Iniciativas de empreendedorismo às vezes são motivadas por vocação, às vezes por necessidade; às vezes, por uma combinação das duas coisas. Este último é o caso de Lara Elias Duarte, joinvilense que, em 2015, com apenas 17 anos, decidiu criar um Instagram para vender as roupas que não usava mais — e explica que a razão foi puramente financeira:
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— Quando eu estava no ensino médio, minha mãe estava passando por uma crise financeira. Eu estudava em tempo integral, então não conseguia arranjar um emprego para ajudar — ela narra.
— Foi aí que resolvi vender minhas próprias roupas no Instagram, para ganhar meu dinheiro.
Na época, as lojas online ainda não eram tão comuns na rede social; e, segundo Lara, não havia nenhum brechó virtual em Joinville (SC). A iniciativa foi um sucesso imediato: o perfil acumulou 500 seguidores em uma semana, mesmo período em que todas as primeiras roupas disponibilizadas foram vendidas. Hoje, o Instagram @desapegolara já conta com mais de 14,3 mil seguidores; e, há duas semanas, Lara inaugurou sua loja física, que recebeu cerca de 400 visitantes nos primeiros sete dias.
O êxito do Desapego, como Lara chama seu negócio, vem de uma percepção que a proprietária teve já nos primeiros meses de trabalho — a de que o brechó virtual tem tudo a ver com um ramo que só cresce no mercado, especialmente o da moda: o do consumo consciente. Consumir de forma consciente implica não comprar por impulso: a ideia é adquirir apenas o realmente necessário, reutilizar, comprar produtos usados, e, na hora em que decidir que algo não serve mais para você, avaliar se não pode servir para outra pessoa — em vez de simplesmente jogar na lata do lixo. O consumo consciente também está relacionado à reciclagem, ao cuidado com o meio ambiente, e a estar alerta às práticas de responsabilidade social das empresas.
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— Apesar de ter começado por estar simplesmente buscando minha independência financeira, eu logo entendi que esse seria um grande nicho de mercado no futuro — Lara diz.
— Passei a pesquisar e entender mais sobre o assunto, e notei também a carência desse mercado em Joinville e a falta de consciência das pessoas da cidade a respeito disso. Hoje em dia a maioria das pessoas conhece algum brechó, consome produtos de marcas que têm essa pegada. Ver o cenário mudando e ter sido uma das pioneiras na cidade em relação à moda sustentável me deixa realizada.
Ela também destaca outra característica marcante dos brechós:
— Consigo vender produtos bons, de qualidade, por um preço acessível, o que permite que mais pessoas possam comprar.

O curioso é que Lara já mostrava desde criança uma certa vocação para empreender. Ela se diverte ao contar que, aos 7 anos de idade, pediu emprestados os livros de uma vizinha para montar uma biblioteca no condomínio onde morava — cobrando aluguel, e multa de quem eventualmente não devolvesse os volumes.
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— Mas nunca tinha pensado em atuar especificamente na área de moda — ela diz.
Hoje, Lara estuda Administração e trabalha em tempo integral com o Desapego: de manhã, fazendo a curadoria de produtos para o Instagram; e, à tarde, abrindo a loja física para o público.
O consumo consciente e sustentável se espalhou para outras áreas da vida de Lara – e se reflete até na forma como ela encara o dia a dia:
— Meus amigos brincam dizendo que parece que eu 'não ligo pra nada', mas a verdade é que eu levo a vida bem mais leve — afirma.
— Sou bem desapegada de tudo. Aprendi a viver com bem menos, também: antes de criar o Instagram, eu tinha um armário de seis portas cheio de roupas. Hoje, todas as minhas peças cabem em uma porta de guarda-roupa. Sempre brinco que sou minha maior cliente: uso uma peça duas, três vezes, e desapego.
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Ela também aprendeu a reaproveitar muitas outras coisas: diversos objetos que fazem parte de seu showroom atualmente — inclusive eletrodomésticos, como o frigobar —, são de segunda mão.
— E são produtos ótimos! — Lara comenta.
— Só não estavam mais satisfazendo seus antigos donos.