A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) aprecia nesta sexta-feira parecer que rejeita a adoção do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) como forma de ingresso de alunos a partir de 2014, com o vestibular.
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O costume é que os pareceres colocados em votação no Conselho Universitário (Consun) sejam ratificados, e as apostas são de que essa tendência se repita. Mesmo que isso aconteça, não será o fim da discussão. Ainda neste ano, os 76 integrantes do Consun deverão decidir sobre a utilização do Sisu a partir de 2015.
Saiba mais:
>>> Comissão Especial recomenda que UFRGS não adote o Sisu
A adoção do sistema, desenvolvido pelo Ministério da Educação e baseado nas provas do Enem, começou a ser tratada na UFRGS a partir de uma proposta da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). A previsão era reservar 30% das vagas de graduação ao Sisu, seguindo o exemplo da maior parte das universidades federais. As demais vagas continuariam a ser preenchidas pelo vestibular tradicional.
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O aprofundamento da proposta coube a uma comissão especial formada por cinco integrantes do Consun e cinco do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). Após um mês de trabalho, o grupo sugeriu que o Sisu não seja usado em 2014 “por razões técnicas e legais”.
Uma dificuldade seria a necessidade de definir que pesos as provas do Enem teriam para acesso em cada curso da UFRGS, tema que deveria ser aprofundado junto às comissões de graduação das diferentes unidades. O outro problema é que as inscrições para o Enem já se encerraram. Alunos que não se inscreveram e que se sentirem prejudicados por concorrer a apenas 70% das vagas poderiam, na avaliação da comissão, ir à Justiça.
– Haveria risco de judicialização do vestibular. É questão de isonomia e da necessidade de tempo para formular uma proposta – diz a presidente da comissão, Simone Valdete dos Santos.
Na reunião desta sexta, o Consun tem autonomia para tomar qualquer decisão – inclusive definir um modelo no qual o Sisu já valha na UFRGS a partir de 2014. Mas essa hipótese é considerada pouco provável.
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– A tradição é que o parecer seja aprovado, porque as comissões são muito criteriosas, dedicam tempo e estudam o assunto com profundidade. A hipótese de que durante a reunião alguém levante uma alternativa que não foi pensada é muito remota – diz o decano do Consun, Daltro Nunes.
Como o edital do vestibular deve sair entre o final de agosto e o início de setembro e como a comissão concluiu que são necessários mais estudos sobre a utilização do Sisu, a tendência é que a decisão fique para o fim do ano e diga respeito aos processos seletivos a partir de 2015. A comissão especial propôs no parecer continuar seu trabalho até outubro, quando apresentará um novo parecer ao Consun. Simone diz que ainda não é possível apresentar uma posição da comissão, mas revela uma avaliação pessoal, na condição de professora da UFRGS:
– O Sisu precisa ser aprimorado, mas é muito interessante.
“As grandes já aderiram”, disse ministro da Educação
Em entrevista concedida a ZH em junho, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, falou sobre a possibilidade de adoção do Sisu na UFRGS:
– É uma universidade excelente. As grandes já aderiram. Nós estamos aguardando.
A frase foi interpretada como uma confirmação de que a UFRGS estaria sob pressão do ministério para mudar seu posicionamento. Já há pelo menos 59 instituições públicas que usam o sistema. Uma das mais recentes adesões foi de peso: a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com 50 mil alunos, decidiu que não terá mais vestibular a partir do ano que vem.
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Para a seccional do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) na UFRGS, a pressão federal desempenha papel em decisões desse tipo. A entidade sugere que a discussão vá além do Consun:
– O ministério condiciona o repasse de dinheiro à adoção de suas políticas, o que faz a universidade se sentir pressionada. Tudo o que veio de Brasília nos últimos anos foi acatado. Queremos que a discussão seja amadurecida e que envolva mais gente – afirma Carlos Alberto Saraiva Gonçalves, presidente da seção da Andes na UFRGS.
A disseminação do Sisu é encarada como tendência nacional. A professora Roselane Costella, que leciona na Faculdade de Educação da UFRGS e pesquisa o Enem, acredita que a discussão em curso na maior universidade gaúcha é prova disso.
– A UFRGS vai acabar utilizando o Sisu. A tendência é que o Enem seja a única prova – diz Roselane.
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COMO SERÁ A DECISÃO
Confira o que pode ocorrer na votação sobre o uso do Sisu como critério para ingresso na UFRGS
Os votantes
A decisão cabe ao Conselho Universitário, órgão com 76 integrantes, presidido pelo reitor Carlos Alexandre Netto. O Consun é formado por diretores de unidades, presidentes de câmaras, professores, alunos, servidores e representantes da sociedade.
O parecer
A discussão começa com a leitura do parecer elaborado pela comissão encarregada de estudar o assunto. Esse parecer foi contrário à adoção do Sisu em 2014, sugerindo mais análises para sua possível utilização a partir de 2015.
O debate
Terminada a leitura, inicia-se o debate. Todos os conselheiros têm direito de falar e de apresentar sugestões, que podem ou não ser acatadas como emendas pelos integrantes da comissão.
A votação
O voto é aberto, e a decisão ocorre por maioria simples.
As possibilidades
Se o parecer for aprovado, o vestibular de 2014 não terá mudanças. A comissão responsável fará mais estudos e apresentará, até outubro, um novo parecer, referente ao vestibular de 2015.
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A rejeição do parecer é mais complicada. Ela implica que surja durante o debate uma proposta para tornar viável a adoção do Sisu já no próximo ano.
Sem decisão
Existe a possibilidade de que não haja uma definição hoje. Isso pode ocorrer se algum integrante do Consun pedir vistas ao parecer, depois da sua leitura. A decisão também pode ser adiada se o presidente do conselho tiver o entendimento de que há necessidade de mais tempo de discussão.
Acesso da população
Interessados podem acompanhar a discussão, com inscrição prévia na secretaria do Consun. O número de lugares é restrito.
OS PRÓS E CONTRAS
A utilização do Sisu como critério para a seleção de alunos tem gerado polêmicas. Confira alguns argumentos
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A FAVOR
– O Sisu seleciona tão bem como o vestibular. Uma simulação feita pela UFRGS aponta que, em caso de uso do Sisu, 85% dos aprovados no vestibular de 2013 também seriam selecionados.
– O Sisu é um sistema democrático, por permitir que pessoas de todas as regiões se candidatem às vagas. Facilita o acesso de alunos do Interior, que não podem viajar para fazer as provas.
– A tendência é de que a qualidade e a confiabilidade do Enem melhorem. É um exame novo.
– O Enem apresenta questões que avaliam a capacidade de raciocínio, enquanto muitos vestibulares têm um caráter conteudista, com questões que dependem de macetes e memorização.
CONTRA
– O Enem não é um teste consolidado, o que explicaria os problemas ocorridos nas edições já realizadas, como vazamento de provas e falhas gritantes na correção de redações.
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– O Sisu facilita o ingresso de estudantes de outros Estados, sem que as universidades tenham uma estrutura apropriada para recebê-los.
– Por utilizar o Enem, o Sisu beneficia alunos de Estados com escolas melhores, o que pode elitizar o sistema público de universidades.
– Como o Enem é uma prova nacional, assuntos regionais não são abordados, desvalorizando as diferenças locais.