Numa época de cidades isoladas, meios de comunicação precários e viagens em carroças, o jornalista e escritor Tito Carvalho desvendou o modo de vida e a cultura de uma região de difícil acesso, a Serra Catarinense. Nos contos, romance e crônicas, apresentou o regionalismo de Santa Catarina e a dimensão do povo. Embora nascido em Orleans, no Sul do Estado, no ano de 1896, ele subia as montanhas para passar férias na casa de parentes, em São Joaquim. Assim, familiarizou-se com o inusitado, inclusive para muitos catarinenses: a paisagem, o clima, usos e costumes da vida campeira.
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Ao olhar próprio deste conjunto, adicionou uma força criadora e um trabalho com esmero para escrever contos. Os personagens ganharam o sotaque e o dialeto dos serranos. O resultado pode ser conferido nos livros que tornaram-se marcos do regionalismo e de originalidade na literatura: “Bulha d’Arroio”, publicado em 1939, com a maioria dos contos escritos de 1920 a 26; e o romance “Vida Salobra” (1963). Desde então, essas narrativas transportam os leitores para a Serra de Santa Catarina.
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Filho do comerciante e político Antônio Luiz Gomes de Carvalho, Tito Carvalho destacou-se também como jornalista. Com apenas 15 anos, já escrevia para os jornais do Sul do Estado. Ainda nos anos de 1910, casou-se com a prima Lorena Cascaes, mudou-se para São Joaquim, onde tornou-se secretário municipal e iniciou o jornal “Correio Serrano”. Como jornalista e em outros cargos, trabalhou em diversas cidades do Estado e na então capital do país, o Rio de Janeiro. Por vezes, assinou com os pseudônimos “João, apenas”, “João A. Penas” e “J. A. Penas”.
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Na década de 1920, a convite do governador de Santa Catarina à época, Hercílio Luz, integrou a equipe do jornal República, do Partido Republicano Catarinense, e ingressou na Academia Catarinense de Letras. Por sete anos, de 1946 a 1953, foi cronista parlamentar na Câmara e no Senado (RJ). Neste período também trabalhou numa agência de notícias. Entre os eventos que cobriu, esteve na 9ª Conferência Internacional Americana, que reuniu em Bogotá (Colômbia), representantes de 21 Estados. Naquele ano do encontro, 1948, o candidato a presidente da Colômbia, Jorge Eliécer Gaitán, foi assassinado, desencadeando um dos maiores conflitos do país. Os artigos da cobertura de Tito Carvalho tiveram grande repercussão no Brasil.
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Em 1956, voltou a morar em Florianópolis e, cinco anos depois, assumiu a direção da Biblioteca Pública do Estado, cargo que ocupava quando faleceu em 1965. Diversos de seus textos ficaram dispersos nos jornais e revistas que colaborou. Parte das crônicas recebeu uma edição póstuma na coletânea “Gente do meu caminho” (1997). Retratou nesse gênero literário o cotidiano e os acontecimentos que movimentaram SC e as repercussões no país, assim como as ocorrências nacionais com extensão no Estado.
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Como cronista de três períodos históricos – República Velha, Era Vargas e República Populista – e também como contista que deu voz à região interiorana, Tito Carvalho é parte da memória de SC.
*Texto de Gisele Kakuta Monteiro
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