Há 20 anos, sempre nessa época do ano, Isaias Martins se dedica a um ritual que dura 15 minutos. É o tempo que leva para deixar para trás a vida real e se transformar em Papai Noel. De sua casa simples na Rua Belo Horizonte, ele sai em um Fusca vermelho, enfeitado com lâmpadas de LED, distribuindo presentes, balas e abraços para gente igualmente simples dos bairros humildes da cidade.

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Em troca Isaias recebe gratidão e mais ânimo para continuar nessa batalha, que ele inventou para si como forma de superar a perda precoce de um dos filhos, que morreu cinco dias após ter nascido.

– Enquanto Deus me der saúde, quero continuar – declara.

Isaias, 55 anos, espera o ano todo por este momento. Primeiro reza para agradecer, depois veste o traje vermelho e só então ganha as ruas, às vezes mal o dia amanhece. Muito do que ele distribui foi doado por amigos:

– Não gosto de jogar as balas. Gosto de ir sozinho, entregando de mão em mão. Todo mundo me abraça, sinto o calor humano. Não tem como explicar.

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No começo, ele era um Papai Noel que circulava em uma lambreta, mais tarde trocada por motocicleta. Teve ainda um Fusca azul, mas achava que a cor não combinava com o personagem e então decidiu mudar para o atual.

Operador de caixa do estacionamento do Hospital Santa Isabel, Isaias terá de trabalhar em plena noite de Natal. Só vai poder estar nas ruas depois das 8h do dia 25, quando acaba o expediente. Mas encontrou uma saída: irá para o serviço do jeito que gosta de estar, vestido como Bom Velhinho.