Imagine um grupo de bombeiros saindo em disparada de bicicleta e carregando baldes de lona para combater as chamas de um incêndio numa cidadezinha de cerca de 15 mil habitantes. Uma cena surreal e improvável para qualquer município nos dias atuais, mas que retrata o cenário das primeiras ações do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville. Nesta segunda-feira, a corporação comemora 123 anos de fundação.
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Daqueles anos de bravura improvisada e pioneirismo restam apenas lembranças materiais, muitas delas expostas no próprio museu da instituição, e recordações na memória de quem também ajudou a construir a história da corporação de bombeiros voluntários mais antiga do Brasil. Heróis anônimos, como Edgard Seiler, de 64 anos, um veterano ainda dedicado ao trabalho voluntário.
Era uma quarta-feira, conta Edgard, dia 28 de junho de 1967, quando o então adolescente de 16 anos passou a usar o uniforme dos bombeiros pela primeira vez. Ele trabalhava numa gráfica no Centro e, quando havia ocorrências, se deslocava com os companheiros para atender a chamada.
Claro que o aparato à disposição naquela época já era mais desenvolvido do que nas primeiras décadas da corporação, mas ainda assim uma realidade muito diferente de hoje.
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-Eu trabalhava na rua Max Colin e conseguia ouvir o alerta aqui da sede dos bombeiros. O Centro inteiro da cidade ficava sabendo porque não havia tanto barulho e movimento como agora. Hoje em dia, nos comunicamos até pelo WhatsApp – compara Edgard.
A maioria das ocorrências era de combate a incêndio, recorda-se o experiente bombeiro. Muitos deles, incêndios criminosos.
-Impossível esquecer dos incendiários, no final da década de 70. Quase todo domingo à tarde tinha alguma coisa. Aquilo me marcou – lembra.
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Hoje, a maior parte da estrutura da corporação é voltada ao atendimento dos acidentes de trânsito. Quem entra em cena nas ocorrências, agora, é o filho de Edgard. Por um capricho do destino, o único dos três filhos dele que não foi bombeiro mirim na infância acabou seguindo os passos do pai depois de adulto.
-Foi por acaso. Eu também era impressor gráfico, como meu pai. Acabei fazendo um curso de enfermagem e peguei gosto pela área da emergência. Isso me influenciou a também querer ser bombeiro. Acho que a paixão está no sangue. É um vício do bem – destaca Éder Seiler, 29 anos, bombeiro voluntário desde 2013.
Do trabalho na corporação, pai e filho lamentam apenas o convívio com algumas cenas tristes e inevitáveis. Ossos do ofício, dizem, que também fazem deles pessoas melhores.
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De socorrista a coordenadora
Se o sonho não era ser jogador de futebol, quase todo menino talvez já tenha pensado em virar bombeiro quando crescesse. Mas e as meninas? Ainda pequena, Muriel Rosa Arins Soares, 31 anos, decidiu que seria a exceção num meio dominado pelos homens. O que fez a cabeça dela foi uma experiência traumática na infância, quando a família viu a casa de madeira ser destruída pelo fogo.
-Vi os bombeiros trabalhando e aquilo ficou na minha memória – conta.
Aos 18 anos, ela fez o curso para ser bombeira voluntária e entrou para a corporação. A partir de então, trilhou um caminho que pode abrir as portas para outras mulheres: foram seis anos como socorrista, depois telefonista, rádio-operadora e hoje divide a atenção nas coordenações da Central de Emergência e do Centro de Ensino e Instrução.
-Sou muito metódica, valorizo a disciplina. Isto foi percebido pelos meus superiores. Hoje, sou a única mulher nos bombeiros em posição de chefia – destaca.
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Mãe de uma menina de 11 anos e de uma bebê de cinco meses, Muriel não deixou que os compromissos familiares a afastassem dos bombeiros. Pelo contrário.
-As duas coisas que mais valorizo na vida são minhas filhas e a instituição. Passei a criá-las perto do meu trabalho. A minha família faz parte disso – valoriza.
A CORPORAÇÃO
Bombeiros voluntários operacionais/ brigadistas: 249 voluntários
Bombeiros em formação em 2015: 55 alunos, entre mais de 200 inscritos;
Bombeiros mirins e banda de música: 300 bombeiros
Bombeiros efetivos operacionais: 153 bombeiros
Bombeiros aeroportuários: 33 bombeiros capacitados em emergências aeroportuárias
Bombeiros efetivos mais funcionários administrativos: 194 bombeiros
Bombeiros operacionais (efetivos mais voluntários): 369 bombeiros
Bombeiros brigadistas: Aproximadamente 1 mil bombeiros _ (acionados em situações de calamidade pública)
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Total de funcionários e bombeiros da corporação de Joinville: 1,5 mil pessoas
Infraestrutura: 10 unidades, sendo 1 administrativa, 1 na central de emergências e 8 operacionais
Ocorrências em 2014: 5,5 mil