Quando é hora de pensar em um roteiro de verão, Joinville está longe dos destinos mais procurados da região Norte de Santa Catarina, que privilegia as praias e balneários. Mas a cidade, mais lembrada como um centro urbano, é muito mais do que um pólo industrial: seus 1.131 km² de área conservam restaurantes à beira do mar, parques em áreas de preservação ambiental e rios próprios para banho em meio à uma zona rural cada vez mais preparada para receber os visitantes. São opções de passeio que podem ser feitos sem percorrer grandes distâncias em rodovias e que podem até mesmo ser combinados em um mesmo dia.

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Para começar, um bom jeito de descobrir como Joinville é grande e todo o potencial de locais para conhecer que a cidade tem é subir no Mirante, no Morro da Boa Vista. De lá, é possível enxergar a serra e o mar, característica rara que Joinville tem em relação a outras cidades brasileiras. De um lado, há fortes fragmentos da cultura colonizadora do município, com descendentes de povos germânicos que instalaram-se aos pés da Serra Dona Francisca. Do outro, há antigas colônias de pescadores, boas parte delas montadas sobre locais onde, há milênios, passaram os povos sambaquianos. Em comum, eles tem uma ótima qualidade: são locais onde há vento mesmo nos dias de maior calor.

Mirante

Os 250 metros de altitude do Morro da Boa Vista, a maior área verde dentro da zona urbana de Joinville, já eram considerados um local de visitação e contemplação da vista da cidade muito antes da construção do primeiro mirante, em 1980. Fotos datadas do início do século 20 já mostravam famílias fazendo piqueniques em meio à Floresta Atlântica Ombrófila Densa do morro que, depois da construção do primeiro mirante, virou um dos principais pontos turísticos da cidade.

Mas nada se compara ao movimento iniciado depois que o mirante e o acesso foram revitalizados — a reabertura ocorreu em março de 2016 —, que levou o local a se tornar muito mais do que um local de passeio. Diariamente, centenas de joinvilenses usam os 2.250 metros de subida do acesso ao local como academia ao ar livre, que tem como recompensa a vista da cidade inteira.

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A joinvilense Mara de Souza, 52 anos, costumava ser uma das usuárias do morro como local de ginástica. Recentemente, se mudou para Curitibanos e, nesta semana, aproveitando que visitava a família, queimou calorias com o trajeto.

— Compensa subir por esse ar de natureza. Além disso, sinto muita paz quando chego aqui — afirma ele.

Passeio de família

Não é necessário, no entanto, fazer esforço para ter esta experiência. Há uma linha de ônibus do transporte coletivo da cidade que sobe o morro todos os dias (exceto em dias de chuva, por segurança). Durante a semana, a linha circula a cada 40 minutos e aos sábados, domingos e feriados, a cada 20 minutos.

Na primeira vez em que subiu até o mirante, em novembro do ano passado, Noeli Auler, 53 anos, levava alunos do 8º ano do Ensino Fundamental e do 2º ano do Ensino Médio. Empolgados, subiram a pé, sem se importar nem mesmo com o último trecho do acesso, em que a inclinação chega a 10 graus, enquanto a professora de biologia aproveitava o passeio para ensinar sobre a fauna e a flora do local.

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Nesta semana, quando recebeu a irmã, Marlene, 61 anos, que veio de Chapecó, refletiu com a filha, Eduarda, onde levar a visita. O Mirante foi a primeira opção de roteiro. Elas aproveitaram a viagem de ônibus até o topo e foram direto à estrutura principal, do ponto de observação de 14 metros de altura. De lá, a possibilidade de observação da cidade é de 360º.

Para a jovem de 20 anos, que ainda não conhecia o local por fobia de altura, foi uma prova para o coração. Mesmo assim, o ponto turístico foi aprovado.

— É tudo muito bonito, vale a pena — afirmou ela.

Depois, Noeli, Marlene e Eduarda foram à trilha suspensa: as plataformas circundam o morro e permitem um passeio em meio à floresta. Às vezes, é possível passar perto de saguis e, principalmente, observar pássaros. A trilha termina em uma janela de contemplação que também funciona como mirante, mas virado apenas para a região central e a área Norte da cidade.

O QUÊ: Mirante de Joinville

QUANDO: todos os dias, até as 22 horas (depois, a estrutura fica fechada). As linhas de ônibus saem do Terminal Central das 7h50 às 19 horas.

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ONDE: O acesso é feito pela rua Saguaçu, no bairro Saguaçu. O ponto de ônibus fica ao lado da guarita de entrada,

QUANDO: Não há cobrança para acesso ao Mirante. Para fazer o trajeto de subida de ônibus, a passagem comprada antecipadamente custa R$ 4,40 e embarcada (paga ao motorista) é R$ 4,80.

