Dos oitenta e cinco anos vividos, das viagens que fez por onze países-sede das copas do mundo, dos times em que jogou, da vida como bancário e atleta de futebol, sobrou o sonho de ainda treinar uma equipe que jogue o seu esquema, em estilo genuinamente brasileiro. Rubens Nascimento, morador de Balneário Barra do Sul e natural de Paraguaçu Paulista (SP), tem a esperança de ainda poder ver o futebol brasileiro ressurgir.
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– Depois da Copa de 1986, o futebol brasileiro saiu de campo – escreveu em seu artigo Futebol atual no mundo, para justificar a ausência dele e de sua família na Copa realizada na África do Sul.
O motivo que o impede de prestigiar os jogos nos estádios brasileiros é o mesmo.
– O esquema é europeu. Defensivo, amontoado e físico – criticou. Não importa que Curitiba, umas das cidades-sede da Copa, esteja a apenas 173 quilômetros de distância, uma viagem de carro que leva aproximadamente 2 horas.
A insistência da esposa Noemi Nascimento também não foi argumento. Rubens reluta em assistir ao futebol brasileiro “sem alegria”, de jogadores vindos de times da Europa. Quem fica na cozinha, de olho em todos os jogos na televisão, é Noemi.
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Aos 21 anos, com mais dois colegas de time – Edson e Lima – e ainda morando no Paraná, Rubens viajou para o Rio de Janeiro e assistiu ao jogo de abertura da Copa de 1950.
Para o ex-jogador, a superioridade daquele time, em relação ao de hoje, é evidente. Zizinho foi, segundo Rubens, o grande nome e só não se destacou porque o Brasil perdeu aquele Mundial.
Rubens, apesar de bancário, não era jogador de ficar no banco. Ele fazia o meio de campo. É destro, mas chutava com as duas, porque a direita “fisgava” de vez em quando. Hoje, ele usa uma bengala na mão direita, por causa da artrose e de uma contusão mal curada e sofrida em jogo. As mãos trêmulas não dizem o mesmo que sua memória: ele é capaz de contar a mesma história dezenas de vezes sem deixar de passar pelos mesmos pontos.
Ele sempre repete que “o futebol é um balé”. A beleza e a alegria, aos olhos de Rubens, precisam ressurgir. Além da influência europeia, o dinheiro entrou no futebol. Por ganharem salários tão altos, acredita que os atletas entram em campo mais sisudos. O bancário aposentado agradece sempre a Deus pelas 160 viagens que a profissão proporcionou a ele e sua esposa. Na vida, ele tem mais um desejo.
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– Só falta colocar meu esquema em prática: um estilo completamente de ataque, alegre, em que jogadores marcam o setor e a bola.
O desenho desse esquema lembra uma casa, que ele não conseguirá construir sozinho.
– Procuro alguém para me ajudar a desenterrar um tesouro e esse tesouro é um esquema que pretendo montar no futebol. Esquema objetivo, bonito e de resultados positivos – garante Rubens.