No dia a dia de Nana Toledo, o “era uma vez” representa um pouco de cada coisa. Aos 48 anos, ela faz parte do time que vem fortalecendo os projetos de contação de histórias entre jovens e crianças do Vale do Itajaí. Hoje, há pelo menos oito programas gratuitos que oferecem leitura atrelada à prática educativa em Blumenau e região.
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Livro e violão em mãos, Nana define seu trabalho como uma possibilidade de abrir portas para novos mundos. Além da fala afiada, ela diz que para contar histórias é preciso ter brilho no olhar e crença no que se diz. Seja nas escolas ou em comunidades de Blumenau, a paixão sempre a acompanha. Tudo começou em 2005, quando decidiu fazer o primeiro curso de formação para aprender as técnicas da contação. Nascida em família de músicos, a contadora – que também escreveu mais de 30 livros – usa o violão como apoio para as suas apresentações. As canções, transformadas em CDs, ajudam a dar ritmo às histórias.
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Além de estar envolvida em projetos da área no Sesc, Nana ensina outras pessoas que buscam nos livros a resposta para se comunicar com o público infantil de forma lúdica. Ela comenta que existe uma diferença entre ler e contar o texto para a plateia. Mas garante que qualquer pessoa pode desenvolver o talento.
– Na contação, o foco não é contador, e sim a história. Os ingredientes são a voz, os gestos e o olhar. Sabendo usar as ferramentas certas você pode se apresentar para 10 ou 10 mil pessoas, e cada vez é diferente. Já contei a mesma história mais de cem vezes, nunca é igual. É importante que o contador goste e acredite muito na história que está contando. Tem que ter a ver com a sua subjetividade – sublinha ela.
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Projetos para vários públicos
Patrícia Constâncio é mais uma apaixonada pela contação de histórias. À frente do projeto Parque da Leitura, da Fundação Cultural de Blumenau, ela começou a pesquisar sobre o assunto quando trabalhava como coordenadora de escola. O desejo era estreitar a relação das crianças com os livros, tarefa que culminou na criação de outro projeto, o ProLer, em 2001 – uma das quatro ações de leitura que organizou na época na cidade.
Em 2013, além do Parque da Leitura, Patrícia também criou o Fundação Cultural nos Bairros. A proposta consiste em emprestar livros para famílias de condomínios do Minha Casa, Minha Vida às terças-feiras. Além de contar as histórias de forma oral no Ramiro e nas escolas, ela também aprendeu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e hoje atende o público com deficiências auditivas.
– Cada livro tem linguagens diferentes, cabe ao contador selecionar a história adequada. Precisa ser um leitor voraz, trabalhar o texto, treinar muito na frente do espelho. Não dá pra contar uma história sem ter lido pelo menos oito vezes – opina a contadora.
Quem também atua no Parque da Leitura é Shirlei Dickmann, que começou como professora de educação infantil e sentia dificuldade em contar histórias para crianças. Segundo ela, determinação e estudo são algumas qualidades essenciais para desempenhar o trabalho da melhor maneira. Hoje, além de participar do Parque e ministrar cursos de contação, ela coordena os projetos Histórias Bilíngues e Avilalê em Blumenau.
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– Me considero alguém que distribui histórias e brilho no olhar. Amo estar com as crianças – comenta.
O escritor e músico Pochyua Andrade decidiu inserir a contação de histórias no processo musical. Ele revela que a música contribui para a performance literária:
– A principal qualidade é ter uma boa história pra contar. No mais é tudo um exercício de mergulhar no universo da história, ter boas ideias para envolver o público e voltar à infância pra se divertir.
Esse retorno aos dias de criança é uma das propostas da Kombiflor, projeto da escritora blumenauense Ana Paula Abreu. Pós-graduada em Literatura Infantil e Contação de Histórias, ela queria uma forma diferente e interativa de levar suas obras ao público. Foi então que decidiu embarcar os livros em uma kombi colorida, que vai até as crianças em feiras literárias, oficinas de arte e até aniversários.
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– Acho fantásticos esses projetos e espero que cada vez tenhamos mais! – aposta Ana.