Willyann, 24 anos, e Andrei Mohr, 20, trabalham em uma imobiliária. São irmãos. Léo Frederico, 26, é supervisor de vendas. Kaue da Cunha, 19, e Douglas Cirimbelli Miranda, 20, são promotores de eventos. Mas, juntos, eles são gandulas.

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E mais: são eles que vão trabalhar no clássico deste domingo no Estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis – junto com um sexto amigo que forma o time de gandulas do Figueirense -, no segundo jogo da decisão do Catarinense 2012, entre o Alvinegro e o Avaí.

Porém, a atuação do grupo estará sendo observada de perto por torcedores e árbitros durante toda a partida. Principalmente após os casos que ganharam repercussão no país inteiro, quando gandulas foram acusados de interferir no jogo em pelo menos três episódios (veja abaixo).

Mas eles juram respeitar as regras – inclusive a principal delas, que proíbe segurar a bola para atrasar o time adversário. E, claro, também confessam: até rola uma agilidade maior quando a bola é para o time da casa, mas nada que chegue a afetar diretamente no resultado do jogo.

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– A gente é mais rápido na reposição para o Figueira, mas isso não significa que ficamos segurando a bola para o adversário. Isso nem dá, o juiz está sempre de olho na gente – confessa Léo, gandula há dois anos e meio.

Tarefa mais difícil

A regra menos respeitada é, coincidentemente, a mais difícil de conseguir controlar: a comemoração de um gol. Afinal, acima de tudo, eles são torcedores. Todos sócios do clube.

Mas não adianta, a emoção sempre – sempre – toma conta. E, às vezes, não dá para controlar a empolgação. Gandula há um ano, Douglas já flagrou a si mesmo cobrando do juiz, com gestos, a demora de um jogador adversário em cobrar a lateral.

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– Ah, eu comemoro mesmo. Corro até o cercado, viro para a torcida e vibro o que posso – confessa.

A cada jogo, o grupo recebe um valor – irrisório, segundo eles – como pagamento pelo trabalho em campo. Mas eles confessam: não é por isso que estão lá.

Gandulas-celebridades

Eles já foram os mais discretos personagens em um jogo de futebol. Agora, viraram protagonistas. Responsáveis por repor a bola em campo, têm virado celebridade pelo país afora: acabaram criando contra-ataques, ensaiando jogadas de escanteio, levando técnicos à loucura. Conheça alguns casos:

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Campeonato Sergipano

::: Dia 1º de abril – O Guarany perdia por 1 a 0 contra o rival Sergipe, quando, nos últimos minutos, o gandula evitou o segundo gol dos visitantes. Ele invadiu o campo e tirou a bola em cima da linha.

Campeonato Gaúcho

::: Dia 29 de abril – O técnico do Grêmio, Luxemburgo, envolveu-se em uma briga com um gandula no 2º tempo contra o Inter, durante a reposição rápida de uma bola em escanteio cobrado por Dátolo, e acabou expulso.

Campeonato Carioca

::: Dia 29 de abril – Reposição rápida da gandula Fernanda resultou em gol do Botafogo, que acabou vencendo o jogo contra o Vasco e se classificando para a final do Carioca.

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Quem é a figura do gandula

::: O responsável por buscar as bolas que são jogadas para fora do campo em uma partida de futebol. A função surgiu depois da construção do Maracanã, no Rio, porque muitas bolas caíam no fosso e precisavam ser apanhadas por alguém.

::: O nome surgiu depois da atuação no Vasco do atacante Bernardo Gandula. Ele teria se lesionado e não chegou a ser escalado. Para ajudar o time, Gandula corria atrás da bola para devolvê-la aos companheiros e passou a buscá-la também para o adversário.

::: A cada jogo, seis gandulas entram em campo.

::: Um fica atrás de cada uma das traves. E outros quatro se dividem pela metade do campo, dois de cada lado.

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::: Existem dois outros gandulas na equipe, que ficam na reserva.

::: Cada clube catarinense tem seu grupo de gandulas: em geral, são torcedores ou interessados em atuar durante o jogo.

::: A Federação Catarinense de Futebol não permite que mulheres atuem como gandulas.

O que não pode

::: Fazer reposição alta de bola – principalmente para os jogadores do time adversário, quando a bola deve ser entregue pelo chão.

::: Segurar a bola.

::: Comemorar gol.

::: Brincar com a bola.

::: Jogar a bola, quando ainda existe outra em campo.

::: Manter contato físico com os jogadores.

::: Conversar, puxar assunto ou tirar a atenção do jogador.

::: Usar celular.

::: Usar boné.