Nos anos 80, ser diagnosticado como soro positivo era uma sentença de morte. Apesar de, com o desenvolvimento da medicina, conviver com a doença ter se tornado mais fácil, a rotina dos pacientes ainda é marcada por restrições. A maior delas é o preconceito. Em 1º de dezembro, lembra-se o Dia Mundial de Luta contra a Aids. A reportagem foi atrás de pessoas soro positivas para entender o dia a dia delas.
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– Nestes 15 anos que descobri a doença, o que mais pesa é o olhar das pessoas. A maior dificuldade é enfrentar o preconceito que existe, mas pouco se fala do assunto _ relata Maria*.
Aos 18 anos, a vida de Maria mudou. Após emagrecer 20 quilos e perder quase todo cabelo, descobriu que havia contraído o HIV de um ex-namorado. Ela ficou um ano internada com complicações de uma doença oportunista, a pneumonia. No tempo de reabilitação, perdeu amigos. Nem o próprio pai aceitou a doença, Maria tinha seus talheres e seu lugar para sentar na casa do pai.
– Hoj,e eu tomo sete remédios por dia, porque demorei cinco anos para aceitar a doença e entender que precisava da medicação para aumentar minha imunidade _ conta Maria.
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Além dos remédios, Maria frequenta regularmente o médico e repete os exames de sangue a cada quatro meses. Os remédios antirretrovirais impedem a multiplicação do HIV e diminuem a quantidade do vírus no organismo.
– Antes do meu casamento, não me cuidava direito. Minha mãe que ia buscar minha medicação. Depois, meu marido começou a me exigir e com a gravidez, tive motivo para tomar a medicação certinha e me cuidar ainda mais _ conta.
Mudanças
Segundo a gerente de vigilância em saúde de Jaraguá do Sul, Fabiane da Silva Ananias, alguns pacientes têm reações ao medicamento, como náuseas, dores de cabeça, mal estar. Outros não sentem nada.
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– A vida não muda completamente depois que se descobre o vírus. Mas é necessário redobrar o cuidado com alimentação, realizar exercícios e tomar os remédios, pois o corpo cria resistência quando o paciente deixa de tomar e se não toma, a imunidade cai _ explica Fabiane.
Há pacientes que não precisam usar a medicação durante toda a vida, como Clarisse*, de 39 anos. Ela descobriu a doença quando foi realizar uma transfusão de sangue com 23 anos.
– Faz uns sete anos que tomo a medicação, porque minha imunidade baixou. Mas o vírus nunca chegou a se manifestar no meu corpo – afirma.
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Aceitação é um dos maiores desafios
A gerente de vigilância em saúde de Jaraguá do Sul, Fabiane da Silva Ananias, conta que os pacientes demoram para aceitar a doença. A maioria precisa de acompanhamento psicológico e participa de grupos de apoio. Mas isso não ocorreu com Antônio, de 28 anos, que descobriu a doença há um ano.
Ele perdeu oito quilos e tinha febres constantes. Ao ir ao médico, solicitou o exame de HIV. Segundo Antônio, foram dois dias sem dormir esperando o resultado do exame.
– Quando repeti o segundo exame, que é exigido, e veio a confirmação, só me restou começar o tratamento. Em dois dias tomando os remédios, me senti melhor _ lembra.
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Segundo Antônio, a única certeza que tinha é que não havia solução para a doença. A surpresa foi o aumento do colesterol. Antes sedentário, Antônio começou a realizar caminhadas diárias para buscar uma vida mais saudável.
– Tomo quatro times de remédio. Minha maior preocupação é em manter alta a imunidade do meu corpo e não ficar com outras doenças, como o colesterol – destaca.
A esperança de Antônio é na cura da AIDS. Segundo ele, um grande passo é a dose única dos medicamentos. Antônio acredita que a cura não está longe – e mantém a fé que ela será descoberta.
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*Os nomes dos personagens são fictícios para preservar suas identidades.
Campanha de conscientização
A Secretaria de Saúde de Jaraguá do Sul irá realizar campanha de conscientização do dia 1º até o dia 5 de dezembro. Todas as unidades de saúde irão passar filmes nas salas de espera, distribuir flyers e preservativos. As pessoas poderão fazer testes rápidos nas unidades de saúde durante a campanha.
No dia 1ª, ocorre a formatura de 75 profissionais da saúde/social e educação de escolas da região no Centro Universitário Católica, às 13h30. Os profissionais irão realizar oficinas de prevenção às DSTs/HIV/Aids e hepatites virais e gravidez na adolescência com alunos do 8º e 9º anos.
Números
– 35 milhões de pessoas vivem com HIV/AIDS no mundo, segundo Organização Mundial da Saúde;
– 34.546 casos de HIV/AIDS de 1985 a dezembro de 2013 em Santa Catarina, segundo a Vigilância Sanitária Estadual;
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– 33,5 novos casos por 100 mil habitantes no Estado, de acordo com Ministério da Saúde;
– Jaraguá do Sul e região mantêm um média de 92,4 novos casos por ano.
Onde procurar
– Todas as pessoas sexualmente ativas devem realizar os testes. Não há uma idade com maior percentual de contaminação.
– Hoje, qualquer pessoa pode fazer o teste gratuitamente, sem encaminhamento médico e de forma sigilosa junto ao Laboratório Municipal na Rua Jorge Czerniewicz, 800 (anexo ao Pama 1), das 7 horas às 17h30, de segunda a sexta-feira;
– O tratamento é todo custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), desde exames até a medicação.
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