O incêndio na boate Kiss, que estarreceu o Brasil e gerou debates mundo afora, há exatamente uma semana, reforça o aprendizado da dor vivenciado por diferentes sociedades e nações nas últimas décadas.

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Alguns ganhos para determinados países ou certas áreas, como a segurança em voos e casas noturnas, regras de segurança em edifícios e o controle de armas só foram feitos após a perda de muitas vidas.

Segundo o professor Paul Slovic, uma das maiores autoridades do mundo em psicologia do risco, o momento para promover mudanças importantes na sociedade é aquele imediatamente após a tragédia causada pelas falhas que precisam ser combatidas. Fazer agora, seguindo as sensações causadas pelas perdas para, se necessário, depois promover ajustes ao que foi modificado.

O luto pelas vítimas na boate de Santa Maria está criando as primeiras movimentações para uma mudança no Brasil. Além das autoridades competentes pela liberação de alvarás de funcionamento de casas noturnas terem retomado, na última semana, o diálogo sobre medidas que precisam ser feitas, algumas cidades partiram para a ação, promovendo uma onda de fiscalizações.

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Em Brasília, a Câmara dos Deputados criou uma comissão especial para elaborar uma proposta de legislação nacional sobre segurança em boates e casas noturnas de shows. Na coordenação desta comissão, está o deputado Paulo Pimenta, natural de Santa Maria.

Nas próximas páginas, convidamos o leitor a conhecer algumas histórias de dor que mudaram a realidade de algumas sociedades. Certas medidas, tiveram uma abrangência mais local, que não ultrapassaram as fronteiras de um Estado ou país – à exemplo das boates nos EUA. Outras, como práticas perigosas em aeronaves, ganharam projeção mundial.

Incêndios mudam a rotina da noite

José Iglesias sentiu na pele o que os pais das vítimas da tragédia de Santa Maria experimentaram no último domingo. Concentrado nos preparativos para a virada de ano em 2004, ele teve a vida mudada em 30 de dezembro daquele ano. Um incêndio na casa noturna República Cromañón, em Buenos Aires, matou 194 pessoas. E o filho dele estava entre eles.

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Junto com as lágrimas pela perda, veio a mobilização. Nos dois anos seguintes, ele esteve à frente da Cromañón Que No se Repita.

A fundação nasceu da indignação e aproveitou o sentimento de comoção nacional para fazer pressão popular e criar uma comissão de investigação das boates. O trabalho encontrou um cenário de corrupção. O resultado foi a prisão de Omar Chabán, um dos reis da noite portenha; e a queda política de Aníbal Ibarra, prefeito de Buenos Aires cotado para ser candidato a vice-presidente de Néstor Kirchner.

Houve mudanças no departamento de fiscalização, as leis se tornaram mais duras e todas as boates foram registradas.

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Gina Russo está desolada com o acontecimento em Santa Maria. Ela fala com autoridade de quem enfrentou fogo e perdas numa boate. O enredo de Rhode Island, Estados Unidos, é parecido com a tragédia brasileira. Show pirotécnico de uma banda que termina em incêndio num local superlotado. Em meio a fumaça, calor e desespero, ela perdeu o noivo e teve 40% do corpo queimado, o que exigiu 54 cirurgias.

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