Ela é poderosa, ela usa rosa, ela só tem 11 anos. É com essa combinação que Ana Lia Carneiro, de Florianópolis, tem conquistado no blog Poderosa de Rosa (www.poderosaderosa.com.br), autointitulado como “feminino teen”. Com textos bem escritos, fotos cuidadosamente montadas e postagens diárias, a garota de óculos de grau impressiona pelo profissionalismo com que toca a página na internet. Além de atrair a audiência das meninas, também ganhou atenção das marcas. Pudera, é Ana Lia usar uma roupa e postar no Poderosa de Rosa que chovem garotas interessadas no look.

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Assim como ela, outras tantas blogueiras de moda conquistaram leitores e, principalmente, patrocinadores que transformaram os blogs em um negócio promissor e rentável. E mais, algumas se transformaram em celebridades. São mulheres de diferentes idades que alertam para as tendências da estação, atestam o batom do momento e não deixam de postar o look de cada dia, independentemente do clima na rua.

A maneira como influenciam na escolha do público ficou notória em 2009, quando toda a imprensa voltou a atenção durante a New York Fashion Week. A marca Dolce & Gabbana convidou para a primeira fila de seu desfile os blogueiros do momento. Além de lugares exclusivos, a grife deu um notebook para a publicação das informações em tempo real. A passagem, um marco na ascendência dos blogs do gênero, é contada na tese de doutorado da pesquisadora em comunicação e moda Daniela Aline Hinerasky.

Atualmente, a ferramenta de buscas do Google (blogsearch.google.com) localiza 14,8 milhões de blogs de moda. Em novembro de 2009, esse número era de 7 milhões.

Depois da explosão e da consolidação, algumas perguntas perduram neste universo. Entre elas, ainda há espaço para mais blogueiras de moda? O tempo dessa plataforma expirou? Ana Lia pode ser uma resposta. Ela entrou para a blogosfera no ano passado. Queria compartilhar seu gosto por moda, mas foi pega de surpresa pelo retorno das leitoras e o assédio das marcas. Chegou a um ponto em que as roupas são enviadas a sua casa quase todos os dias.

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A blogueira Ana Lia, do blog Poderosa de Rosa. Foto: Jessé Giotti/Agência RBS

Público teen

Ana Lia faz questão de selecionar as tendências. Nem tudo que está na moda entra no Poderosa de Rosa.

– As estampas de azulejo, por exemplo. São lindas, mas acho que ninguém da minha idade usaria. Então nem coloco no blog. Só entra aquilo que eu acredito que meninas da minha idade usam – explica.

Estilista, webdesigner e autora de um livro de crônicas – já escritas no “caderno de projetos de vida” – são algumas das profissões programadas para o futuro. Por enquanto, Ana Lia quer ser blogueira e se dedicar ao site. Está, inclusive, economizando a mesada para comprar uma câmera fotográfica semiprofissional. Ela quer deixar a sessão Look do Dia mais elaborada.

Por enquanto, consegue uma audiência de mil acessos diários. O número ainda é menor do que os de outras blogueiras teen, mas com mais tempo de estrada, como Isabella Scherer, filha do nadador Fernando Scherer, o Xuxa, e que criou o blog The Blonde Cherry (www.theblondecherry.com) e Bruna Vieira, do Depois dos Quinze (www.depoisdosquinze.com) – as duas com cerca de 20 mil cliques por dia.

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A mãe Renata Carneiro acompanha atenta os bastidores da expansão do blog de Ana Lia, mas garante que já ensinou à menina que os pés precisam ser mantidos no chão, até porque amanhã os números de sua audiência podem cair. Renata também cuida para que o tempo que a filha se dedica ao blog não interfira nos estudos.

A psicológa Shirley Stamou fechou o consultório para se dedicar ao blog Garotas Modernas. Foto: Charles Guerra/Agência RBS

Sem pretensões

Perto de Ana Lia, Shirley Stamou é uma veterana, apesar de ter criado o blog Garotas Modernas (www.garotasmodernas.com) há apenas cinco anos. Acostumada com uma vida corrida, a psicóloga deu uma freada no ritmo. Parou de dar aulas em universidades e ficou apenas com o atendimento em consultório. Sentiu falta de uma certa agitação e, como uma distração, criou o blog.

