“O que dá sentido à vida é aquilo que você faz”

A prisão é parte da vida de Giovanni desde 2009. Ele foi detido em flagrante quando teve um surto e tirou a vida da própria mãe. Nunca negou o crime, mas alegou em juízo que estava sob o efeito de drogas. A avó materna o visitava com frequência na cadeia, mas já faleceu. Sozinho atrás das grades, Giovanni passou a desenvolver o talento com a música e fez do violino um amigo.

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Há cerca de um mês, conseguiu comprar um violino alemão de 1880, restaurado em Curitiba. Uma relíquia de quase R$ 6 mil, conquistada com o dinheiro do trabalho na unidade. O processo de execução penal de Giovanni também revela leituras frequentes na prisão – ele já conseguiu diminuir em algumas semanas a pena de 15 anos e seis meses por meio de resumos enviados ao juízo, conforme previsto em lei.

-O que dá sentido à vida é aquilo que você faz. Isto tem me dado o sentido de não atribuir a mim uma autoimagem de uma pessoa encarcerada, de uma pessoa privada e humilhada, então estou me atribuindo uma imagem de um músico, um artista. O resgate desse valor como ser humano começou comigo a partir do momento em que ganhei um trabalho. Foi através do trabalho e, posteriormente, através da música. Essas oportunidades dão sentido à vida. Sem isso, onde a pessoa procurará dar sentido à vida? Nas antigas coisas que ela fazia – raciocina.

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Ainda que Giovanni não tenha o embasamento teórico de outros músicos, a pianista do Bolshoi, Semitha Cevallos, enxerga no aluno algo que diz ser raro no meio musical.

– Sou musicista de formação, tenho mestrado em música, faço doutorado, trabalho com altos níveis de formação em balé. Esse mundo é bem exigente, egocêntrico. Mas eu vi que, na música do Giovanni, não tinha isso – aponta.