Construtores de Florianópolis teriam feito uma espécie de “vaquinha” para pagar os valores exigidos pelo ex-funcionário da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram), preso suspeito de cobrança de propina para liberar obras na cidade.

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O documento que revela a “vaquinha” embasou o mandado de prisão contra o servidor Felipe Pereira, ex-chefe de Fiscalização da fundação. Ele foi detido na última sexta-feira (15).

Pereira aparece em imagens gravadas em 2022 recebendo, das mãos de um dos construtores, R$ 50 mil em espécie. O valor, segundo a Polícia Civil, seria um pagamento para impedir que construções, consideradas irregulares, fossem demolidas.

Morador e construtores se juntaram para pagar propina

No documento, que a NSC teve acesso, estão expostos relatos em que um morador, que teve a casa no Ribeirão da Ilha demolida “de um dia para o outro”. Na descrição, o construtor que aparece na gravação teria informado ao morador que, se pagasse a propina, poderia reconstruir a casa.

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A “vaquinha” entre morador e construtores teria acontecido no mês seguinte, para pagar os R$ 50 mil, para que as obras fossem retomadas.

Outro trecho do documento traz uma série de conversas entre o construtor do vídeo e Felipe Pereira. Em uma mensagem, o construtor escreve: “não podemos falhar hoje beleza amigo?”, falando do pagamento dos valores.

Para os investigadores, este seria um sinal de que o construtor teria problemas se não cumprisse o acordo. Na mesma conversa, Pereira diz que precisa “levar tudo hoje”, e ainda acrescenta: “estou numa pressão aqui”. Estre trecho supostamente indicaria que outras pessoas, possivelmente servidores da Floram e da secretaria de Desenvolvimento Urbano, poderiam fazer parte do esquema.

Saques em contas de familiares

O documento ainda traz a versão do construtor para ter tanto dinheiro vivo em casa. Ele afirmou aos investigadores que o banco dele não liberou o saque dos valores, por isso teria feito transferências para uma amiga da família, que sacou o dinheiro e o entregou.

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O dinheiro, no entanto, também não saiu de uma conta do construtor, e sim da conta da cunhada dele. Isso porque, segundo o relato, a conta dele estava com “problemas e restrições financeiras”.

No documento, o juiz Elleston Lissandro Canali afirma que foram identificados três núcleos no esquema: agentes públicos, construtores e agentes políticos. A investigação, no entanto, trata apenas dos agentes políticos.

O delegado Ulisses Gabriel, à NSC TV, afirma que, com a cobrança dos valores, o esquema chegaria a movimentar R$ 500 mil por semana, ou seja, R$ 2 milhões por mês.

Ex-servidor cobrou R$ 90 mil para liberar obras

No vídeo, o ex-servidor se encontra com o construtor para pegar o dinheiro. Com dinheiro vivo, o empresário negocia o pagamento e divergem em relação ao valor. O ex-servidor diz que, parcelado, a propina era de R$ 110 mil. “Era R$ 35 mil cada uma se fosse parcelado, e se fosse à vista, era R$ 30 [mil]”, cobra.

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O construtor contesta, já que três parcelas de R$ 35 mil somariam R$ 105 mil. Pereira questiona quanto ele tem em mãos, e propõe um acordo: “me dá esses R$ 50 mil e o resto eu seguro”, afirma.

Assista:

Entenda o caso

O servidor Felipe Pereira, que atuava na Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram), foi preso preventivamente na sexta-feira (15) em uma investigação da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic). Funcionário efetivo do município desde 2015, Pereira já havia sido alvo de busca e apreensão na primeira fase da operação, em dezembro de 2022.

Segundo informações divulgadas pelo colunista da NSC Anderson Silva, o servidor é suspeito de exigir propina para liberação de construções irregulares no município. O caso teria sido delatado por um engenheiro da área de construção civil. Além de Pereira, outro servidor municipal, Nei João da Silva, também seria suspeito de cobrar valores indevidos em troca de liberações de construções. Atualmente, eles ocupavam respectivamente os cargos de chefe de Fiscalização da Floram e de diretor de Fiscalização da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU).

Segundo informações de depoimentos, os servidores esperavam as obras atingirem avançado estado de construção para, só então, cobrar a vantagem em dinheiro dos responsáveis pelos imóveis, sob pena de demolição.

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O que dizem os envolvidos

O advogado de defesa de Felipe Pereira, Eduardo Herculano, se manifestou por nota. Disse que “compete à Polícia Civil explicar os motivos de omissão e da ausência de diligências para com os demais investigados, que mesmo incluídos no bojo do Inquérito Policial, não foram alvos de medidas invasivas e estão sendo “promovidos” de investigados à meras testemunhas dos fatos”. Reforçou ainda que “acredita nas instituições e será através delas que se provará a verdade, com o respeito ao contraditório, ampla defesa e, mais, em respeito ao devido processo legal”.

A reportagem entrou em contato com a prefeitura de Florianópolis. O prefeito Topázio Neto se reuniu com o delegado geral e pediu que todos os nomes possivelmente suspeitos sejam informados. O objetivo é afastar envolvidos no caso.

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