Duas cidades do Alto Vale devem ser as próximas a receber obras para prevenção de enchentes. Mirim Doce e Petrolândia, ambas a cerca de 150 quilômetros de Blumenau, terão barragens para conter as águas dos rios que alimentam o Itajaí-Açu antes de elas chegarem a Rio do Sul.

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As novas estruturas, que fazem parte do pacote de nove ações do Pacto Pela Defesa Civil para prevenir tragédias climáticas, estão atrasadas em cerca de um ano antes mesmo de saírem do papel. Uma terceira barragem, da mesma ação, está prevista entre Trombudo Central e Braço do Trombudo, mas o governo ainda estuda sua viabilidade. A essas três somam-se outras quatro barragens, duas em Pouso Redondo e duas em Agrolândia, que também estão atrasadas. Juntas, elas formariam uma espécie de muro de contenção que reduziria a chegada das águas do Alto Vale à região de Blumenau e ao litoral.

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O apego à terra onde nasceram, vivem e trabalham e divergências políticas – principalmente no último ano eleitoral – foram os principais motivos do adiamento dos projetos. Os ânimos apenas se acalmaram após muita conversa e adequações nos planos.

Barragem em Mirim Doce terá capacidade para conter 12,6 milhões de metros cúbicos de água

Para Mirim Doce, que tem cerca de 2,4 mil habitantes e teve sua primeira enxurrada em 2011, está prevista uma estrutura capaz de conter 12,6 milhões de metros cúbicos de água do rio Taió. A barragem será erguida na localidade de Alto Volta Grande, onde se concentram produtores rurais que plantam principalmente arroz e criam animais. O agricultor Marcio Roberto Alves de Jesus, 42 anos, tem uma propriedade de 100 hectares e já sabe que cerca de 40% da área ficará na zona de alagamento da barragem.

– Desses 40 hectares, 12 são da minha plantação de arroz. O grande problema é essa questão da indenização, porque isso vai afetar bastante o nosso trabalho. Estamos preocupados que seja pago menos do que a terra vale – afirma Alves.

O coordenador da Defesa Civil local, Orli José Machado, explica que a cidade não sofre com enchentes e que só houve estragos em 2011 porque o volume de chuvas foi muito maior do que o esperado:

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– Choveu 400 milímetros em três dias, o rio não suportou e encheu, aí varreu a cidade. Mas com a mesma velocidade que subiu, desceu, porque aqui é muito alto.

Assim como Marcio, o agricultor e funcionário da prefeitura de Mirim Doce Luis Alves da Silva, 57, também não gostaria que a barragem fosse construída. Sua casa fica na área de alagamento e ele comenta, com certo desgosto, que já não pensava em sair da casa onde vive há quase meio século.

– A gente tem aqui a nossa produção, os nossos pés de fruta, e tem que saber se vai poder se colocar em um lugar parecido. Por mim não construía (a barragem), mas também não posso dizer que não porque as pessoas precisam. Por mim não saía daqui nem depois de morto.

Proposta de barragem dividiu opiniões em Petrolândia

A preocupação é semelhante em Petrolândia, onde parte dos 6 mil habitantes – principalmente os produtores rurais – também não gostou da ideia de ver as terras alagadas. O agricultor Silvio Farias, 45, conta que a comunidade de Barra Nova, onde mora e trabalha, ficou apavorada com os primeiros projetos. Depois de uma audiência pública com a presença do secretário de Estado de Defesa Civil, Milton Hobus, e de muita conversa com uma comissão dos moradores, a segunda proposta foi aceita:

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– Na primeira ia alagar toda a vila, porque ia ser de 8 milhões de metros cúbicos a contenção. Na segunda nos falaram que ia ser feita uma de 4 milhões de metros cúbicos. Se for essa mesmo o impacto vai ser menor e deram a garantia de que não íamos ser atingidos. Mas ainda temos notícias muito vazias.