Se a intenção era movimentar a vida, o Garotas Modernas cumpre o propósito. Está entre os blogs de moda mais acessados de Santa Catarina e tem cerca de 15 mil acessos diários. Para acompanhar o crescimento, Shirley tomou outra decisão há dois anos: fechou as portas do consultório para se dedicar à vida de blogueira. Colocou o blog em outras mídias sociais e tem hoje mais de 11 mil seguidores no Instagram e no Twitter, além de mais de 25 mil assinantes da newsletter.

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Com atualizações diárias e conteúdos que vão de moda a comportamento, Shirley mantém o estilo de quem conversa com uma amiga em uma mesa de café. Bastante procurada por marcas, ela enfatiza que só entra em seu blog aquilo que considera de fato interessante:

– Sempre gosto de ter uma coisa mais autoral. Geralmente, as assessorias ( de marcas e produtos) mandam para todos os outros blogs, que acabam ficando muito parecidos – relata.

Quando questionada sobre os planejamentos futuros, Shirley não tem nada definido. Prefere que os próximos passos aconteçam naturalmente, assim como foi para alcançar o público.

– Eu nunca tive muito planejamento pro blog. E isso foi bom pra mim porque eu sempre planejei tudo. Fiz mestrado, depois doutorado, a vida inteira eu fiz coisas que demandavam tempo. De repente veio o blog, que é fazer as coisas que se tem vontade e deixar o desejo do momento falar por si só.

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Linguagem autoral

O tom autoral dado por Ana Lia e Shirley nas postagens é um das explicações que fazem os blogs de moda serem tão acessados. Mas está longe de ser a única. A pesquisadora e doutora em Comunicação, Daniela Aline Hinerasky, que fez dessa ferramenta tema de sua tese de doutorado, argumenta que os blogs conseguiram descentralizar a comunicação.

Além disso, havia uma geração com lacuna de referências reais e próximas, como as oferecidas por blogs de moda. A linguagem das passarelas virou coloquial na mão das blogueiras que trouxeram para as telinhas do computador a moda de rua. Mas até chegarem a este formato, os blogs, que começaram como um diário pessoal eletrônico, passaram por transformações que foram estudadas por Daniela.

Num primeiro momento, foi a popularização, quando as blogueiras começaram a endossar produtos, formar opinião sobre eles e com isso atraíram a atenção das marcas.

Depois as autoras tornaram- se consagradas não só por colegas de postagens, como pela própria imprensa – em julho, a versão brasileira da revista Glamour estampou em capa dupla as blogueiras Thássia Naves, Camila Coutinho, Helena Bordon, Camila Coelho e Lalá Rudge, consideradas as tops no mercado nacional.

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Para a pesquisadora, não há problema na entrada de banners e marcas, porque blogueira é uma profissão. Mas defende que isso deve ficar claro para o leitor, afinal, as blogueiras ganharam prestígio por serem autônomas, especialistas e formadoras de opinião. Para ela, a internet é infinita.

A ressalva que faz é de que maneira o blog será gerenciado.

– Vai ter o blog como terapia ou vai querer encarar como profissão? Como vai se relacionar com o público? E isso exige rotina diária, trabalho profissional. Aprendi isso na prática e entrevistando centenas de blogueiras – encerra.

As blogueiras Camila Coelho, Camila Coutinho, Lalá Rudge, Thássia Naves e Helena Bordon na capa da Glamour, escolhidas pelas leitoras da publicação. Foto: JR. Duran/Agência RBS

Contramão

A definição do blog Shame on you, blogueira! (www.blogueirashame.com.br), criado em 2011, resume o espírito divertido do site: “promover uma reflexão sobre o conteúdo publicado nos blogs que tratam ou supostamente abordam temas como beleza e moda. Na contramão da onda de ser ‘ politicamente correto’, o blog não tem constrangimento de repercutir o que as blogueiras não tiveram constrangimento de postar”.

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