Estrada Bonita

Aberta em 1885, quando imigrantes poloneses, os irmãos Kersten, chegaram ao limite entre Joinville e Garuva para instalação da rede de telégrafo, a Estrada Bonita é uma via de cinco quilômetros onde preserva-se o clima de cidade “de antigamente”. Apesar de, atualmente, haver construções mais recentes, de casas com arquitetura contemporânea, boa parte das propriedades têm grandes quintais, quando não são verdadeiras chácaras com direito a pórtico na entrada.

Em muitas destas propriedades, é possível entrar e adquirir produtos coloniais, ou consumi-los no local, ou até viver experiências diferentes. No trajeto, há o Museu Rural de Ango Kersten, que preserva objetos antigos dos primeiros moradores da Estrada Bonita. Ango também oferece passeio de trator e vende produtos coloniais — entre eles, o melado feito em casa com a receita que passou por gerações. No mesmo terreno, recentemente, a filha dele abriu o Café Alles Blau, que oferece buffet de café colonial com produtos típicos da região aos fins de semana.

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Também há restaurantes de comida alemã, como o Grün Wald, o Tia Martha e o Estrada Bonita, e recantos como o Diamante e o Gehrmann, que além de restaurantes também funcionam como local de lazer.

Rios

Assim como em vários pontos da zona rural de Joinville, a Estrada Bonita possui acessos fáceis a rios. No verão, são locais garantidos para fugir do calor que leva a cidade a registrar índices de sensação térmica acima dos 40º C. Foi lá que Kauê Kiatkawski Unger, 12 anos, passou um dia das férias escolares, mergulhando ao lado da irmã e da prima e pescando peixinhos.

Cuidadosamente, o pré-adolescente retirava os peixes da rede para guardá-los, com a intenção de levá-los para seu aquário em casa.

— Trago meus filhos para tomar banho de rio desde que eram pequenos. Acho mais seguro do que ir para a praia, e mais tranquilo também — conta a mãe, Graziela Unger.

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Saiba como chegar:

A Estrada Bonita fica no km 5, na BR-101, no distrito de Pirabeiraba, em Joinville. Para quem sai de Joinville, no sentido Norte da rodovia, é necessário pegar a saída 21, passar pelo viaduto e virar à direita. A entrada fica a 300 metros, à esquerda.

Espinheiros

Até os anos 1950, o bairro Espinheiros era uma ilha de Joinville habitada apenas por pescadores que usavam canoas para chegar ao Mercado Municipal e vender seus pescados. Foi só naquela década que uma ponte foi construída para unir a localidade à cidade, e apenas nos anos 1990 que foi alçado à categoria de bairro. Nas últimas duas décadas — e, em especial, nos últimos cinco anos — o setor gastronômico se desenvolveu na rua Baltazar Buschle e suas laterais, no trecho mais perto do braço de mar da Baía da Babitonga.

Com isso, os olhos dos moradores se voltaram para o bairro e a ideia de criar uma via gastronômica na região foi fortalecida, assim como o potencial turístico do lugar. Em 2014, foi inaugurado o Parque Porta do Mar, com uma nova estrutura de trapiche e local de observação da Baía da Babitonga. À noite, ele vira ponto de pesca “por lazer” dos joinvilenses.

Brisa do mar

Carioca, a dona de casa Vanessa Rabello, 36 anos, mudou para Joinville há pouco tempo, depois que o marido conquistou um emprego em uma grande empresa da zona Leste da cidade. Ela bem que queria morar no bairro Espinheiros, mas a família escolheu uma casa no bairro vizinho Comasa.

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Mesmo assim, Vanessa aproveita as horas de folga para pedalar à beira da Baía da Babitonga. Não chega a matar a saudade das praias do Rio de Janeiro, mas garante o ventinho do mar tão bem vindo nesta época do ano.

— Eu gosto de parar aqui, escutar música, olhar a vista. É um momento que me faz bem — conta ela.

Os gaúchos Terezinha e Gilmar Rodrigues, de Ibirubá (RS), estavam aproveitando a brisa do mar com a tranquilidade de quem já se sentiam em casa. Eles vieram a Joinville para passar alguns dias e ajudar a filha caçula a encontrar apartamento antes das aulas na faculdade iniciarem, e aproveitaram para fazer turismo. À beira do trapiche, conversavam enquanto curtiam uma cuia de chimarrão.

— É tudo muito bonito e limpo. E as pessoas nos supreenderam, porque em outras cidades grandes que conhecemos as pessoas passam de cara fechada. Aqui, nos bairros, conversamos com várias pessoas que foram muito gentis — contou Gilmar.

Saiba como chegar:

O acesso por terra é pela rua Baltazar Buschle. Ela começa na rua Albano Schmidt, na Zona Industrial Tupy, passa pelo bairro Comasa e termina no Parque Porta do Mar.

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