Por trás da roupa imponente, da máscara e da capa escura do super-herói que visita o Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepon) e o Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, está Elton Guedes, de 41 anos. Há um ano e meio, ele começou a visitar hospitais como o super-herói Batman.
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— Aprendo todos os dias com as pessoas. De crianças, adultos e idosos. Cada um com seu ensinamento — conta o morador de Florianópolis sobre as ações que realiza nos hospitais.
Elton, que é barbeiro, já esteve no lugar dos pacientes que visita. Em 2020, foi diagnosticado com câncer de garganta, após uma cirurgia de remoção das amígdalas.
— Após ter feito um tratamento no Hospital Regional que não surtiu efeito para desinchar as amígdalas, eu estava no número 1.800 para a cirurgia de retirada do órgão no SUS. Um dia, percebi que minha garganta estava fechando e fui para o Hospital Celso Ramos. Lá, apareceu um anjo: uma médica otorrinolaringologista que estava em plantão de emergência, que saiu do Hospital Universitário para ver o meu caso — relembra.
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Elton conta que a médica o informou que ele teria que fazer uma cirurgia de emergência, ao contrário a garganta fecharia e ele pararia de respirar.
A angustiante espera pelo diagnóstico
— Fiz a cirurgia em uma semana. Quando retiraram as amígdalas, viram algo estranho e precisaram fazer biópsia. Eu fiquei tenso com o resultado por 30 dias. A indecisão de não saber o que virá na próxima etapa é angustiante — declara.
Após um mês de angústia, veio o resultado: Elton estava com câncer de garganta. A partir daí, foram oito meses de radioterapia no Cepon, e o hoje super-herói conta que foram momentos difíceis.
— O tratamento foi tranquilo. O Cepon tem pessoas maravilhosas que fazem de tudo pra te proporcionar leveza. O mais difícil foi ficar sem trabalhar, com contas atrasadas, passando necessidades, tendo a luz cortada, ter que dar um jeito de pagar as contas. Infelizmente, não tive apoio. Passei tudo sozinho. Minha força pra superar tudo foi meu filho — conta.
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O filho, Maicon Guedes, que fará 12 anos em agosto, na época tinha oito. Hoje, Elton diz que se sente privilegiado pela possibilidade de ver o filho crescer. No futuro, o menino almeja fazer o mesmo que o pai.
— Meu pai sempre gostou de ajudar os outros, de deixar os outros felizes e tirar um sorriso da cara das pessoas. Quando eu crescer, eu vou fazer o Batman também, representando ele — diz Maicon.
O Batman
Elton diz que acredita que passou pelo câncer para que Deus o chamasse para a causa.
— Dificuldades todos temos, mas a vida é nosso maior bem e temos que fazer algo diferente para agradecer e viver ela da melhor forma. Minha riqueza está em todos os momentos. Se eu perder a minha memória, aí perdi toda minha riqueza — afirma.
De acordo com Elton, ele frequenta os hospitais uma ou duas vezes por mês, por não possuir condições para ir mais vezes. Aficionado pelo “mundo dos heróis” desde sempre, ele escolheu ser o Batman após perceber que ele faz de tudo para salvar pessoas, mesmo sem as conhecer.
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— O Batman mostra para todos a força, a vontade de vencer, a honestidade e que o trabalho é válido e te fará bem — explica o barbeiro.
As ações variam em cada hospital. No infantil, é um momento de fazer os pacientes darem risada.
— Eu faço brincadeiras e coloco neles uma vontade de ficar bem logo, para que eles possam virar heróis — destaca.
No Cepon, o cenário já é um pouco diferente. Elton diz que tenta descobrir qual o problema dos pacientes, e espera até que eles contem um pouco da história deles.
— Depois, conto um pouco como superei o câncer e deixo neles uma vontade de querer fazer algo diferente após a cura. Alguns ficam tão emocionados que choram. O principal é descobrir o que eles amam de verdade, e falar para eles focarem nisso quando a dor vier — relata.
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Para a diretora Geral do Cepon, Dra. Mary Anne Taves, a positividade traz aos pacientes o benefício de um melhor enfrentamento dos desafios na jornada de diagnóstico e tratamento.
— A humanização e a positividade vão fazer estes pacientes se sentirem mais acolhidos, e tudo isso vai se traduzir em melhores resultados — afirma a médica.
Ajuda para as ações
— Hoje, sou apenas um barbeiro. Não tenho carro de luxo e não sou rico como o Batman. Eu vim do nada pra tentar fazer algo diferente — pontua Elton.
Elton tem o desejo de poder fazer um trabalho maior e alcançar mais pessoas que precisam, e, para ele, o ideal seria ter pessoas que patrocinam a ideia.
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—Sei que temos pessoas do bem em Florianópolis e região, que tem o mesmo propósito de agradecer pelo que tem — conclui.
Veja fotos do “Batman” em ação
*Sob supervisão de Andréa da Luz
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