Educação gratuita e de qualidade é uma das maiores reivindicações de diversas cidades. O que ocorre, porém, quando a oferta é maior que a demanda? O Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) de Jaraguá do Sul convive com essa realidade: ao invés de disputa por vagas, há classes vazias.

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Quatro cursos da instituição apresentam baixa procura, um deles é a licenciatura em física. Segundo a professora de pedagogia da instituição, Catia Barp Machado, as áreas ligadas às ciências da natureza têm pouca busca de alunos em todo o País. No caso da física, há regiões que apresentam falta de profissionais. Ela lembra do caso de Jaraguá do Sul: antes do começo do curso, inaugurado em 2009, a cidade contava com apenas três professores formados para receber os estagiários. Hoje, a situação mudou e o município não sente esse impacto. Porém, a baixa procura preocupa.

– São 40 vagas por semestre e apenas 20 entram. Desses, cinco ou seis se formam – conta.

Um dos fatores é a valorização profissional. Lutas constantes dos professores por melhorias e a ideia geral de que a profissão é desvalorizada no Brasil afastam jovens dessa possibilidade futura. Representante do Sindicato dos Trabalhares em Educação (Sinte) em Jaraguá do Sul, Francisco Assis Rocha, vê a questão salarial como fundamental.

– De todos os cursos de graduação, as licenciaturas são as que têm o menor rendimento futuro – analisa.

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Se a ideia de trabalhar com educação parece afastar alguns jovens, outros veem aí uma chance. Quem garante isso é a aluna da licenciatura Sarah Orthmann, 20 anos, que está no 5º semestre de física. Com o sonho de cursar engenharia, ela optou pela física porque o curso é gratuito e não exigiria uma mudança de cidade.

– O curso abre muitas portas, não apenas para ser professor.

Baseado em um currículo que alia pesquisa, desenvolvimento de pensamento crítico e estágios, o curso apresenta uma visão geral da ciência. Segundo o coordenador do curso, Jaison Vieira da Maia, apesar de a maior parte dos egressos atuar em escolas da região, há oportunidades de trabalho como professor particular, em museus de ciências e técnico de laboratórios, entre outros.

Da fábrica para a escola

Apesar de as malharias serem uma das atividades industriais mais representativas da cidade e região, a procura pelo curso técnico na área não atinge as expectativas dos professores. Das 64 vagas abertas por semestre, a média é de 40 alunos estudando – a maioria à noite, que costuma preencher 30 vagas, contra cerca de dez à tarde. Na formatura, são quase 30 por semestre. A questão do horário parece fundamental. O professor Ronaldo dos Santos Rodrigues conta que a cultura jaraguaense prima pelo trabalho ao longo do dia e estudo à noite, o que reduz as chances de integrar um curso diurno.

Segundo Rodrigues, 90% dos alunos são trabalhadores da indústria que desejam se capacitar e alcançar melhores vagas dentro das empresas – o que de fato acontece com muitos. Rodrigues e os professores Gislaine Pereira e Vandré Stein citam diversos casos de melhorias de emprego observadas durante o curso, que dura dois anos.

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– Tem empresas que dão aumentos, outras possibilitam promoções. Há valorização – afirma Rodrigues.

Apesar do reconhecimento, a busca por melhores oportunidades parte dos próprios funcionários. Para os educadores, que também já passaram por fábricas da região, o curso é tanto uma oportunidade de crescimento individual quanto de desenvolvimento das indústrias.

– Há pouca pesquisa dentro das indústrias, e os profissionais às vezes acabam apenas repetindo ensinamentos dos mais velhos. Porém, às vezes até o erro se repete – avalia Rodrigues.

No curso, a teoria embasa a técnica, e todos os pontos do processo de uma malharia, da produção à gestão, são ensinados. Desde operários até donos de fábricas se beneficiam dos aprendizados, que garantem profissionalismo à atividade.

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Uma questão de horários

No campus do IFSC no bairro Rau, os cursos de eletrotécnica e mecânica também têm dificuldade com o preenchimento de algumas vagas. Lá, a questão principal parece ser o horário. Das 64 vagas semestrais ofertadas por curso, é comum que haja lista de espera à noite, porém pouca procura no período vespertino, que tem média de 20 alunos. Compartilhar o dia entre trabalho e estudo é o motivo principal da dificuldade.

– Nossos alunos da tarde trabalham no primeiro turno. Por isso, adaptamos nosso horário e as aulas começam às 14h30 – conta o professor Aldo Zanela.

Nos dois turnos, os alunos são, em sua maioria, trabalhadores da indústria, que almejam melhores vagas. As opções após a formação são diversas. Em eletrotécnica estuda-se tanto a automação industrial quanto os projetos técnicos, que permitem atuação no setor de serviços. Já na mecânica, o conhecimento em manutenção industrial e fabricação mecânica é ponto-chave. Os dois cursos formam tanto profissionais que estão aptos a trabalhar dentro das fábricas quanto ensinam possibilidades de serviços e outros negócios.

Processo seletivo

O Ifsc de Jaraguá do Sul está com 344 vagas abertas para cursos de nível técnico e de graduação. As aulas começam no segundo semestre de 2015. Para saber quais os cursos estão com vagas abertas acesse www.ifsc.edu.br. São dez cursos no total, todos gratuitos. As inscrições vão até 25 de maio, com taxa de inscrição de R$ 30 para os cursos técnicos e R$ 40 para os de graduação. As inscrições devem ser feitas no Portal do IFSC (www.ingresso.ifsc.edu.br).

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