Para o presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto Luiz d’Ávila o programa Mais Médicos poderia ter oito mil profissionais a mais inscritos, se não houvesse falhas intencionais do próprio sistema de inscrição. De acordo com ele, uma saída para falar em baixa adesão e justificar a vinda de estrangeiros e a contratação de brasileiros com diplomas estrangeiros sem validação.
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D’Ávila classificou o programa como demagogo e populista. O presidente diz que na sexta-feira ou na próxima segunda eles irão entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade para suspender várias das medidas propostas pelo governo federal como a não revalidação dos diplomas, a questão dos médicos estrangeiros e as bolsas.
Diário Catarinense – Os médicos não quiseram ir para o interior e são contra a vinda de estrangeiros. Como resolver o problema de falta de médicos?
Roberto Luiz d’Ávila – É um equívoco dizer que não aderiram ao programa. Os médicos sempre falaram que querem uma carreira de estado para o SUS. Essa é a medida para fixar definitivamente o médico no interior. O governo responde à solicitação com bolsas. Sem vínculo empregatício. O médico não quer ser bolsista. Ele quer ter emprego com garantias, como todo brasileiro. Os médicos aderiram ao programa. Mas tivemos problemas no cadastramento. Já denunciamos à Polícia Federal e à Procuradoria Geral da União.
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DC – Mas qual foi a grande dificuldade dos médicos? Não houve, como algumas entidades levantaram, um boicote?
d’Ávila – Se fosse um boicote ninguém iria se inscrever. Houve um prejuízo claro aos mais de oito mil médicos que não puderam fazer o cadastramento. Eles foram eliminados, porque constava que o registro era inválido. Um problema do software. Foram oito mil afastados do processo por erros do próprio Ministério da Saúde. O prazo também foi pequeno. Exatamente para tirar os médicos brasileiros e para se ter o argumento de que o médico brasileiro não quis ir para o interior. Eles quis ir, mesmo com bolsas e com o repúdio da categoria.
DC – O senhor disse que uma carreira é a solução e já se manifestou antes que seria uma carreira nos moldes de um juiz, que ganha o piso de R$ 20 mil. Mas R$ 10 já não é um bom salário?
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d’Ávila – Por que o juiz ou o promotor podem ganhar R$ 20 mil e os médicos não? Nós lidamos com vidas. É uma carreira com dedicação exclusiva, não vai poder trabalhar em hospital particular. Tem que ser muito bem remunerado. Considero R$ 10 mil baixo se for para dedicação exclusiva, se for só pra trabalhar meio expediente, não. Mas mais importante do que o salário seria ter uma carreira com férias e 13º . Ter os meios para trabalhar com dignidade.