O Cônsul-geral de Israel em São Paulo, Yol Barnea, cumpriu agenda diplomática em Santa Catarina. Veio conhecer o Estado e buscar perspectivas de acordos comerciais e de cooperação bilateral. Foi uma visita de prospecção, em que conversou com chefes de Estado catarinenses. Uma das paradas foi a redação do Diário Catarinense.

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A reportagem aproveitou a visita para conversar com o diplomata sobre as novas tensões entre israelenses e palestinos. Após o sequestro e morte de três jovens israelenses, que o governo de Israel atribuiu ao Hamas, recomeçaram os ataques de ambos os lados.

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A operação do Exército do Estado judaico começou na última quinta e deixa desde então mais de 600 palestinos mortos e mais de 4.000 feridos. Outros três civis e 32 militares israelenses morreram durante as ações.

DC – Com as tensões recentes, o senhor acredita que as negociações entre o Estado de Israel e os palestinos voltarem a que ponto da sua história desde 1948? Lá ao início, a 67, com a primeiras negociações de paz ou a algum outro ponto mais recentes dos acordos de paz?

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Yoel Barnea –Temos que discernir entre o Hamas e a autoridade palestina. Com respeito ao Hamas, estamos em uma situação muito complicada. Nossas visões são diametralmente opostas. Em nossa atual atividade militar em Gaza, nosso alvo é o grupo e suas plataformas de lançamentos de mísseis. O outro alvo são os túneis subterrâneos entre Gaza e Israel, por onde entram terroristas. Nossos alvos são eles, mas o Hamas posiciona seus armamento no meio da população civil. Nós ficamos em um dilema: se eu ataco, a população civil palestina pode ser atingida; se eu não ataco, continuam os mísseis e a infraestrutura terrorista.

DC – Mas e as mortes de civis?

Barnea – Qual a política de Israel quando tem a intenção de atacar um alvo? São três meios. Primeiro, envia panfletos solicitando a população que deixe o local – o que é contraproducente para o país porque permite a saída dos terroristas e às vezes até a retirada de mísseis. Segundo, Israel liga por telefone para locais próximos para avisar que irá bombardear tal local por ter explosivos ou terroristas, etc. O terceiro é uma pequena bomba, sem explosão, que não causa dano, mas emite uma aviso sonoro e alerta que aquela área será atacada. Quero avisar vocês que não recebemos panfletos, nem telefones e nem nenhuma informação prévia quando eles mandam os mísseis em direção à Israel. Mandam sem distinção. Nas últimas duas semanas, recebemos em média de 100 mísseis por dia. Não somento o Sul, mas alguns de longo alcance que chegaram a Tel Aviv e Haifa. Nós temos mísseis para proteger nossa população. Eles usam a população para defender seus mísseis.

DC – O que Israel deseja nesse processo?

Barnea – Depois de toda essa advocacia positiva, admito. Eu sou israelense. Não é nenhum segredo, conto que sou pago pelo meu trabalho, mas claro que aqui tem uma situação e não estou pretendendo que o Estado de Israel não cometeu erros nesses 67 anos. Mas tudo que nós queremos é a paz. Queremos cooperar com nossos vizinhos. Não queremos que daqui a dois anos estejamos novamente em outra situação como agora.

DC – Há futuro nas negociações de paz?

Barnea – Não podemos discutir com uma organização que quer nossa destruição (o Hamas). Mas quero lembrar que Yasser Arafat e a OLP, durante muito tempo, tinham visões similares. Estou falando de vinte anos atrás. Tinham a visão de que tem que destruir e depois mudaram. Não porque passaram a gostar de Israel, mas porque viram que não dá certo. Egito também tentou. O presidente chegou a dizer que gostaria de outro vizinho, que tentou destruí-lo cinco vezes, mas não deu. Então sentamos e conversamos com eles. Mas não vemos a possibilidade de conversar e negociar com um governo palestino de unidade nacional em que o Hamas faça parte.

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DC – O senhor vê chance de um acordo mais concreto, além de um cessar fogo? E vê, hoje, a população palestina mais próxima do Hamas ou da Autoridade Nacional Palestina?

Barnea – Eu acho que tem uma parte importante entre os palestinos que está cansado, esgotado de toda essa situação de sofrimento e mortes. Também da inexistência de uma chance de mudar de nível de vida, não ter a capacidade de pular para um melhor. Mas existe uma parte que gostaria, em certas condições, de chegar a um acordo com Israel. Mas existe essa minoria grande, não é pequena, que não tenho porcentagens de cabeça, e tem uma visão extremista, uma visão baseada na religião, história e no islã mundial.

DC – Israel teme que a criação de um Estado Palestino possa levar a um problema maior? A chance de se aliar, militarmente, com outros países como o Irã, por exemplo? Isso tem atrapalhado as negociações?

Barnea – Para fazer frente ao receio do governo e da população israelense, o Estado de Israel está propondo o seguinte, apesar de ainda não ser uma proposta oficial. São três termos centrais para a criação de um Estado Palestino. Nos primeiros anos – temos que discutir se cinco, quatro ou dez – que Israel possa monitorar o espaço aéreo palestino. Nesses primeiros anos, ter certas limitações a acesso a armamentos, a tamanho de exércitos. E também em relação ao direito de convites (de ajuda internacional). Se vão convidar uma pessoa, bom. Cinco, ótimo. Mas, se foram vinte mil iranianos, nós gostaríamos que isso não seja permitido nesse primeiro momento. Sobretudo para construir confiança entre os lados e, depois, logicamente essas limitações deveriam sumir a partir do momento em que o Estado Palestino demonstrar boa vontade. Em um primeiro momento, teríamos essas exigências.

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