A cura de todas as doenças foi descoberta por um brasileiro, quiçá joinvilense. Não tem segredo nem patente nem grande laboratório que domine a fórmula, porque ela é de todos. O nome do remédio dos remédios? “Risada louca“. O único em que se recomenda água antes do remédio, não durante ou depois. Após o gole comprido na garrafa pet, Jean Wilson Estuarte solta as entranhas e gargalha até alcançar as outras esquinas próximas da travessa Doutor Norberto Bachman, no coração de Joinville.

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São 40 anos de vida como caçula de uma família de mais quatro irmãos, que vieram de Lages para Joinville em 1974. Quatro décadas de busca de um lugar em um mundo que o recebeu de portas fechadas. Na escola regular, não havia espaço para ele. A mãe Carmem Estuarte – porque o avô do marido era analfabeto, se não seria Stwart – que o diga. Tentou matricular o filho em várias escolas. Conseguiu que ele frequentasse a Apae por dois anos. Mas até emprego para ele é difícil de achar.

Acostumado a portas fechadas, dentro do próprio quarto Jean teve um clique. Em seu momento de “Eureca”, ele resolveu juntar o fôlego e as letras r-i-r.

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– Rir faz bem porque faz curar os problemas que a gente tem – garante ele, que compartilha a fórmula.

Primeiro vem o gole longo no bico da garrafa d’água. Depois uma leve arqueada das pernas, que já foram operadas e moldadas por botas ortopédicas quando ele ainda era criança. Vem a puxada de ar que inaugura a risada. Ela só sai de dentro do profissional das gargalhadas quando as mãos dele tocam as próprias pernas, depois que ele recita um discurso breve:

– Esta risada é a risada engraçada, é a risada louca – anuncia ele, com a velocidade lenta da própria voz, antes de encher os pulmões.

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E haja goela. Quem passa, olha. Alguns se deixam levar e afrouxam o riso. Difícil mesmo é ganhar algum trocado. Uma manhã toda passou, o sol de meio-dia chegou e só tinha R$ 2 na caixinha.

– Ele achava que ia ganhar muito dinheiro quando tiraram foto dele e colocaram na internet – comenta a mãe, que não gosta de ver o filho na rua.

– Não quero que faça isso porque ele não precisa. Sou muito econômica. Faço o possível para o meu dinheiro alcançar todas as contas. Onde comem um comem dois – conclui ela.

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Outros trabalhos

Jean até chegou a trabalhar alguns meses, mas foi encaminhado para uma psicóloga. A avaliação profissional concluiu que ele poderia continuar no mercado de trabalho caso tivesse um acompanhamento de um tutor.

A barraca de “encadernação ao vivo” e o polimento de joias com pó de pedras raspadas na hora foram outros empreendimentos de rua nas aventuras do atual homem da “risada louca”. Desde 2012 ele se apresenta rindo na rua. Foi com a mãe que ele aprendeu a cura natural do chá de umbaúba e da caroba. Carmem é quem diz que “só lamentar é ruim” e vive a cuidar do marido que hoje vive deitado em uma cama, com metade do pé levado pelo diabetes.