A história dos noruegueses é a que envolve mais acasos, já que seu destino final não era o Brasil. Dos 74 imigrantes que chegaram em São Francisco do Sul, 13 retornaram para o Rio de Janeiro no fim daquele mês de março. Um deles, Gjerth Olsen, 31 anos, saiu da Noruega em busca de novas perspectivas e não deixou a mudança de rumo alterar seus planos.

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O mecânico se casou, em 1852, com a suíça Anna Fischer, com quem teve seis filhos. Foi em 1997, depois de uma viagem de Iapurê Olsen, um dos descendentes, à Noruega, que a família descobriu que Gjerth deixou na terra natal mulher e cinco filhos com os mesmos nomes dos filhos brasileiros.

– Acreditamos que a saudade era tanta que ele os batizou igual. Sabemos que um dos filhos noruegueses veio ao Brasil procurá-lo – conta Esmeralda Olsen, trineta do pioneiro.

Na Colônia, a família se estabeleceu na região de Pirabeiraba. Gjerth rapidamente foi reconhecido pelas habilidades diferenciadas. Foi o responsável pela construção do primeiro engenho de araruta, mesmo sem conhecer a planta que seria beneficiada. A pesquisadora Brigitte Brandenburg explica que, nos primeiros meses, eles precisaram trabalhar na drenagem e na construção de caminhos para o estabelecimento dos lotes. Foi assim que seguiram o sentido da atual rua Doutor João Colin.

No fim de 1852, só restavam oito noruegueses na Colônia Dona Francisca, mas Carlos Ficker assegura, no livro “História de Joinville: crônica da Colônia Dona Francisca”, que sua atuação foi muito importante, uma vez que eram operários com profissões necessárias para o desenvolvimento da região.

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Depois de adultos, os filhos de Gjerth se espalharam. Olerth foi para o Rio Grande do Sul; Bernard, Georg Johannes Adolf e Gustaf Magnus para Rio Negrinho; Isach Gustaf Eduart para Canoinhas; e Maria (Anna) acredita-se que se mudou para a Argentina. Os herdeiros da família que se estabeleceram no Planalto foram responsáveis pelo crescimento do território, sendo lembrados até hoje.

Descendentes revivem lembranças

É com carinho e lágrimas nos olhos que Gisela Olsen Hardt, 76 anos, se lembra dos finais de semana passados na casa do avô Gustaf Magnus. No sítio, a família acompanhava a produção de melado, se deliciava com conservas de pêssego e se divertia com as músicas tocadas na gaita. A confraternização era pontuada pelas histórias que recordavam seu bisavô Gjerth.

O pioneirismo e a inteligência do imigrante permaneceram na família. Gustaf Magnus, por exemplo, se destacou na produção de erva-mate. Gisela comenta que seu pai, Eugênio Olsen, auxiliava o patriarca e, depois, criou o sistema de secagem de erva-mate sem fumaça, patenteando o processo. Ao se casar, resolveu se mudar com os seis filhos para Joinville, também se estabelecendo em Pirabeiraba.

Gisela casou com Norberto Hardt aos 16 anos. Assim como os outros imigrantes, mesmo com a descendência norueguesa, foi alfabetizada em alemão.

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– Estou tentando ensinar meus netos, mas está difícil – confessa.

A família de Gisela é composta por quatro filhas, oito netos e cinco bisnetos.

Eugênio era avô de Esmeralda, uma das organizadoras dos encontros da família Olsen, que se mantém até hoje. As lembranças da infância passada no sítio também estão vívidas em sua memória, tendo a fábrica de melado como ponto principal, além das viagens entre Rio Negrinho e Joinville, que chegavam a durar até três horas.

– A condição da estrada era precária, mas fazíamos piqueniques e aproveitávamos – relembra Esmeralda.

A tradição do ensino do alemão prosseguiu em sua época, lhe causando até mesmo problemas na escola.

– Sofríamos bullying por não falar português, mas, naquela época não tinha esse nome – lembra. Atualmente, Esmeralda tenta manter os costumes familiares, envolvendo o casal de filhos e os dois netos.

– Nossa família é muito forte e tenho certeza de que herdamos isso do Gjerth.

– Costumamos dizer que os Olsen não vão de elevador, sempre sobem escada – diz a prima de Esmeralda, Verônica Pries Kelling, também neta de Eugênio, que imagina Gjerth parecido com seu avô.

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– Ele gostava muito das crianças, era cuidadoso e, mesmo trabalhando na roça, usava terno e gravata. Acredito que Gjerth era assim também – relata.

