Foi movida pelo senso de responsabilidade coletiva e para construir políticas públicas voltadas à população negra que Ana Lúcia Martins (PT) concorreu e foi eleita como a primeira vereadora negra de Joinville. Ela só não esperava que por isso teria sua via ameaçada antes mesmo de assumir o cargo. 

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Ainda celebrava o resultado da eleição quando se tornou vítima de um ataque racista e recebeu uma intimidação de morte pelas redes sociais. A suspeita é que as ações tenham partido de um grupo nazista. Ela levou o caso para a polícia e agora, com toda a mobilização e repercussão que o caso gerou, diz que fica ainda mais claro a importância de combater o racismo:

— Não podemos esquecer de Marielle Franco, ela não foi morta só porque era uma vereadora do PSOL. Mas porque era uma vereadora negra. O que está acontecendo comigo agora, o que aconteceu com Marielle em 2018, e o que vem acontecendo com outras vereadoras eleitas, responde as pessoas que acham que não precisa falar sobre racismo, que não precisa existir movimento negro e de que basta a gente esforçar para chegar lá. Isso mostra como o racismo, inclusive, ameaça a nossa vida.

Assim como todos os negros e negras, esse não é o primeiro caso de injúria racial que Ana Lúcia enfrenta. Mas ela afirma que a insegurança que sempre sentiu sendo mulher negra se intensificou após o episódio. Mesmo preocupada, diz que o medo não vai imobilizar.

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— Na origem de toda essa ameaça está o desejo de que eu desista. E quando eu desisto muitos de nós desistirão. Mas com muito amor e segurança, vamos responder que esse lugar é nosso também e de que nós vamos ocupá-lo. Somos 20% da população e precisamos ter uma representação mínima. Eu espero que as autoridades de Joinville se preocupem com a minha existência e segurança. Isso é um caso grave! Enquanto fica só na palavra e no xingamento, isso a gente suporta, até porque estamos suportando tudo isso faz tempo. Mas agora, quando coloca a vida de uma pessoa em risco, o mínimo que podemos esperar das autoridades municipais e estaduais é que isso acabe!

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Depois da eleição e do episódio, a vereadora afirma que o Dia da Consciência Negra, comemorado nesta sexta-feira, 20 de novembro, deve ser de protesto:

— Será um dia para todos protestarem contra o racismo. Nós não podemos mais subestimar a maldade das pessoas. Temos que nos levantar unidos com uma só voz e dizer que não vamos mais aceitar o racismo em nossa cidade, no nosso estado e no nosso país.

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