O batuque da bateria já ecoa pelos quatro cantos da região. As letras caíram nas graças das comunidades e os ritmos embalam os ensaios. A menos de três meses do Carnaval, as escolas de samba da Grande Florianópolis já estão a todo o vapor para fazer, em 2019, o melhor desfile de todos. Desta vez, a sinalização positiva do poder público de que a folia vai sair, incluindo o desfile do grupo de acesso, só aumenta a empolgação dos sambistas. A Hora apresenta os enredos e as letras dos sambas escolhidos pelas seis agremiações do grupo especial de Florianópolis. Fique com um gostinho do que vai balançar a Nego Quirido no ano que vem.

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Consulado

A escola de samba do bairro Saco dos Limões, em Florianópolis, levará à passarela um enredo que fala sobre o amor, uma história contada a partir da perspectiva do Homem de Lata do Mágico de Oz. Ele não possui coração, mas seu maior desejo é ter um. Durante sua jornada em busca do coração, encontra muita corrupção, fome, tristeza e, aí, se questiona se precisa mesmo deste órgão dentro de si. Mas, como tudo na vida, existe o lado ruim e o lado bom. Ao chegar à escola de samba, ele encontra o amor e o desfecho desta história poderá ser conferido na Passarela Nego Quirido.

A escolha do samba-enredo 2019 foi por meio de um concurso. Sete composições foram inscritas e a escolhida por unanimidade foi a dos compositores Conrado Laurindo, Edson do Tamborim, Tabajara Ortiz, Wilson Silva, Wagner Amaral e Cleber. O autor do enredo é Raphael Soares.

Segundo Gisele Quadros, diretora cultural, a Consulado será a primeira a divulgar o samba no Spotify e isso facilitará o acesso de toda a comunidade ao samba-enredo.

Ensaios

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Os ensaios acontecem na Arena Consulado, na Rua Custódio Fermino Vieira, 20, Saco dos Limões, todas as terças-feiras, a partir das 19h30min. A novidade deste ano é a ala das passistas Plus Size. Para participar de uma as alas ou da bateria é só chegar.

Enredo: “Où l’amour sera roi – Onde o amor será rei”

Sinto um vazio no peito

Ao ver esse mundo feroz

Talvez de metal seja feito

Buscando o encanto na terra de Oz

Se o mal no caminho se erguer

O medo não vai me deter

As sombras eu vou superar

Mas vejo na humanidade

Tanta dor, tanta maldade

Brilhantes olhos de amantes do poder

Adormece na calçada o irmão

Planta sonhos, colhe latas… Do coração

Voam corvos de gravatas em batalhões

Quanta fúria, preconceito, em seus canhões

Os cavaleiros espalhando intolerância

Quando a voz da ignorância se faz ecoar

O ouro no altar, o sangue nas mãos

A fome matando a ilusão

Eu vi brilhar o arco-íris da aliança

Aquece a esperança e embala

No colo de mãe, a dor já se cala

O sentimento sagrado… Amar e também ser amado

A ponte que liga a paixão, fonte de inspiração

Num reino vermelho e branco

Vem me abraçar, me faz sonhar

E deixa então contagiar eu e você

Até o amanhecer

Minha forma de carinho é cantar

Mais um samba pra eternizar

Aqui encontrei o amor na raiz

Ser Consulado me faz feliz

Unidos da Coloninha

A Gigante do Continente criou um enredo para homenagear a cidade catarinense conhecida como a Dubai brasileira: Balneário Camboriú, que fica a 80 quilômetros da Capital e recebe milhões de turistas todos os anos.

O samba conta um pouco da história da cidade, desde os primeiros habitantes, índios tupis-guaranis, os costumes e a cultura trazidos pelos colonizadores portugueses na figura de Baltazar Pinto Corrêa, a primeira igreja construída no Arraial do Bom Sucesso, onde hoje é o bairro da Barra. Passa pela arquitetura e a engenharia civil com seus arranha-céus tão famosos no mundo todo, além do zoológico, o Cristo Luz e o Bondinho aéreo, que não poderiam ficar de fora, e, claro, a vida noturna agitada.

A Unidos da Coloninha fez a escolha em um concurso. Foram 12 inscritos e o vencedor foi o dos compositores Carioca, Wilson Bizzar, Vicente Marinheiro, Paulinho Carioca, Evandro Malandro e Badéca. A agremiação campeã do Carnaval 2017 pretende voltar com tudo em 2019. Thiago Martins, diretor de harmonia, diz que a escola pretende surpreender e fazer um Carnaval para voltar a ser campeã.

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Ensaios

Ocorrem toda terça e quinta-feira, das 20h às 23h, no setor B do estádio do Figueirense, o Orlando Scarpelli, no bairro Estreito. Para participar é só procurar a escola durante os ensaios.

