É quase esporte radical. Marcado pelas pancadas entre as rodas e o som metálico que as batidas produzem, muitos jogadores não conseguem se manter nas cadeira por muito tempo, já que a regra permite derrubar o oponente. Volta e meia, o mecânico do time tem que entrar em campo e fazer algum reparo. É nesse ambiente que o Brasil terá primeira chance de disputar uma Paralimpíada na modalidade rugby em cadeira de rodas. E para tentar o ouro em casa, o País conta com dois atletas catarinenses entre os 12 convocados: o josefense Rafael Hoffmann e José Raul Schoeller Guenther, o Zé Raul, de Palhoça.

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A dupla começou nas quadras da Unisul, no time Omda (Organização para o Movimento e o Desporto Adaptado). A equipe foi formada em 2008, mas durou pouco tempo. Com o fim, os atletas foram para outros times. O Rafael para o Gladiadores Curitiba Quad Rugby, e o Zé Raul para o Gigantes, em Campinas (SP).

Hoje com bronzes no peito pelos jogos Pan-Americanos de 2011 (Colômbia) e 2013 (EUA), nenhum dos dois era profissional antes de perderem o movimento das pernas. Raul tinha 16 anos quando sofreu um acidente de carro numa viagem para Araranguá. Durante a recuperação, assistiu um documentário sobre o rugby em cadeira de rodas, “Murderball – Paixão e Glória“, e o filme transformou a vida dele.

— Desde então eu tenho um brasileiro (2013), uma Copa Caixa (2015) e dois prêmios de melhor atleta (2011 e 2016). Com a Seleção, já viajei para o México, Colômbia, Estados Unidos, Polônia, República Checa — lista o catarinense.

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Zé Raul está com 25 anos e mora no bairro Bela Vista, na Palhoça, e estuda direito na Unisul. Recebe bolsa atleta nacional e três vezes por ano viaja a Campinas para treinar com os Gigantes.

— São sete anos de treinamento se preparando para isso, e agora está chegando a hora. Mas não dá pra ter uma noção dos resultados porque é nossa primeira Paralimpíada — pondera Zé Raul.

A equipe brasileira está concentrada desde domingo (21) em um centro de treinamentos na capital paulista. Ficarão lá até o dia 4.

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Paraplégico após mergulho

Já o colega de Seleção e conterrâneo Rafael Hoffmann deixou Santa Catarina. Natural de Ituporanga, no Vale do Itajaí, mas criado em São José, há três anos mora no Paraná, onde integra a equipe Gladiadores, time que conta com outros convocados às Paralimpíadas.

— Em dezembro de 2007, fui dar um mergulho na Guarda do Embaú e bati com a cabeça em um banco de areia e fraturei duas vértebras da coluna cervical. Depois disso, encontrei um amigo no shopping e ele me convidou para conhecer o rugby. Comecei a treinar e ir para as competições. Em 2009 foi a primeira convocação para a Seleção, onde e estamos aí até hoje — lembra o atleta.

Antes do acidente, Rafael trabalhava no ramo de venda de alimentos. Atualmente é aposentado pela empresa onde estava e recebe duas bolsas-atleta, uma do Ministério do Esporte e outra do governo do Paraná.

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— A gente vai enfrentar os sete melhores países do mundo. Como somos 19º no ranking, precisamos vencer para nos mantermos. Primeiro temos que alcançar essa meta, para depois pensarmos em medalhas — projeta Rafael.

Calendário da primeira fase do Brasil

Quarta-feira, 14 de Setembro | 19h15 Canadá x Brasil

Quinta-feira, 15 de Setembro | 19h15 Austrália x Brasil

Sexta-feira, 16 de Setembro | 14h15 Brasil x Grã Bretanha

História

O rugby em cadeira de rodas nasceu na década de 1970 no Canadá e foi desenvolvido por atletas tetraplégicos. A estreia oficial nas Olimpíadas foi em Sydney-2000. Desde lá, apenas Nova Zelândia, Austrália, Estados Unidos e Canadá medalharam.

Assim como no convencional, a modalidade para cadeirantes tem muito contato físico. São quatro atletas por equipe, mais oito reservas cada. Os jogos têm 4 períodos de 8 minutos, e o objetivo passar da linha do gol com as duas rodas da cadeira e a bola nas mãos. Por jogo, são marcados cerca de 100 gols.

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