Clube de pior campanha na era dos pontos corridos do Brasileiro, o Figueirense vive uma crise sem precedentes. As derrotas sucessivas – perdeu os últimos sete jogos na competição – parecem não ter fim e complicam todo o planejamento. Há cinco rodadas, houve troca de treinador – saiu Argel Fucks e entrou Hélio dos Anjos -, mas a resposta dentro de campo continuou igual. Ou melhor: piorou. Sob o comando de Argel, o time somou oito pontos em 10 jogos; com Hélio, nenhum ponto em quatro partidas.

Continua depois da publicidade

Tamanha improdutividade tem origem nos bastidores. Foi o que constatou o presidente do Conselho Deliberativo, Júlio Gonçalves, em entrevista ao Diário Catarinense.

Segundo ele, os resultados dentro de campo são reflexo de uma relação deteriorada na gestão do clube. O presidente do Conselho mostrou-se preocupado com o momento do Figueirense.

A Alliance Sports, empresa que é parceira do clube há mais de dois anos e provocou o afastamento da Brazil Soccer, do empresário Eduardo Uram, da linha de frente, ganhou força e deve assumir posições mais avançadas na administração. Significa que, em vez de ter um único presidente, o Figueirense poderá ter um grupo no comando. É claro que essa deliberação dependerá da aprovação dos conselheiros. Enquanto isso, o clube tentar encontrar um caminho para deixar a má fase.

Hélio dos Anjos, por enquanto, está garantido no cargo. Aliás, Hélio acredita muito na virada. Entende que o time tem evoluído e pode deixar a zona de rebaixamento.

Continua depois da publicidade

– A vida é essa. Nós não temos porque achar que somos os piores do mundo. Temos é que tentar ser melhores do que a gente foi até agora – explicou. ?

Entrevista com o presidente do Conselho Deliberativo do clube

Diário Catarinense – O senhor esteve reunido com o presidente Nestor Lodetti nos últimos dias para discutir o atual momento do clube e medidas que possam reerguê-lo novamente?

Júlio Gonçalves – Como presidente do Conselho Deliberativo, o futebol me mobiliza. Não fosse assim, eu não estaria neste cargo. Não discuto futebol com o presidente (Nestor Lodetti) e não dou palpites, se joga o João ou a Maria ou se vai mudar o técnico. As minhas preocupações são institucionais. Tudo isso que está se passando traz prejuízos à marca, à instituição. Trocamos ideias sobre os cuidados que julgo ser responsabilidade dos administradores. Estamos estudando o aperfeiçoamento da relação entre o Figueirense e um dos parceiros no sentido de aprofundar laços e corrigir imperfeições.

DC – E quem é o parceiro?

Gonçalves – A parceria com a Alliance pode ser aperfeiçoada e virá com disponibilidade da empresa e o interesse do Figueirense. Estamos corrigindo alguns aspectos. E insisto: não há nenhum litígio. Na verdade, existe disponibilidade dos dois lados para um ajuste mais fino. Quanto ao Eduardo Uram (que mantinha parceria por intermédio da Brazil Soccer cedendo jogadores), é uma questão que a própria Alliance, como gestora do clube, tem seus questionamentos a fazer. A questão está sendo gerenciada por ela (Alliance) e o presidente do clube.

Continua depois da publicidade

DC – A Alliance terá mais de força?

Gonçalves – Nenhuma hipótese está afastada. Vamos em busca do melhor funcionamento possível. Em SC, o Figueirense inaugurou experiências gerenciais, teve sempre um Conselho muito próximo com as empresas gestoras e a atual está sendo muito rica. O Conselho terá agora que estudar um pouco mais a forma do seu estatuto abrigar um convênio e, em cima das experiências que desenvolvemos, pensar em desenvolver um modelo sadio.

DC – Esse desequilíbrio está interferindo na área do futebol?

Gonçalves – Não tenho a menor dúvida que sim. Isso eu posso falar. Mas, mesmo sendo o presidente do Conselho, não vou criar´problemas. Isto está na cabeça do torcedor e infelizmente as questões de gestão acabaram chegando ao futebol. Me parece ser muito mais um problema ligado ao Uram do que à Alliance.

DC – O senhor entende que ainda há tempo para retomar o caminho das vitórias e se manter na elite?

Gonçalves – Acho muito difícil, mas estou na torcida, não pode ser de outra forma. De qualquer maneira, o Figueirense sobrevive a tudo isso. Se tiver que cair, vai cair. E que saia inteiro para, no ano que vem, se divertir na Série B.

Continua depois da publicidade

DC – O Conselho Deliberativo apoia o presidente Lodetti?

Gonçalves – O Conselho vai se reunir na semana que vem e, se alguém precisar de apoio, será discutido. Se tivermos alguma situação de insegurança na gestão, o Conselho se reunirá para buscar alternativas.

DC – O senhor é favorável a uma mudança no comando do clube?

Gonçalves – Fala-se muito em governança e eu conheço e gosto bastante. Não estou dizendo que isso vai ser imposto. Se houver espaço para a discussão, vejo isso com muita simpatia. Governança e direção compartilhada. Não vejo nenhuma dificuldade e é uma solução bem saudável.