Verônica passou a infância na região de Pirabeiraba, conheceu o marido ali e só deixou Joinville ao se casar.

– Ainda têm muitas curiosidades sobre nossos ancestrais que eu desconhecia.

Desde 1994, a família Olsen tem por tradição reunir os descendentes de noruegueses na Olsenfest. A festa é realizada sempre em Rio Negrinho e chega a contar com 300 pessoas de todo o país. A primeira edição foi organizada por Geovah José de Freitas Amarante, de Joinville, que é casado com Dirce Olsen Sapucaia. A reunião impulsionou Aryo Girt a pesquisar e organizar a genealogia.

– Ele sistematizou a árvore genealógica a partir das conversas com os familiares. Foi um trabalho extenso, de uns dois anos – explica Ayres Christian Olsen, filho de Aryo.

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Gjerth era bisavô de Aryo, que hoje tem 80 anos. Ele nasceu no Rio de Janeiro, onde os pais Francisco Bernardo Olsen e Frida Gertrudes Züge se estabeleceram por causa do trabalho. Com a extinção do Banco Alemão onde Francisco atuava, a família retornou para Santa Catarina, se fixando em Rio Negrinho. Para Albert Jan Olsen, outro filho de Aryo, a procura pelas temperaturas mais baixas do Planalto se justifica pela origem dos imigrantes.

– Nossos ancestrais vieram com muitos conhecimentos e culturas diferentes. Acredito que tenham subido a Serra em busca de um clima mais ameno, já que não estavam acostumados com o calor – explica.

Albert e Ayres têm mais uma irmã, Ariane Lara Olsen. Eles também herdaram o gosto pela pesquisa e pela história. Mesmo sem visitar a Noruega, os irmãos leem e se mantêm informados para repassar os conhecimentos aos outros integrantes da família e saber mais sobre o pioneiro Gjerth Olsen.

Curiosidades da família Olsen

– Hoje, a família calcula mais de 1.300 descendentes no Brasil.

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– Os troncos que mais se reúnem na Olsenfest são de Bernard, Georg Johannes Adolf e Gustaf Magnus. Durante as festas, cada família é identificada por uma cor diferente.

– Durante as Olsenfests, alguns integrantes da família usam o “bunad”, traje típico da Noruega.

– Em viagem à Noruega, Iapurê Olsen, que hoje mora em Palmas, visitou a casa em que Gjerth Olsen residiu, onde os descendentes mantêm móveis da época.

– Na reunião do dia 2 de fevereiro, foram homenageados os familiares mais idosos e mais jovens presentes. Os mais idosos foram: Erica Olsen Pries, 91 anos, e Valdemiro Olsen, 87 anos. Os mais novos: Isabela Scholz Cornelius, três anos, e João Miguel Wolff, sete meses.

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Olsenfest reúne descendentes

Desde 1994, a família Olsen tem por tradição reunir os descendentes de noruegueses na Olsenfest. A festa é realizada sempre em Rio Negrinho e chega a contar com 300 pessoas de todo o país. A primeira edição foi organizada por Geovah José de Freitas Amarante, de Joinville, que é casado com Dirce Olsen Sapucaia. A reunião impulsionou Aryo Girt a pesquisar e organizar a genealogia.

– Ele sistematizou a árvore genealógica a partir das conversas com os familiares. Foi um trabalho extenso, de uns dois anos – explica Ayres Christian Olsen, filho de Aryo.

Gjerth era bisavô de Aryo, que hoje tem 80 anos. Ele nasceu no Rio de Janeiro, onde os pais Francisco Bernardo Olsen e Frida Gertrudes Züge se estabeleceram por causa do trabalho. Com a extinção do Banco Alemão onde Francisco atuava, a família retornou para Santa Catarina, se fixando em Rio Negrinho. Para Albert Jan Olsen, outro filho de Aryo, a procura pelas temperaturas mais baixas do Planalto se justifica pela origem dos imigrantes.

– Nossos ancestrais vieram com muitos conhecimentos e culturas diferentes. Acredito que tenham subido a Serra em busca de um clima mais ameno, já que não estavam acostumados com o calor – explica.

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Albert e Ayres têm mais uma irmã, Ariane Lara Olsen. Eles também herdaram o gosto pela pesquisa e pela história. Mesmo sem visitar a Noruega, os irmãos leem e se mantêm informados para repassar os conhecimentos aos outros integrantes da família e saber mais sobre o pioneiro Gjerth Olsen.

* Textos: Letícia Caroline Jensen, especial para o AN