O número 231 da agitada Rua Floriano Peixoto guarda um tesouro antigo, gelado e cercado de histórias. Mais precisamente uma receita de sorvete simples formulada em 1937, trazida por um casal de italianos que trocou de mãos e hoje pode ser apreciada bem no Centro de Blumenau.
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A sorveteria Schmitt, famosa entre os turistas e os próprios blumenauenses, possui um guardião sentado em uma cadeira na porta do estabelecimento. Um senhor simpático, com os cabelos penteados rigorosamente para trás, que cumprimenta quase todo mundo que passa ali em frente.
O seu Schmitt, como Euzebio Schmitt, de 79 anos, é chamado, é dono do local e é um amante dos sorvetes, que envelheceu atrás dos balcões. Muitos o conhecem, mas poucos sabem da história do homem que molda casquinhas há 54 anos.
Nascido em 1946, em Gaspar, seu Schmitt não fugiu à regra da época e trabalhou na roça na infância e na juventude. Quando fez 18 anos, se alistou no exército e serviu na então recém-inaugurada capital federal, Brasília, e viu de perto a rotina do então presidente João Goulart.
Ao fim do serviço militar, Euzebio, ou melhor, Schmitt, voltou para Gaspar. Talvez como prenúncio do hábito de ficar sentado na porta, o primeiro emprego veio em 1963, quando o chefe do departamento trabalhista da Souza Cruz perguntou se ele queria trabalhar como porteiro na empresa. Euzebio saiu do trabalho em que ficou durante quatro anos, na indústria de cigarros, e em 1967, descobriu o ramo que iria ficar pelos próximos 50 anos de vida. Foi na extinta “Sorveteria Flórida”, também no Centro, que o jovem aprendeu sobre a arte de fazer os sorvetes.
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– Comecei a trabalhar na sorveteria. Aí fiquei ali aprendendo como se fazia o sorvete até que os donos quiseram fechar a sorveteria e me deram as maquinas se eu quisesse continuar. Eu quis, sempre gostei, fazia bem feitinho e estou aí até hoje, foi isso que me deu tudo o que eu tenho – lembra seu Schmitt.

Ele conta que a receita dos sorvetes foi trazida para região por um casal de italianos, pais da antiga patroa e que ele pegou para dar continuidade. Até dá detalhes dos ingredientes e revela o motivo do sorvete ser tão procurado.
A origem da receita
– Não tem nada de muito especial: vai água, leite, açúcar, ovos, araruta e os pedaços de frutas dos sabores que se quer fazer. As pessoas gostam do sorvete e vêm o ano inteiro aqui porque é tudo natural, com frutas, sem essência e nada artificial – afirma.
A clientela é tão fiel e assídua que mesmo em uma tarde chuvosa de quinta-feira, o movimento de pessoas em frente ao balcão é intenso. Quem conhece, trabalha ou passa por ali, para e faz o pedido entre os 25 sabores, que incluem jabuticaba, manjericão e coco, um dos mais pedidos.
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Ideia é seguir a história com a família
Ao longo da trajetória de 41 anos no ponto da Rua Floriano Peixoto, o local já passou por várias enchentes, desastres naturais, chegou a ser interditado, mas nunca perdeu a popularidade. Tanto que o objetivo a partir de agora é manter o nome vivo para que a família dê continuidade à história.
– Já estou maduro. Quero fazer as coisas, não dá mais, e aí eu vou tocando como dá, vou ajudando – afirma seu Schmitt sorrindo.
A sorveteria atende na Rua Dr. Nereu Ramos, 265, no bairro Coloninha, em Gaspar, e na Rua Floriano Peixoto, 231, em Blumenau.