Nos últimos anos, o Brasil se tornou um dos países que mais acompanha a NFL, liga de futebol americano dos Estados Unidos. Só nesta temporada, 500 mil brasileiros assistiram à final da competição, o Superbowl, pelo canal ESPN. E o gosto pelo “primo” norte-americano da grande paixão nacional já ultrapassa as telas de TV. Neste ano, pela primeira vez a seleção brasileira, também conhecida como “Brasil Onças“, classificou-se para o Campeonato Mundial de futebol americano, que tem início esta semana, em Ohio, nos Estados Unidos – o Brasil estreia na quinta-feira, contra a França.
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Seleção de Futebol Americano faz vaquinha para Mundial
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As pretensões são altas: chegar ao menos em uma semifinal, o que significa superar equipes como França e Austrália, com muito mais tradição no esporte. Por aqui, a primeira liga nacional com equipamento foi organizada em 2009.
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Desde então, Santa Catarina tem se destacado nacionalmente ao lado de Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. Três times concentram os melhores atletas: Timbó Rex, atual vice-campeão do torneio nacional Touchdown, Jaraguá Breakers, campeão em 2013, e São José Istepôs. Todos terão representantes na competição entre seleções.
Os oitos atletas de SC que defenderão o Brasil chegam esta terça-feira em “território inimigo”. A viagem começou na segunda, mas a empreitada para conseguir participar do evento foi muito mais longa – para muitos, sequer terminou. Isso porque, além de brigar em campo pela classificação contra o Panamá, foi preciso unir forças para superar os obstáculos impostos pelo caráter amador do esporte no país.
Entre faculdade, trabalho e treinos, os atletas tiveram que encontrar tempo para buscar ajuda e pagar a viagem ao Panamá, em janeiro, e agora ao Mundial, do próprio bolso. Pior, precisaram fazer uma vaquinha online para arrecadar verba e pagar parte da inscrição de 120 mil reais no evento, que estava a cargo da Confederação Brasileira de Futebol Americano. Mas agora é hora de esquecer os sacrifícios e jogar, para fazer valer tanto esforço.
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Paixão jaraguaense
Três atletas do Jaraguá Breakers estarão vestindo a camisa verde e amarela no Mundial. Um dos convocados é o veterano baiano Rodolfo Santos, que aprendeu a jogar futebol americano há sete anos em Brusque. Natural de salvador e catarinense de coração, o safety dedica todos os finais de semana ao futebol, viaja de Balneário Camboriú a Jaraguá do Sul para treinar o esporte que virou paixão.
A seleção também abre espaço para novos talentos. Junior Krüger fez uma seletiva há dois anos para jogar pelos Breakers e se destacou rapidamente segurando os adversários na defesa como offensive line. Segundo o atleta gaúcho, que reside em Guaramirim, como a maioria dos brasileiros tinha como esporte preferido o futebol de campo, até que o treinador Dennis Prants apresentou o mundo das jardas.
Neste ano, o time jaraguaense conta ainda com o reforço de Bruno Rosa, o Sapo. O carioca está na seleção desde que o grupo foi fundado, em 2007, e estreia nos “Quebradores” após o Mundial. Segundo Sapo, ser convocado para a Copa do Mundo foi uma das maiores emoções da carreira.
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Fortaleza do Istepôs
Paulo Torquato já gostava de futebol americano mesmo antes de poder jogar. Quando ainda fazia cursinho vestibular, um professor o viu carregando uma bola e perguntou se conhecia o São José Istepôs. Ele foi atrás do time da Grande Florianópolis para fazer uma seletiva, mas ainda não tinha idade suficiente.
Quando completou 18 anos, em 2011, descobriu que o peso também estava abaixo do necessário. Comeu o que podia e tomou três litros de água para finalmente fazer parte da equipe que lhe despontaria para o cenário nacional, sendo convocado desde o início de 2014 para a seleção brasileira.
Defensive back, ele faz a última linha de defesa, isso se a bola passar por Vinicius Zanon, na primeira linha, e Gerson Santos, na segunda. O trio joga junto tanto no Istepôs quanto na seleção. Zanon se mudou para Florianópolis no ano passado para jogar em um time com mais projeção do que o de sua cidade, Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A desculpa foi fazer um estágio na Ilha. Dos três é o que está há mais tempo no esporte – começou há sete anos, sem equipamentos, na brincadeira.
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Mas quem tem mais tempo de seleção é o hoje capitão Gerson, que joga há cinco anos no Istepôs, onde começou, e quatro no Brasil Onças.
Os gigantes do T-Rex
O T-Rex ainda se chamava Timbó Rhinos quando Laércio Anacleto, 26 anos, e Breno Takahashi, 29, começaram a participar dos jogos do time da cidade com pouco mais de 40 mil habitantes no Vale do Itajaí. Anacleto vem de uma história dedicada ao judô, só descobriu o futebol americano em 2007, mas na segunda partida já se tornou capitão da equipe e especialista no esporte.
Ele já representou a seleção brasileira contra o Panamá em janeiro deste ano e depois de ser escalado para o Mundial pelas redes sociais conseguiu arrecadar – com a ajuda de patrocinadores – os custos da viagem para os EUA.
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Já o gigante tight end Breno Takahashi veio do mundo do basquete, esporte que começou aos 13 anos, direto para o futebol americano. O tamanho, o peso – Breno tem 1,90m e 112kg – e a habilidade com os pés e mãos ajudaram o atual vice-presidente do T-Rex na hora de optar pelo esporte que o irmão, Bruno, havia começado em Timbó.
No time desde 2011 e ao lado de Anacleto, eles são vice-campeões nacionais e atuais campeões catarinenses no esporte. Breno foi convocado para seleção após uma lesão de outro atleta e até semana passada não tinha certeza de sua participação no Mundial. Sem visto americano, ele só conseguiu a confirmação da viagem na última quarta-feira, quando então foi atrás de patrocínio para as passagens de avião. Os dois estão no melhor momento da carreira e esperam ansiosos a primeira disputa contra França, oponente considerado por eles o mais forte da competição.