Enredo: Entre matas, sol, mar e areia, surge a Dubai brasileira

Se tem batucada da Unidos eu vou, eu vou

A Gigante do Continente chegou

Paixão pra vida inteira

Comunidade guerreira

Abraça a Dubai brasileira

Um pedaço de paraíso

Onde as colinas mergulham ao mar

Nudez sem maldade tupis-guaranis

Os verdadeiros donos dessa terra

Antes do açoriano chegar

E se encantar com a beleza

Que o mundo a de vislumbrar

Balaios, rendas e redes, tramóias, esteiras, gaiolas, tear

São mãos tecendo a inspiração

Sob o poder da criação

A cozinha açoriana veio influência

Com sua gastronomia enriquecer o paladar

Tradições, festas e danças, e a fé em devoção

E o povo vai seguindo a procissão

Planejamento, investimento

Tecnologia arquitetura genial

Melhor qualidade de vida

Realmente é de encantar os olhos, o seu visual

Vou abraçar a noite me jogar nos teus braços

Deixar o dia clarear

Tantos turistas tantos lugares

E no bondinho vou me apaixonar

No parque voltar a ser criança

Pelo Cristo Luz me fascina

Balneário Camboriú

Esse lindo enredo vai te exaltar

Dascuia

A escola da comunidade do Morro do Céu vai para a passarela mostrar o mundo encantado do estilista catarinense Gesoni Pawlick. Nascido no interior do Estado, Gesoni mudou-se para Florianópolis aos 13 anos, onde se casou, teve uma filha e se tornou estilista de renome no mercado de vestidos de noivas.

A escola faz um paralelo com a mitologia grega, sendo Gesoni um dos escolhidos para propagar o legado de Apolo, Deus das Artes e da Ordem. Usando tecidos e rendas simples, Gesoni confeccionou roupas que vestiam por completo a “alma feminina”, pois eram feitas com o coração. Mas foi nos vestidos de noiva, cravejados com cristais europeus e rendas francesas, que ele se consagrou.

Gesoni faleceu em maio de 2017 e, em 2019, vai para a Passarela Nego Quirido para transformar o templo da folia no templo de adoração a Apolo. No alto do Monte Olimpo, Gesoni pergunta, ao lado de Apolo, aos quatro cantos do Universo: “Com que roupa eu vou?…”, título do enredo da verde e rosa.

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Há dois anos a Dascuia não realiza concurso para escolher o samba-enredo. Neste ano, o samba foi composto por Andre Filosofia, Nando do Cavaco, Diley Machado e Alcides.

Ensaios

O ensaio da bateria acontece toda segunda-feira, a partir das 20h30min, na Passarela Nego Quirido. A escola também oferece oficina de bateria para a comunidade das 19h30min às 20h30min na passarela às segundas. Quem quiser participar é só chegar.

Enredo: Com que roupa eu vou? Ao mundo encantado de Gesoni Pawlick

O astro rei do universo iluminou

O destino do Morro do Céu

Da morada dos deuses

Eros flechou

Um menino de sonhos ao léu

Marejam meus olhos de emoção

Desponto na missão da arte propagar

E no princípio do meu legado

Nos palcos de tablado, asas para suplantar

Em obras geniais, me inspirou

Fui perspicaz e esbocei

Novos traços em devaneios

Lados opostos unidos era o meu anseio

Eh Luana, presente de Deus

Eh Luana, a luz dos sonhos meus

É luxo, requinte e beleza

Nas rendas riqueza, o talento a florescer

Alma feminina pura, na alta costura

Um nome a resplandecer

Vem para o meu atelier

Mon amour, ma vie: Prêt-à-porter

Muitos prêmios conquistei

Dádivas da consagração

Na Dell” Arte me inspirei

“Mago das tesouras” viajo na recordação

No templo do samba estou

É teatro, moda e carnaval

Oh! Quanto esplendor! Apólo imortal

Com que roupa eu vou… Eu vou, eu vou

Dascuia vai me levar… Oba, oba

Gesoni Pawlick eu sou

De verde e rosa eu quero sambar

Nação Guarani

A escola de Palhoça levará à passarela a cultura do Boi Caprichoso, uma das duas agremiações de boi-bumbá rivais que competem anualmente no Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas. Ele é conhecido como o guardião da floresta, defende as cores azul e branco e seu símbolo é a estrela azul. A escola deve contar também a história dos povos indígenas.

O samba-enredo da Nação Guarani foi escrito pelos compositores Camargo, Roberto Gonzaga, Márcio Porto e Emilsom. O samba foi contratado, ou seja, não houve concurso.

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Rita de Cassia Macedo, vice-presidente da agremiação, informa que alguns componentes da escola vão para Parintins buscar inspirações para as fantasias. Segundo ela, a escola está confiante que fará um ótimo trabalho e que terá ajuda da prefeitura.

Ensaios

Os ensaios da bateria, ala de passistas, ala das baianas e ala coreografada ocorrem todas as terças e quintas-feiras, das 19h30min às 22h, na sede da escola, na Grecea, na Rua Germano Spricigo, bairro Caminho Novo. A escola também abriu uma ala para a criançada. Quem quiser participar é só ir até a sede da escola nos dias dos ensaios.

