Você já deve ter visto alguma criança na rua girando um objeto colorido entre os dedos. É o brinquedo do momento que se chama hand spinner — traduzido livremente como girador de mão — ou fidget spinner — algo como girador inquieto. A peça é febre entre crianças e adolescentes, principalmente dos 10 aos 15 anos, e já foi tema de mais de 11,5 milhões de vídeos no Youtube, que ensinam como usar ou fazer em casa, além de apresentar os novos modelos da peça.
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No Brasil, a popularidade do hand spinner cresceu há cerca de um mês, quando começaram as vendas em várias lojas de brinquedos ou dispositivos eletrônicos. É o caso do Camelódromo de Florianópolis, que tem a peça exposta em quase todos os boxes.
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O preço varia de R$ 25, para um spinner básico de plástico, até R$ 80 — para um de metal — o preferido do momento, segundo o vendedor Itamar Prestes. Ele conta que vende de 15 a 20 brinquedos por dia. No auge da febre, há cerca de duas semanas, esse número chegava a 40.
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Mas a grande questão é — o que fazer com um hand spinner? Para quem olha pela primeira vez, o brinquedo parece não ter muita graça. Ele é composto, geralmente, por três hélices presas a um rolamento na parte central. A criança segura no meio e, com um impulso, faz o brinquedo a girar entre os dedos.
O spinner chega a girar por vários minutos com apenas um impulso e permite a realização de algumas manobras, como passar de uma mão para outra ou jogar para o alto e retomar o brinquedo entre os dedos, enquanto ele continua a girar. Para a criançada isso já é mais do que o suficiente, assim como outras gerações se divertiram jogando pião, rodando os livros da escola na mão, realizando manobras com os skates de dedo ou fazendo duelos de bayblades.
Mateus Rodrigues Comassetto, de nove anos, confirma essa febre ao analisar os spinners na vitrine de uma loja junto com a avó, Lenir, em busca de uma nova aquisição. Ele conta que já tem outros brinquedos do tipo, que brinca e troca com os amigos, mas agora está em busca de um “holográfico” — uma versão em metal furta-cor.
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Uso excessivo prejudica desenvolvimento
Os anúncios de venda e boatos anunciam que, além de ser divertido, o spinner tem propriedades anti-estresse, que acalmaria as crianças. Mas de acordo com a psiquiatra Deisy Porto, da Associação Catarinense de Psiquiatria (ACP), não há qualquer estudo ou evidência científica que comprove as propriedades anti-estresse ou que recomendem qualquer brinquedo na melhora de déficit de atenção, hiperatividade ou autismo.
— Virou uma febre, assim como muitos outros brinquedos. O uso indiscriminado pode até mesmo fazer mal — como levar o objeto para a sala de aula ou a ambientes em que a criança deveria estar interagindo e realizando outras atividades. Como qualquer outra brincadeira, não deve ser encarada como um tratamento, os pais sempre devem procurar tratamentos adequados, recomendados por médicos ou profissionais da saúde — explica.
Daisy recomenda ainda que os pais não permitam que o hand spinner, assim como qualquer outro brinquedo, seja usado na hora da refeição, da conversa com a família ou no momento de realizar as tarefas diárias. Além disso, não devem permitir que os filhos levem o apetrecho para a escola — ao menos no dia em que a instituição permite o uso de brinquedos — e sempre mantenham contato com os professores para saber como está o desempenho escolar da criança.
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As escolas catarinenses tem criado orientações quanto ao uso do objeto para que ele não atrapalhe na sala de aula. O Sindicato das Escolas Particulares do Estado de Santa Catarina (Sinepe-SC) acredita que todos os avanços da tecnologia, assim como os modernos brinquedos, são úteis à aprendizagem na escola, desde que orientados e com função pedagógica. Assim como os aparelhos celulares na escola, é preciso ter bom senso.
Em Florianópolis, o secretário de Educação, Maurício Fernandes Pereira, relata que não há uma orientação oficial em relação ao brinquedo, mas deve prevalecer o bom senso dos coordenadores das instituições. Caso o hand spinner seja usado no período de recreio, não há o que proibir.
Inmetro alerta para cuidados
O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) emitiu um comunicado na última semana por conta da popularidade do hand spinner entre o público infantil. O instituto alerta que, por se tratar de um brinquedo, o produto só deve ser comercializado com o selo oficial de identificação. Os responsáveis devem observar a indicação da faixa etária, o brinquedo é contraindicado para menores de seis anos e, em caso de crianças mais velhas, o uso deve estar sujeito a supervisão de um adulto.
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Em levantamento realizado, o Inmetro identificou acidentes com produto no exterior envolvendo engasgamentos por conta da ingestão de partes pequenas, especialmente dos rolamentos. No caso de modelos movidos a motor, a preocupação é maior, já que há risco de ingestão das baterias e botões.
Caso o brinquedo não tenha o selo do Inmetro, está irregular. As empresas que realizam o comércio estão sujeitas à interdição, apreensão do produto e aplicação de multas que podem chegar a até R$ 3 milhões.
Denúncias sobre o comércio do brinquedo sem o selo do Inmetro devem ser encaminhadas à ouvidoria por meio do site do Instituto. Já relatos de acidente com esse, ou com qualquer outro produto, devem ser comunicados por meio do Sistema Inmetro de Monitoramento de Acidentes de Consumo (Sinmac).
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