Um grupo de apresentação autônoma, mas com raízes cravadas no campo da esquerda política, identificado com organizações sociais e partidárias como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Via Campesina, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a Consulta Popular e o PT. Esse é o Levante Popular da Juventude, que liderou dois protestos contra o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), acusado pelo grupo de articular um “golpe” para derrubar Dilma Rousseff pela via do impeachment e herdar o comando do país.
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A primeira manifestação ocorreu em 21 de abril em frente à casa de Temer em São Paulo. Dois dias depois, no sábado, o ato foi no Palácio do Jaburu, em Brasília, residência oficial do vice-presidente, que teve seu acesso bloqueado. Na placa de identificação do local, foi colada uma faixa com a inscrição “QG do Golpe”, uma referência às reuniões que Temer tem feito no Jaburu para arquitetar seu eventual governo. Cada um dos protestos reuniu cerca de 150 pessoas.
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O Levante Popular da Juventude nasceu no Rio Grande do Sul em 2006, incentivado por movimentos como MST, Via Campesina e Consulta Popular. À época, o diagnóstico era de que a esquerda estava bem articulada no campo, mas faltava um grupo capaz de fazer política por fora dos partidos tradicionais no meio urbano. Também era parte de uma estratégia de atuar politicamente em todas as frentes: no Interior, na cidade, nos sindicatos e entre os jovens.
Inicialmente, o Levante tinha alcance regional, mas a sua nacionalização vingou em 2012, com a realização de um acampamento em Santa Cruz do Sul. Hoje, a organização está em 25 Estados do Brasil — não existe no Acre e em Roraima. Em setembro, será realizado o seu terceiro acampamento em Minas Gerais, e a expectativa é reunir 7 mil jovens, ante 1,5 mil na primeira edição, em 2012.
No impeachment de Dilma, o coletivo se colocou em defesa do governo do PT. Avalia que o processo é um golpe orquestrado por Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O grupo aliou-se à Frente Brasil Popular, criada recentemente para agregar movimentos de esquerda que se opõem ao afastamento de Dilma, e participou de vários atos.
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— Lançamos uma campanha nacional de escracho aos golpistas, os deputados que votaram a favor de um processo sem base jurídica. Fomos até a residência do Temer para denunciar publicamente quem ele é e dizer que ali funciona o QG do golpe — comenta Thiago Pará, um dos coordenadores nacionais do Levante.
Os “escrachos”, que geralmente ocorrem em frente a residências ou escritórios dos alvos, foram feitos recentemente contra os deputados Vitor Valim (PMDB-CE), Carlos Sampaio (PSDB-SP), André Moura (PSC-SE) e Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
O Levante se apresenta como autônomo. Mas líderes confirmam que o movimento tem lado.
— Temos identidade maior com os movimentos populares: MST, Consulta Popular, MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), mas mantemos boa relação com os partidos de esquerda, como PT, PC do B e PSOL, ainda que tenhamos diversas críticas à forma deles de fazer política — explica Pará.
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Se, apesar da boa relação, o Levante tem críticas aos partidos de esquerda, a recíproca também é verdadeira. Para núcleos do PT e do PC do B, o grupo se apresenta como autônomo, mas atua como “juventude partidária”. Obteve crescimento e notoriedade nos protestos de junho de 2013.