Enredo: Guarani sou teu povo, sou nação, sou caprichoso

Eu vou da vivas para vida quando entrar na avenida

Cantando o lindo enredo da Nação

O nosso samba é guerreiro

O nosso amor verdadeiro

É Nação Guarani no coração

Com lendas, folclore, magia, miscigenação

Ópera cabocla regida por uma grande nação

De força singular, que faz a galera cantar

Vem cá dançar, sorrir, sambar

Que a Nação vai desfilar

Sou Guarani, sou teu povo, sou nação, sou caprichoso

Diversos personagens, rituais celebrações retratam a cultura de um povo

A lenda do boi encantado renasce na força de Parintins

Nosso boi caprichoso é azul

Vem dar show de cultura no Sul

E a Nação Guarani com seus índios guerreiros sua marujada

A emoção tá fluindo no ar

Coração que não quer ser contido

E com garra e orgulho levanta a toada na Nego Quirido

A toada virou samba, caprichoso é a Nação

Unidos num só coração

O Boi Bumba, samba legal e é enredo do meu Carnaval

Os Protegidos da Princesa

A escola do Morro do Mocotó atravessará a Passarela Nego Quirido com uma homenagem à população negra e às religiões de matrizes africanas. Pretende levar o público ao mundo das divindades africanas, uma das mais importantes festas da civilização brasileira.

Neste ano não houve concurso. A Protegidos escolheu o samba que a consagrou como campeã em 1987. O enredo A Festa dos Orixás, de autoria de Marquinho do Cavaco, já é conhecido pela comunidade e foi escolhido para homenagear os 70 anos da escola, completados em 18 de outubro.

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Ensaios

Os ensaios da bateria e da ala das passistas ocorrem todas as terças, quartas e quintas na Passarela Nego Quirido, a partir das 20h.

Enredo: Xirê – A festa dos Orixás

Olho lá do morro a avenida

Vejo um retrato magistral

É a Protegidos mostrando o Candomblé

No desfile do nosso Carnaval

Epa Babá Oxalá

Epa Babá Oxalá

Saudando a Casa Grande

Com a Festa dos Orixás

Olorum, Odudua, Oxalá

Desta Trindade Primeva

Estão presentes em tudo e em todas as Eras

Surgiram as demais realezas

Iemanjá das águas origina

Oxóssi domina a natureza

E nanã guarda os mistérios da vida

Xangô, Exú, Obaluaiê

Oiá, Ogum, no meu xirê

Embaixada Copa Lord

A agremiação do Monte Serrat usará o sol como tema central do enredo. A relação humana com o sol, como elemento de vida, cultural, religioso, de símbolo e de representação. A criação do enredo foi inspirada em diversos sambas anteriores da escola, pois muitos, inclusive, já citavam o astro rei. Um exemplo é o samba-enredo de 1985, que dizia: “O astro rei, mestre-sala lá do céu, e a lua, porta-bandeira, girando nesse mesmo carrossel”.

O mestre-sala no enredo de 2019 será representado pela figura mais importante que a escola já teve, o Seu Terry, falecido em 2017. De alguma maneira, o enredo homenageia de forma poética o Seu Terry por sua paixão e dedicação ao Carnaval e à escola “mais querida”. Ele será o mestre-sala do céu.

Ensaios

O ensaio da bateria acontece todas as segundas-feiras, das 20h às 22h, na quadra da escola, na Rua General Vieira da Rosa, 241, Centro de Florianópolis. O ensaio das passistas e o ensaio geral da escola devem começar na primeira semana de janeiro.

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Enredo: O mestre-sala do céu 

Compositores: Barão, Fred Inspiração, Jean Leiria, Nellipe Costa, Robson Lourenço e Willian Tadeu


Eu sei que a alvorada é mais bela

Riscando as vielas do Monte Serrat

A vida parece criança

Que, ao vento, dança pra se transformar

Se a Lua é porta-bandeira

O Sol é centelha criando ilusões

Carrega a alma latina

E a fé que ilumina as religiões

Divino mestre-sala

Fazendo de alas as constelações 

Manhãzinha vê a tarde chegar

A flor menina olhando no céu

Seu eterno amor bailar

Tão linda luz corteja a praia

Se espraia em cidades febris

Quero secar todo pranto

Colher pelos campos um tempo feliz

O astro-rei desenha um crepúsculo que arde

Pintando numa tela sua arte

E, ao compositor, inspiração

Sol, eu te peço, ao se pôr

Acenda o amor que eu cultivei

É ela… a Embaixada mais querida

Que alumiou a minha vida

E por acaso eu sonhei

Ê viola

Que derrama serenata

Nessa noite enluarada

Traz um verso que clareia

Incendeia lá no alto o candeeiro

Até lembra o verdadeiro mestre-sala popular